Doppelganger (2003), de Kiyoshi Kurosawa, tem uma boa dose de Brian De Palma, seja pelo belo uso do split-screen, com associações sucessivamente mais bizarras entre os quadros, seja pelo tema do duplo, tratado à maneira de Síndrome de Caim, até certo ponto, quando tudo se transforma e o fantasma de Godard novamente se faz presente. A lembrança de Godard vem principalmente pelo tipo de humor praticado por Kurosawa, com nonsense e boa dose de inconsequência. Mas vem também pelos travellings que insistem em acompanhar lateralmente os personagens, por detrás de matos e árvores, revelando paisagens bucólicas. Notamos ainda um certo atraso nos contraplanos, mas nada tão radical quanto o Godard dos anos 60. Doppelganger é inferior à obra-prima Cure, e menos feliz na confusão de gêneros que Charisma. Ainda assim, mais uma prova do imenso talento do diretor.
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