segunda-feira, 30 de maio de 2005

O novo filme de Sérgio Bianchi, Quanto Vale ou é por Quilo?, tem causado celeuma por aí. Muitos aplaudiram com entusiasmo, mesmo fora de SP (sempre achei que ele fosse odiado por todos fora desta capital empoeirada). Meus amigos na Contracampo, pelo menos os que se manifestaram (e excetuando o Cleber Eduardo), odiaram o filme, achando a pior coisa desde Contra Todos. Sempre vejo algo interessante nos filmes do Bianchi, e esse não foi exceção. Se bem que, diferente de Cronicamente Inviável, em que a proporção era um pouco mais favorável, nesse novo filme para cada plano interessante tinha um ultrajante, às vezes consecutivamente. Achei realmente interessante o momento do carro atolado na favela, com os traficantes ajudando os figurões. A interpretação de Caco Ciocler, e a inteligente composição de seu personagem também é digno de nota. Mas alguns traços sensacionalistas aborrecem muito, principalmente na insistência em mostrar excreções humanas. E até Bianchi aderiu à moda do final esperto e dúbio. O filme está muito longe de ser execrável, mas não chega a ser bom. Em tempos de covardia estética e ideológica, é filme que cutuca, incomoda, não tem medo de errar (e erra demais, mas acerta em algumas coisas também). Pode-se argumentar que Cama de Gato, Contra Todos, 1-99 são todos filmes em que essas características podem ser notadas (o que me parece um desvio no olhar, já que são filmes feitos para se provar que algo- a sociedade, o Brasil - não presta). Mas em Bianchi, que filma bem, ao contrário dos outros, a necessidade do choque passa pelo risco, pela fúria (que me parece genuína) e pelo desespero, coisas muito humanas). É subjetivo, eu sei, mas desistiria de ver filmes se acreditasse que ser subjetivo é algo nocivo em blogues, ou mesmo na crítica.

quarta-feira, 25 de maio de 2005

George Sidney é um especialista em charme na tela. Scaramouche é um dos filmes mais charmosos e deliciosos de se ver. Nunca havia visto Adeus, Amor (Bye Bye Birdie) por ter passado na TVA em fullscreen, sabotando os enquadramentos muito bem pensados, como sempre, do diretor. Mas minha memória tratou de apagar essa informação, e eu só descobri a lacuna olhando a seção de musicais da Lasermania. Incrível como o filme funciona tanto como comédia quanto como musical, mesmo com eventuais ingenuidades e algumas inconsequências (a maior parte delas muito divertidas). Parece um adulto tentando agradar um bebê, mas por incrível que pareça, me senti um bebê, e muito feliz. Os números musicais são fascinantes, alguns deles velhos conhecidos de documentários, em especial o momento mágico dos telefonemas, logo no início do filme: uma excelente utilização do split-screen, além de uma coreografia de câmera digna de Vincente Minelli (e dos Sidneys mais celebrados também). Ann Margrett está bela, ora com um aspecto infantil, ora adolescente, e de vez em quando com uma expressão de mulher madura no rosto. Uma senhora atriz, ainda com 21 anos. De Dick van Dyke eu vou sempre lembrar por Chitty Chitty bang Bang, filme que nem sei mais se presta, mas que foi um dos meus preferidos de infância. Quanto não cantei aquela musiquinha... Bye Bye Birdie (que em alguns momentos me lembrou os musicais, que vieram depois, de Jacques Demy) é tão bom quanto Scaramouche, melhor que Os Três Mosqueteiros e bem melhor que Pal Joey.

sábado, 21 de maio de 2005

Kihashi Okamoto, de quem não conhecia filme algum, é o diretor de The Sword of Doom, belo filme de 1965 lançado em DVD pela Criterion (sem extras). O filme tem Tatsuya Nakadai, ator-fetiche de Kobayashi. Mas essa não é a única ligação entre Okamoto e o diretor de Harakiri. Os enquadramentos enviezados, com o espaço muito bem pensado dentro do quadro, são dignos do mestre. Samurais, golpes mortais, escolas de treinamento, estamos num terreno bem conhecido. Mas Okamoto imprime, especialmente no terço final, um toque fantástico e estranho ao filme. Como se não bastasse, termina o filme de uma maneira abrupta e inconclusiva - e muito lógica, diga-se de passagem. De um scope em p&b de encher os olhos, o filme ameaça ir para vários lados, mas não se decide, o que faz parte do seu charme.

quinta-feira, 19 de maio de 2005

Ladrão de Diamantes poderia ser bem melhor. A camaradagem existente entre o ladrão e o agente do FBI é muito interessante. Pena que caia no triste hábito das reviravoltas. Algo que é até bem bolado, mas tira a força da aproximação improvável entre caça e caçador. Pierce Brosnan está muito bem, como quase sempre, e Woody Harrelson está bem acima do que costuma ser. Só que os romances são bobocas, principalmente entre Brosnan e Hayek, que está linda, mas fica medrosa e desinteressada de repente, tentando mudar o amado na essência, ao invés de compreendê-lo. Não se trata de um personagem inverossímil, mas de um personagem que não ajuda o filme a decolar. Filme que carece de sensualidade, por incrível que pareça. Um homem passando protetor solar nas costas de outro, por mais que tenha sua função na trama, não encontra paralelo nos casais heterossexuais. Pudico demais pra filme que se insinuava de um cafajestismo salutar.

Brown Bunny é bom, mas não tanto quanto querem seus admiradores. Perde para Buffalo 66, que tem menos gratuidades, ou pelo menos gratuidades mais bem encaixadas na forma do filme. Fico em dúvida quanto à famosa cena da felação. O momento é crucial, e tem tudo a ver com o desespero do protagonista. Mas mostrar seu pênis, me parece algo exibicionista sim. Também não sei se gosto do paralelismo no final. Poesia meio forçada. Com todos os problemas, um filme ainda a se defender. A projeção digital não é das piores, mesmo assim, a entrada devia ser mais barata.

terça-feira, 17 de maio de 2005

Casa de Areia é a prova de que Andrucha Waddington aprendeu a filmar. Se com as críticas feitas a seus filmes anteriores ou com a menor necessidade de se mostrar talentoso não sei. Mas o fato é que o filme tem o melhor trabalho técnico entre todos os filmes da Conspiração. A fotografia, por exemplo, é bela, mas não é invasiva. Não está lá pra mostrar quão brilhante foi o aparato técnico. Tinha que ser daquele jeito. Fernanda Torres tem a melhor atuação em muitos anos. E Andrucha trata o espaço com muito respeito, pensando o quadro como um confronto do homem com a natureza. Capaz de verdadeiras experimentações com as dunas e a claridade do sol batendo na areia. Fora um desfecho que contextualiza muito habilmente todos os possíveis problemas que o filme vinha acumulando. Bela evolução de seu cinema.

segunda-feira, 16 de maio de 2005

Mesmo tendo uma cena que considero equivocada e desnecessária, na revisão Husbands se revelou também uma obra-prima. Cassavetes, Ben Gazarra e Peter Falk: três retratos do homem de trinta e poucos anos. Só pra deixar o registro.

sábado, 14 de maio de 2005

Defesa apaixonada e patética do cinema de um certo autor (ou: eu preferia colocar fotos, mas...)

Les Mistons (1957) * * *
Os Incompreendidos (1959) * * * *
Atirem no Pianista (1960) * * *
Jules et Jim (1961) * * * *
Antoine et Colette (1962) * * *
Um Só Pecado (1964) *
Fahrenheit 451 (1966) * * *
A Noiva Estava de Preto (1967) * *
Beijos Roubados (1968) * * * *
A Sereia do Mississipi (1969) *
Domicilio Conjugal (1970) * *
O Garoto Selvagem (1970) * * *
Duas Inglesas e o Amor (1971) * * * *
Uma Jovem Bela Como Eu (1972) * * *
Noite Americana (1973) * * *
A História de Adèle H. (1975) * * * *
Na Idade da Inocência (1976) * * *
O Homem Que Amava as Mulheres (1977) * * *
O Amor em Fuga (1978) *
O Quarto Verde (1978) * * * *
O Último Metrô (1980) * *
A Mulher do Lado (1981) * * *
De Repente Num Domingo (1983) * * *

Prometo um post menos picareta na segunda-feira.

segunda-feira, 9 de maio de 2005

Desculpem a falta de atualizações. Foi um período de ajustes emocionais e profissionais. As coisas devem entrar nos eixos nesta semana.

Sexy Beast, de Jonathan Glazer, até que envolve razoavelmente no começo. Até que entra o personagem de Ben Kingsley, chato pra diabo, e que torna quase insuportável a experiência de assistir ao filme até o fim. É proposital, eu sei, feito para incomodar a platéia mesmo, pra justificar o momento de seu assassinato. E eu cheguei a pensar que ele não iria mostrar a cena, que iria só insinuar. Mas todo o assassinato é mostrado em flashback, numa catarse desnecessária. Que evolução deste para Reencarnação.

segunda-feira, 2 de maio de 2005

Abril (revisões em negrito):

Jogo Subterrâneo - Roberto Gervitz (Arteplex 2) *
Um Tira da Pesada III - John Landis (DVD) * * *
O Mensageiro Trapalhão - Jerry Lewis (DVD) * * * *
Nossa, Que Loucura - Peter Yates (DVD) *
Quase Dois Irmãos - Lucia Murat (E.Unibanco 2) *
O Rio Sagrado - Jean Renoir (DVD) * * * *
Krull - Peter Yates (DVD) * *
The Stupids - John Landis (DVD) * * *
Os Irmãos Cara-de-Pau - John Landis (DVD) * * *
A Vida é um Milagre - Emir Kusturica (Arteplex 4) * *
Faces - John Cassavetes (DVD) * * * *
Violação de Privacidade - Omar Naïm (Arteplex 2) 0
Assalto à 13a DP - Jean-François Richet (Arteplex 6) *
Diário de um Vício - Marco Ferreri (VHS) * * *
Schramm - Jörg Buttgereit (Cinesesc DVD) *
Vozes Profundas - Lucio Fulci (Cinesesc DVD) * * *
O Clã das Adagas Voadoras - Zhang Yimou (Arteplex 1) *
A Hora da Religião - Marco Bellocchio (VHS) * * * *
Cabra-Cega - Toni Venturi (Arteplex 9) * *
Be Cool - F.Gary Gray (Arteplex 1) * * *
Tout Va Bien - Jean-Luc Godard/Gorin (DVD) * * *
Letter to Jane - Jean-Luc Godard/Gorin (DVD) * * *
O Sétimo Dia - Carlos Saura (Arteplex 7) *
Inocente Mordida - John Landis (DVD) * *
Bom Dia, Noite - Marco Bellocchio (Cinesesc) * * *
Plataforma - Jia Zhang-Ke (Cinesesc) * * *
Dragões da Violência - Samuel Fuller (VHS) * * *
Liliom - Fritz Lang (VHS) * * *
Fúria - Fritz Lang (VHS) * * * *
Vive-se Uma Só Vez - Fritz Lang (VHS) * * *

Intervenção Divina - Elia Suleiman (Cinesesc) * * *
Ninguém Pode Saber - Hirokazu Kore-Eda (Arteplex 4) * *
Blues Brothers 2000 - John Landis (DVD) *
Três Amigos - John Landis (DVD) * *
A Intérprete - Sidney Pollack (Arteplex 1) 0
O Testamento do Dr. Mabuse - Fritz Lang (DVD) * * * *
Os Espiões Entraram Numa Fria - John Landis (VHS) * *
Nunca Fui Beijada - Raja Gosnell (DVD) * *
O Vôo do Fênix - John Moore (DVD) *
Trash - Paul Morrissey (DVD) *
As Lutas Ideológicas na Itália - Godard/Gorin (VHS) *
Relentless - William Lustig (DVD) *