Le Petit Amour (aka Kung-Fu Master) talvez seja o melhor filme de Agnès Varda. É incrível como quase sempre em seu cinema ela consegue afastar qualquer possibilidade de abstração ou despolitização e abraçar, talvez por isso mesmo, o mundo de sua época. Estamos em 1987, e as campanhas preventivas da AIDS estavam no auge. Nesse interim, Jane Birkin, bela como sempre, se apaixona pelo garoto de 14 anos vivido por Mathieu Demy (filho de Varda com Demy, ou ando meio desligado?). Uma das filhas de Jane é sua filha também na vida real: Charlotte Gainsbourg. A outra é filha de Jacques Doillon, Lou, que vemos aqui ainda pequenina. A presença da neura da época faz de certas seqüências do filme algo datado, mas a mão sutil da diretora consegue alguns momentos raros. O filme começa com tom melancólico, mas Varda inverte a situação com um pós-créditos inesquecível e muito engraçado, para depois voltar ao tom que imprime durante a maior parte do filme. Em especial dá pra notar a suavidade de sua mise-en-scène, e a decupagem precisa e cadenciada. São 78 minutos de puro prazer estético, aliado a uma sensibilidade insuperável ao narrar um romance fadado ao fracasso, com um final bonito e cruel.
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