segunda-feira, 26 de março de 2007

300 é o novo Alexandre. Existe uma pré-disposição para não gostar do filme? Resistência muito grande em aceitar os exageros de Snyder? Falta de paciência? Conservadorismo? Sei não, mas a cada dia que passa, e a cada opinião contrária, mais perto eu fico de gostar do filme. Estaria eu sendo frouxo e me comovendo com filmes ruins? Vai ser mesmo um massacre contra o filme? Ou o mundo crítico é mesmo impaciente e mal-humorado ou minha adolescência ouvindo metal farofa me deixou anestesiado, ou pelo menos mais tolerante com certas coisas. Eu tô me explicando pra me confundir, tô me confundindo pra me esclarecer.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Joseph Turner? Não. Uma cena de 300, delírio de Zach Snyder. Devo fazer um texto para entender o que achei, não sei onde, mas aviso aqui. Sua estética do exagero e do ridículo pode embaraçar, desapontar, maravilhar, tudo isso junto. O filme é realmente uma coleção de todos os excessos que o cinema pode comportar, numa chave próxima a de McG, ainda que com bem menos talento. É imperdível na tela grande, mesmo que seja para sair do cinema xingando.

domingo, 18 de março de 2007


O que fez a reputação do OutKast foi a mão certa para mesclar diferentes tendências da música negra dentro de um caldeirão melódico, muito bem produzido, arranjado e executado. Em uma palavra: inspiração. Nada de realmente novo, nada de vanguardista, muito pouco de originalidade, mas uma mão para forjar grandes canções que poucos mostraram. Ninguém pode negar que a banda foi um dos maiores acontecimentos da música pop dos anos 90 para cá, com discos memoráveis como ATLiens, Aquemini e Speakerboxxx/Love Below. Idlewild, este delicioso filme de Bryan Barber com os dois do OutKast, está para o cinema assim como a banda está para a música negra. Porque o filme de Barber nada tem de novo ou original. São tiques de estilo embaralhados de maneira muito hábil - claro, com alguns momentos bobocas no meio, porque ninguém é perfeito - e muitas idéias sendo jogadas quase ao mesmo tempo. Duas dessas idéias são meio estúpidas, mas de uma delas eu gosto: as chaves musicais que ficam animadas dentro da partitura de Percival (André Benjamin). A outra é estúpida e quase onipresente: o galo (rooster, em inglês) da garrafa de uísque que vira animado e conversa com Rooster (Antwan A. Patton). O filme aos poucos vai assumindo uma postura mais quadrada, mas não perde a força, pelo contrário, faz com que as idéias mais delirantes se reforcem, como quando os cucos do quarto de Percival começam a cantar com ele. O destino do galinho da garrafa pode ser considerado uma recaída da banda e do filme para o conservadorismo, mas eu vejo como uma maneira de inserir as idéias como um contrabando, para que elas continuem existindo. Afinal, uma despensa pode ser um bom esconderijo para travessuras. Um belo filme, recém lançado em DVD por covardia da Universal, pois merecia ser visto em tela grande.

sábado, 17 de março de 2007



















É uma pena que a cópia esteja capenga. Le Départ, de Jerzy Skolimowski, está longe de ser um filme perfeito. É um filme quebrado, que ora se alonga desnecessariamente, ora tem seu ritmo quebrado em um ponto problemático (e nisso ele é muito mais radical que os primeiros de Godard) - não que isso seja um problema, mas no caso de Le Départ, parece nos afastar de algo que ele pretendia. Mas nas passagens em que Skolimowski declara seu amor a Catherine Duport (que surpreendentemente, aparece pouco, mas de maneira decisiva), por meio de Jean Pierre Léaud, geralmente estamos muito próximos da obra-prima. A seqüência em que o carro separado ao meio gira, com cada um deles de um lado, é de um primor absurdo. Uma cena que fica na memória por muito tempo, e diz muito sobre sonhos, ilusões, esperanças, mas também sobre falta de interação, imaturidade, irresponsabilidade. Ao final, Léaud consegue finalmente se transformar em um homem, deixa de ser moleque. Se é que um homem deixa de ser moleque algum dia. Acho que nunca, a não ser que seu lado humano tenha sido tragado por corporações e gravatas.

quarta-feira, 14 de março de 2007

O que dizer de Cão Sem Dono, novo filme de Beto Brant, com co-direção de Renato Ciasca? Arrisco algumas palavras desordenadas. Em conversa com Daniel Turini, ele me disse que considera tanto Cão sem Dono quanto Crime Delicado filmes muito mais fortes do que O Invasor, filme alavancou a carreira de Brant como verdadeiro autor, com todas as implicações que o termo permite. Concordo plenamente. Já é hora de percebermos que o cinema de Brant atingiu, nos dois últimos filmes, um rigor, e uma intensidade que ele nunca teve. Mesmo em seu belo primeiro filme, Os Matadores, o que estava em jogo era muito menos uma procura por um meio de se dizer o que se sente do que um exercício de como se contar uma história esperta da maneira mais estilosa possível. Em Crime Delicado, e, principalmente, em Cão sem Dono, a procura é o cerne da coisa. Procura por uma maneira de demonstrar o afeto, por um significado para os afetos inexplicáveis, para as demonstrações que brotam desses afetos. Cão sem Dono é um filme propositadamente trôpego, por se assemelhar ao protagonista. Mas é também um filme que se resolve muito bem dentro de sua irregularidade. Pois essa irregularidade surge do vai-e-vem diário, das oscilações de humor que todos temos. Talvez seja o filme mais arriscado e entregue de Beto Brant. Sei não, mas suspeito que daqui a alguns dias esse filme estará ainda mais belo em minha memória.

terça-feira, 13 de março de 2007




Aconteceu ontem, no Cinesesc, a cerimônia do I Prêmio Jairo Ferreira, iniciativa de cinco revistas amigas (Paisà, Contracampo, Cinética, Cinequanon e Teorema) que premiou os melhores de 2006 nas quatro categorias abaixo.

Melhor Longa Brasileiro
Serras da Desordem, de Andrea Tonacci (foto)
Melhor Lançamento em Cinema
Amantes Constantes, de Philippe Garrel (Imovision)
Melhor Lançamento em DVD
Terra em Transe, de Glauber Rocha (Versátil)
Melhor Mostra de Audiovisual
Agnès Varda: O Movimento Perpétuo do Olhar


Tive a felicidade de ter meus votos todos confirmados pela maioria dos votantes, com duas novas obras-primas e uma antiga, que teve um primoroso lançamento em DVD. A grande nova é que o próximo do Glauber a ter lançamento semelhante, com vários extras e imagens restauradas, é A Idade da Terra.

quinta-feira, 8 de março de 2007


A Névoa, de Rupert Wainwright, é apadrinhado por John Carpenter, diretor do filme original, e dedicado a Debra Hill, falecida co-produtora dos filmes do diretor de Fuga de NY. Não quero fazer a comparação com o original, o que seria uma lavada histórica, mas salientar que a refilmagem tem coisas muito interessantes, a começar por um senso espacial que não faz feio. O que mais me chamou a atenção é a forma com que o filme se constrói para que torcemos para os fantasmas no final, no antagonismo que atravessa gerações, os filhos não devem pagar pelos pecados dos pais, mas o filme consegue nos jogar a favor dos que querem vingança, talvez para que eles saiam logo dali e possam viver em paz no outro plano espiritual. Pena que falte uma habilidade maior para construir a atmosfera de medo (que inexiste) ou simplesmente algum suspense. O filme todo transcorre numa morosidade que não lhe faz bem.

terça-feira, 6 de março de 2007


Scoop, de Woody Allen. Mais do mesmo, certamente, mas uma repetição inspirada, em muitos aspectos. A recriação do barco de Caronte, atravessando o rio Styx, e a morte carregando os recém-falecidos, por exemplo, é genial, ainda que não tenha sido novidade a introdução da mitologia grega em filmes do diretor. Mas o grande destaque vai mais uma vez para o Allen ator, sempre engraçado com sua covardia simpática e suas caras atrapalhadas; e, claro, para a exuberante e "comum" Scarlett Johansson, que prova mais uma vez ser uma das melhores atrizes de sua geração.
Também visto ontem, o decrépito Venus, de Roger Michell. É um filme que até tem seus momentos, mas no geral se afunda dentro de uma morosidade proposital, que muito diz da capacidade de Michell de se moldar conforme o tema retratado em seus filmes, mas também de sua incapacidade de fazer com que essa maleabilidade funcione a favor do filme.

domingo, 4 de março de 2007

Reavaliação de Fassbinder (a continuar):

1966 - CURTA: The City Tramp (Der Stadtstreicher) * * * *

1967 - CURTA: The Little Chaos (Das Kleine Chaos) * *

1969 – O Amor é Mais Frio Que a Morte (Liebe ist Kälter als der Tod) * * * *
O Machão (Katzelmacher) * * * *
Deuses da Peste (Götter der Pest) * * * *
Por Que Deu a Louca no Senhor R. (Warum läuft Herr R. Amok?) co-dirigido por Michael Fengler * *

1970 - Rio Das Mortes * * *
Whity * * *
A Viagem de Niklashauser (Die Niklashauser Fahrt) co-dir. por Michael Fengler * * * *
Cuidado com a Puta Sagrada (Warnung vor einer Heiligen Nutte) * * * *
O Soldado Americano (Der Amerikanische Soldat) * * *
Pioneiros em Ingolstadt (Pioniere in Ingolstadt) * * *

1971 – O Comerciante das Quatro Estações (Der Händler der vie Jahreszeiten) * * * *

1972 – As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (Die Bitteren Tränen der Petra von Kant) * * * * *
Mulher de Negócios (Bremer Freiheit) * * *

1973 - World on a Wire (Welt am Draht) mini-série de TV * * *
Martha * * * * *
O Medo Devora a Alma (Angst essen Seele auf) * * * * *

1974 - Effi Briest * * * *
O Direito do Mais Forte (Faustrecht der Freiheit) * * * * *

1975 - Mamãe Kusters Vai para o Céu (Mutter Küsters fahrt zum Himmel) * * *
O Medo do Medo (Angst vor der Angst) * * * *
Eu Só Quero que Vocês me Amem (Ich will doch nur, daß ihr mich liebt) * * *

1976 - O Assado de Satã (Satansbraten) * *
Roleta Chinesa (Chinesisches Roulette) * * * * *
Bolwieser * * *

1977 - Despair (Despair - Eine Reise ins Licht) * * * *
Alemanha no Outono (Deutschland im Herbst) com vários diretores * * *

1978 – O Casamento de Maria Braun (Die Ehe der Maria Braun) * * * *
Num Ano com Treze Luas (In einem Jahr mit 13 Monden) * * * * *

1979 – A Terceira Geração (Die Dritte Generation) * * * * *

1980 - Berlin Alexanderplatz – série de TV em 13 episódios - * * * * *
Lili Marleen * * * * *

1981 - Lola * * * *

1982 - O Desespero de Veronika Voss (Die Sehnsucht der Veronkia Voss) * * * * *
Querelle * * * *

sexta-feira, 2 de março de 2007

O site da Paisà teve mais uma atualização, com textos sobre Dreamgirls, Venus, Turistas, Piratas do Caribe 2 e alguns disquinhos.

Compareça:

www.revistapaisa.com.br