Três Vidas e um Destino tem um momento curioso. A câmera atravessa um salão de estudo de balé, driblando as bailarinas como um zagueiro tosco (um travelling direto que me lembrou as investidas de Bernardão, o volante) e enquadra, entre os vidros que compõem a janela, o protagonista interpretado por Stuart Townsend. Puro momento fetichista e desnecessário, que no entanto salva o filme de um cálculo excessivo e artisticamente pesado. Tem a mais comum de todas as concessões desses filmes que avançam no tempo: os momentos mortos são praticamente ignorados. Irrita ver uma sucessão de acontecimentos importantes. É como se os personagens não tivessem vida fora desses momentos. Fora outras concessões, como a de ter personagens franceses conversando em inglês, por causa de um inglês que fala fluentemente...francês. E francamente, aquela olhadinha da Charlize Theron para a câmera, buscando a cumplicidade do espectador, bem no momento em que está prestes a ser executada, é repugnante. Lembra a lição de moral dada por John Turturro no final de A Trégua, o lixo de Francesco Rosi, indicador mirando a consciência de cada um de nós na platéia. É a terceira bola preta de John Duigan, de quem só tinha visto Grande Mar Sargasso e Sereias.
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