terça-feira, 6 de novembro de 2007

Sonhando Acordado (La Science des Rêves, 2006), de Michel Gondry, tem algumas imagens bem interessantes. E as falas suicidas de Bernal para Gainsbourg poderiam dar certo se todo o desencadeamento anterior do filme contribuisse para isso. Infelizmente, o filme beira o desastre, por alguma dessas ciências tão caras ao cinema, e nem sempre valorizadas. Uma série de más sucessões de imagens já colocam o filme para baixo com menos de meia hora de duração. E aí quase nada mais funciona. Não é surrealismo, como ouvi de mais de uma pessoa durante a Mostra. No surrealismo temos o absurdo, oriundo da imaginação ou de um sonho, invadindo a realidade. Em Sonhando Acordado não há realismo a priori, logo, não há surrealismo. Estamos desde o início num terreno puramente imaginário, e o pouco que o filme tem de contato com a realidade se dá como uma suspensão da ordem natural das coisas - que seria, segundo o filme, delirante. Pode até ser chamado de surrealismo às avessas. Poderia ter dado certo, mas cinema não é tão fácil de se fazer quanto parece, e se o diretor não tem noção do mundo fora dos videoclipes, fica ainda mais difícil. Em Brilho Eterno tínhamos a graça de Jim Carrey e o charme de Kate Winslet para ajudar. Aqui, nem Miou Miou salva. Nem Emma De Caunes.