quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Casa de Cêra pode ser óbvio e previsível. Jaume Collet-Serra, o diretor, recorre a inúmeros clichês e nem sempre trabalha bem com eles: personagens imbecis, os menos imbecis são os que terminam com vida; curiosidade besta de vários deles, o que motiva atos absurdos e nem sempre necessários para o desenrolar da trama; planificação dos sentimentos, ora depreciativos, ora compreensivos, sem possibilidades de meio tom. Mas o filme possui uma gama de leituras interessantes: a paralisia da sociedade americana (uma cidade ignorada, seus habitantes e visitantes transformados em bonecos de cêra), a vingança dos rednecks contra os urbanos barulhentos, a transferência de culpa, a personalidade conflituosa dos gêmeos siameses como metáfora do impasse do americano médio frente à posição dos EUA no mundo (eles são obrigados a se separar, mas continuam se completando - criam um mundo onde o que é forasteiro não é bem-vindo, até se tornar domesticado pela cêra)...Mas o que fica realmente na cabeça é toda aquela cêra derretendo, como se quisesse dizer que o espetáculo não tem mais vez na sociedade americana. Ou que a criação está sufocada, e o processo que leva à verdadeira arte não a torna imortal. Viagens de uma noite com sono, após a descoberta do filme.