A Carruagem de Ouro (1953), de Jean Renoir. E eu só o tinha visto na antiga Sala Cinemateca, versão francesa sem legendas, no começo dos anos 90, quando meu francês era ainda pior do que é hoje. É um dos melhores filmes já feitos, pai de O Sapato de Cetim e Mélo. É provavelmente o melhor filme a contar com Anna Magnani, e poderia encerrar qualquer discussão sobre as diferenças entre teatro e cinema. Porque em A Carruagem de Ouro, o cinema nasce do teatro, claramente, por trás das cortinas vermelhas. Melhor seria dizer que o cinema penetra onde o teatro não pode. O cinema revela a reação daquele que escuta, que recebe o olhar. Revela também os caminhos por onde se fazem as intrigas, e por onde elas são combatidas. Os flertes, os amantes escondidos, os pretendentes revoltados, os duelistas, o serviçal do rei... E a pergunta da personagem de Magnani, uma comediante dell'arte, ressoa até muito além do final do filme: "onde acaba o teatro e começa a vida?" Talvez seja a pergunta que nós, cinéfilos, tenhamos que fazer sempre, obviamente com a substituição de uma arte pela outra.
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