quarta-feira, 11 de outubro de 2006

A moça da foto é Anne Hathaway, que brilha em O Diabo Veste Prada. Meryl Streep também brilha, como sempre. Então por que o filme é ruim? Porque o diretor, David Frankel, não sabe nem filmar uma cidade de fotogenia implacável como Paris. Porque as situações são construídas de modo a cercar o personagem de Anne, para que ela fique sem saída e se sinta uma traidora dos próprios princípios - e nesse sentido o tratamento dispensado pelo namorado e pelas amigas é deprimente, nada amigável e muito egoísta. Não sei se essas situações já estavam no livro, mas mesmo se já estivessem, deveriam ser melhor trabalhadas no filme, deveriam ser percebidas como falhas pelo diretor e pela roteirista. Porque as entrelinhas iniciais, muito interessantes - Meryl Streep, a diaba, atriz que faz sombra as demais, sendo recebida com temor pelas assistentes (coadjuvantes), que não possuiam o mesmo brilho diante dos holofotes (câmeras) - é abandonada logo nos primeiros minutos. Enfim, um filme sonso e covarde, que nem mesmo dá conta da crueldade que se insinua por detrás dos esqueletos de passarela e das editorias de moda.

Ah, o texto de Alcino Leite Neto é bom, a despeito do péssimo hábito atual da Ilustrada de pautar o editor de moda para escrever sobre um filme que retrata esse universo, ou o editor de esportes para um filme que fala de futebol, e assim por diante. pelo menos o Alcino já escreveu muito sobre cinema, e sabe do assunto.

Depois foi a vez da nova redefinição do conceito de ruindade: Muito Gelo e Dois Dedos D'Água, de Daniel Filho. Ele dava sinais de que estava melhorando, mas se A Partilha é nulo, A Dona da História é só ruim e Se Eu Fosse Você é meia-boca, este novo é constrangedor sob qualquer aspecto. Até as cenas que poderiam salvar o filme, como a do beijo no telhado, é destruída pelos cortes sem a menor noção de tempo. Uma antologia de planos infelizes como há muito tempo eu não via.