quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Na impossibilidade de ver todos os filmes produzidos no Brasil, um crítico deve ver o que der, certo? Se uma retrospectiva como a do Cinesesc propicia a chance de ver o que se perdeu durante o corre corre do circuito, temos que aproveitar essa chance, certo? Pois é, acontece que dos três filmes que eu vi na retrospectiva até agora, o melhor pode ser considerado razoável com muito custo. Sim, porque Morro da Conceição, de Cristiana Grumbach, assistente de Coutinho, repete fórmula (entrevistas cavocadoras de histórias) e câmera (Jacques Cheuiche) de Edifício Master, mas parece que alguma coisa meio inexplicável esteve ausente durante a projeção. Seria Coutinho, com seu dom natural para arrancar as mais desinibidas confissões? Seria um ritmo mais claramente episódico, sem os irritantes planos fixos de ruelas e ladeiras (simpáticas, mas um tanto cansativas)? Acho que o que faltou mesmo foi uma amarra mais convincente para o recorte do filme. Ainda assim, dá pra ver. O que não se pode dizer de Intervalo Clandestino, decepcionante documentário invasivo de Eryk Rocha. Por que invasivo? Porque ele simula uma invasão de um programa apartidário, mas claramente cutucador, e por isso podendo ser considerado de oposição, no espaço de propaganda política da TV. Como é clandestino, o som falha, a captação de imagens por vezes é sofrível, mas, francamente, precisava abusar dos zooms sem sentido? Se o entrevistado era uma mulher com problemas dentários, taca zoom em sua boca, se era um senhor com sobrancelhas grossas e de fios rebeldes, soca sobrancelha na tela inteira. Essa falta de tato irrita, por mais que a intenção fosse dar uma cara mais amadorística à intervenção. Nada amadorística, entretanto, são as abstrações inseridas durante o filme. Algo que Carlos Adriano ou Joel Pizzini já fizeram muito melhor, e a que Rocha parece dar um valor excessivo, tirando bastante a cara de clandestinidade da coisa, pois o que cheira a experimentalismo, tem muito mais a ver com uma certa concepção fechada de obra, contrastando com o aspecto "ver no que dá" do restante do filme. Pior ainda é Gatão de Meia Idade, de Antonio Carlos da Fontoura. O que aconteceu a esse diretor? Se a intenção é fazer cinema comercial, que se faça decentemente, que se conheça um mínimo da linguagem cinematográfica. Sei que Fontoura a conhece, mas a sucessão de cenas e planos constrangedores parece dizer que não (flashback das ex-namoradas, cenas com a ninfeta e a amiga, as crises do gatão, o overacting de Alexandre Borges). De um cara que já fez Copacabana Me Engana e Rainha Diaba se espera muito mais.