sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Estava rondando post antigos à procura de algumas palavras sobre Paul Verhoeven e me deparei com esta defesa apaixonada de um dos filmes de Billy Wilder. É de agosto de 2004, muito antes de eu saber que um dia teria uma revista impressa de cinema chamada Paisà. Criei o blog como um laboratório onde seriam esboçadas idéias que seriam ou não aproveitadas em textos futuros. A intenção era praticar a escrita, para escrever mais para a Contracampo. Segue a defesa de 2004:

Testemunha de Acusação (1958) – Billy Wilder

Increditável como Wilder subverte o que deveria ser um filme de tribunal, mas acaba sendo uma ode ao romance da terceira idade. O par romântico central é na verdade o advogado que acaba de sair do coma e sua enfermeira (Charles Laughton e Elsa Lanchester), e passa o filme se maldizendo. Mas no último e genial plano, saem abraçados do tribunal. Tyrone Power, o astro, passa o filme inteiro como corno manso, e depois revela-se como o mais mau-caráter. Dietrich (que não gostou de trabalhar com Wilder) começa como a sacana e termina como a passional injustiçada. Wilder subverteu até o whodonit habitual de Agatha Christie. Criou contra planos que renegam, ao mesmo tempo em que fingem enaltecer, o engenhoso estilo da escritora. Exemplo máximo nas cenas entre os advogados no escritório, todos vulneráveis (principalmente Laughton) à inspeção mental da câmera. Wilder se apega aos detalhes, mas separa-os da caracterização positiva que Agatha Christie usualmente fazia do personagem, para alçá-los como excentricidade pura e simples, sem que isso queira dizer habilidade de raciocínio (como o Laughton brincando com as pílulas). É o jogar xadrez como exercício para melhor jogar xadrez. E o que é aquele plano com a estátua da justiça em obras? Parece ter sido um delicioso acaso. Havia o perigo de tornar desinteressantes as cenas em que Laughton não estivessem, mas isso não aconteceu. A maestria de Wilder (que tinha uma enorme noção de enquadramento e de onde colocar a câmera, ao contrário do que muita gente pensa) consiste também no corte no momento certo. Ele dita o ritmo perfeitamente. E a decupagem alcança o sublime nas cenas do tribunal. Principalmente quando a câmera focaliza a enfermeira, ou quando está atrás do juiz, ou atrás da testemunha da vez. É aí que fica claro do que o filme trata. Poucas vezes um amor que que tem medo de aflorar, apesar das evidências, foi tão bem captado por uma câmera.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Não foi só pela expectativa baixa, mas Antes Só do Que Mal Casado, de Peter e Bobby Farrelly, é bem melhor do que andaram dizendo por aí. É inegável o domínio de cena deles, do uso do espaço, e eles tão filmando em scope de maneira exemplar. Não que fique uma coisa muito atirada: "oh, vamos jogar com as possibilidades do formato". Eles simplesmente preenchem esse espaço, sem muito alarde. O filme tem uns tempos bem esquisitos, e daí deriva uma impressão que eles não sabiam muito o que queriam, que é falsa. Pode ser até um filme tortuoso, com alguns momentos em que parece apenas bater ponto - quase todos os que Stiller tenta algum diálogo com a esposa, depois de já ter se apaixonado pela sulista graciosa - , e outros francamente repulsivos (carne e líquidos saindo do nariz da esposa, bolhas explodindo em seu braço...). Mas é um belo filme tortuoso, com um Stiller inspirado - e sua eventual piada hispânica, contrabandeada da frat pack. E o final, pelo amor dos meus filhinhos, é espetacular. É de cortar o coração, e aponta para uma transgressão do próprio cinema deles, e em especial de Amor em Jogo.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Profissão: Mulher (1982), de Claudio Cunha, pretende investigar esse ser estranho e complexo, fascinante e misterioso na mesma medida. Termina fazendo uma categorização de arquétipos femininos que se dão mal com homens. Não sei se o tiro não saiu pela culatra. De qualquer forma, é um filme bem digno, apesar de estar longe da transgressão de Amada Amante ou de Snuff - Vítimas do Prazer. A cena em que Patrícia Scalvi depila a perna da Simone Carvalho, numa banheira, é de uma beleza incrível, e é inesquecível para nós, homens.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007



Que grande filme é Zoo, de Robinson Devor. Grande pela maneira como cerca o relato, circularmente, e como se coloca aos poucos, sempre junto das descobertas da zoofilia, que virou crime no estado de Washington - capital, Seattle, após um caso de morte de um dos seus praticantes. Altamente recomendado.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

- Nova atualização do site da Paisà. Confiram em http://www.revistapaisa.com.br/

Tópicos ensandecidos em ordem crescente. Ou, como a umidade de Manaus queima neurônios.

- Os filmes aqui em Manaus estão surpreendendo. Subestimei a Marion Hansel - e seu filme Si le Vent Soulève les Sables - durante a mostra, mesmo gostando de dois filmes anteriores dela: Entre o Céu e o Mar Azul Profundo e A Pedreira. Não dava nada por um filme australiano que até agora é meu preferido do evento: Lucky Miles. E ainda deixei para rever a obra-prima Cão Sem Dono na mostra de filmes brasileiros que o Cinesesc sempre faz em dezembro porque a cadeira do belíssimo teatro Amazonas dá dor no traseiro (mas de tão dura impede que a gente durma, o que não deixa de ser uma vantagem). Até o Jean-Jacques Annaud me surpreendeu com um filme que, se está longe de ser bom, também não pode ser acusado de ruim. E nem é daqueles que ficam no meio, e são insuportáveis.

- Ontem, numa festa na praia do Rio Negro - a 50 quilometros ao norte de Manaus, uma imagem inesquecível: a belíssima atriz italiana Caterina Murino dançando ao som de Novos Baianos. Para se olhar à distância, como um voyeur, como um cinéfilo. Ela não deve ser de carne e osso mesmo. É miragem causada pelo calor e pela umidade. O rambo do Amazonas dançando com a chinesa maluca também foi inesquecível, pelo que teve de cômico. Na seara da disputa folclórica que rola aqui, entre os bois Caprichoso e Garantido, fico com o segundo, pela graciosidade de sua sinhazinha - e sua heróica apresentação debaixo de um vestido armado e gigantesco.

- Hoje, descobri que Cajá é Taperebá em Manaus (tinha escrito Tapebaré, mas um amigo aqui da sala de imprensa me corrigiu). O sorvete disso é inesquecível. Numa combinação com o de tangerina, fica algo de outro mundo. Espero que não derreta no frigobar do hotel. E a pizza daqui é incrívelmente boa. Os amigos cariocas iriam continuar dizendo que a deles é melhor, e o médico deles pediu pra não contrariar.

- Estou pensando em retirar os comments deste blog. É que para mudar para o template que mais me agradou, eu teria que abdicar do Haloscan, o que me deu a idéia de não entrar para o sistema de comentários do blogger (que não me agrada muito). Devo perder alguns leitores, mas há uns três meses (quando tentei mudar o template) penso que eles são supérfluos. Divertidos, e tudo mais, mas não acrescentam muito (e não estou falando de ninguém em especial, os meus também são assim). Continuar a ler comments que não acrescentam muito a um post como este, que também não acrescenta muito (eu diria até que não acrescente nada), é algo que só faz perder tempo de leituras mais interessantes. as leituras de blog tomariam menos tempo sem essa febre de comentários para marcar presença (mais uma vez, também faço isso, e isso é algo que já penso há um tempo, não tem nada a ver com os últimos comments, mesmo porque são de um ídolo meu - simultaneamente a um enfado com este blog, uma vontade de não mais ter um blog). Perdi um amor há três meses, por que não perder comments deste blog? Sei lá, quem encontrar um sentido em tudo isto (e eu digo ISTO), é um herói.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Os filmes que vi de John Boorman (convidado do 4º Amazonas Film Festival), e subestimado - às vezes por mim mesmo:

À Queima Roupa (1967) * * * *
Inferno no Pacífico (1968) * * *
Amargo Pesadelo (1972) * * *
Zardoz (1973) * *
O Exorcista II - O Herege (1977) * * *
Excalibur (1981) * * *
Floresta de Esmeraldas (1985) *
Esperança e Glória (1987) * * *
Onde Está o Coração (1990) * * *
O General (1998) * * *

não vi, mas tenho em casa, para ver assim que puder:

O Alfaiate do Panamá
Em Minha Terra

vou rever durante a semana, em película:

Floresta de Esmeraldas

(mas queria rever outros tantos)

sexta-feira, 9 de novembro de 2007


O pessoal da Daylight pediu pra avisar que, diferentemente do que eu havia falado num comment anterior, Sympathy for the Devil (foto), de Jean-Luc Godard, será lançado em cinema. É ou não é uma boa notícia?

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Outro aviso: a partir de amanhã estarei em Manaus, cobrindo o 4º Amazonas Film Festival. Não sei com que freqüência vou acessar a internet, mas espero que consiga fazer um post por dia no blog de festivais da Paisà.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Sonhando Acordado (La Science des Rêves, 2006), de Michel Gondry, tem algumas imagens bem interessantes. E as falas suicidas de Bernal para Gainsbourg poderiam dar certo se todo o desencadeamento anterior do filme contribuisse para isso. Infelizmente, o filme beira o desastre, por alguma dessas ciências tão caras ao cinema, e nem sempre valorizadas. Uma série de más sucessões de imagens já colocam o filme para baixo com menos de meia hora de duração. E aí quase nada mais funciona. Não é surrealismo, como ouvi de mais de uma pessoa durante a Mostra. No surrealismo temos o absurdo, oriundo da imaginação ou de um sonho, invadindo a realidade. Em Sonhando Acordado não há realismo a priori, logo, não há surrealismo. Estamos desde o início num terreno puramente imaginário, e o pouco que o filme tem de contato com a realidade se dá como uma suspensão da ordem natural das coisas - que seria, segundo o filme, delirante. Pode até ser chamado de surrealismo às avessas. Poderia ter dado certo, mas cinema não é tão fácil de se fazer quanto parece, e se o diretor não tem noção do mundo fora dos videoclipes, fica ainda mais difícil. Em Brilho Eterno tínhamos a graça de Jim Carrey e o charme de Kate Winslet para ajudar. Aqui, nem Miou Miou salva. Nem Emma De Caunes.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

domingo, 4 de novembro de 2007


Blog um tanto abandonado por culpa da Mostra.




Infelizmente, queimaram o belo filme de João Canijo: Mal Nascida (foto) foi exibido apenas duas vezes, no dia 1/11 às 12:40 no HSBC Belas Artes e hoje às 13H no Cinesesc. Vi as duas vezes, sala vazia. Uma pena.


Outro deslize foi com Abel Ferrara. Go Go Tales só passou em sessões que terminariam bem depois da meia noite, dificultando a vida de quem não tem carro. A boa notícia é que o filme está comprado.


E finalmente consegui ver Paranoid Park, que está entre as melhores coisas que Gus Van Sant fez. Só perde para Elefante.