sábado, 18 de agosto de 2007


Parafraseando Ailton Monteiro, sempre achei que os filmes de Daniel Filho fossem melhores que o trailer. Até o penúltimo, isso acontecia com todos. Mas eu esperava sempre uma tremenda bomba e vinha uma bomba modesta, um miquinho dourado. Ou esperava um filme fraco e vinha um filme mediano (caso de Se Eu Fosse Você). No caso de O Primo Basílio, eu sinceramente esperava pelo pior filme nacional dos últimos tempos, e como já sabia que iria ver de qualquer jeito, esperava passar duas horas lastimáveis dentro do cinema, por teimosia ou masoquismo mesmo.

Mas eu estava errado. O filme não chega a ser bom. Tem uma necessidade muito grande de justificar o comportamento da empregada, para depois fazer com que ela seja uma diaba, enquanto a Falabella maltratava ela e a outra criada e depois fica realmente sentida por ter mandado uma delas embora. Além de um didatismo exagerado para mostrar a época e o comportamento de alguns personagens, como a de Simone Spoladore.

A decupagem, em alguns momentos, me pareceu um desastre, e isso fica sensível em todo o miolo do filme, desde o primeiro encontro no Paraíso até a volta do marido Gianecchini - que por sinal, está falando igual ao mecânico da novela passada (ou retrasada, não lembro mais). Também não lembrava nada do livro, lido nos tempos do ginásio, há mais de vinte anos, e por isso não tenho a menor condição de saber o quanto da caracterização pesada da Falabella ou de outras coisas grotescas da trama vêm de Eça de Queirós ou de Daniel Filho.

As cenas de sexo no Paraíso são meio pseudo-estilizadas, mas estão de acordo com a linguagem visual do filme e a recriação canhestra, o que me pareceu proposital, da São Paulo de 1958. E a primeira cena de sexo entre Falabella e Fábio Assunção é surpreendentemente muito boa. Como também é boa a idéia visual da carta que revela o adultério para o Gianecchini, com as palavras se fundindo à sua cara de corno.

Vendo o filme me lembrei da clássica explicação para o sucesso das pornochanchadas dos anos 70, de que o público queria ver as artistas da novela das oito nuas no cinema. Hoje em dia, creio que esse tipo de apelo não funcione mais tanto. Talvez haja uma estranheza maior com o fato de que a mulher do Antenor na novela da vez é agora uma empregada envelhecida e malvada, e o bonzinho bobo que não tem nada de humano é um cara nojento e individualista, o Basílio que mostra que Assunção se sai muito melhor fazendo o papel de mau caráter do que o de guardião do politicamente correto. Deu saudades do Renato Mendes.

Noves fora, Primo Basílio é o melhor filme de Daniel Filho.