
O último filme que vi no festival foi Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, numa sessão muito concorrida na sexta-feira à noite. É outro filme triste, a exemplo do que passou antes na mesma sala, Waldick, Sempre no meu Coração. Triste porque vemos uma estrela em decomposição, um ostracismo (palavra muito falada no documentário) forçado, a intolerância e os extremismos que se originaram daqueles tempos sinistros (governo Médici).
Uma coisa bacana foi ter ido atrás do tal contador que teria sido surrado a mando de Simonal, supostamente por ter desviado dinheiro - que Simonal torrava sem a maior noção, diziam os mais próximos. Nessa hora a coisa pega, e a figura do ídolo quase sai bem chamuscada. O filme é feliz ao dosar essas acusações com a persona do astro, explorada por ele à exaustão, com boa dose de ingenuidade e arrogância. Legal também foi emendar os depoimentos sobre a cantoria no maracanãzinho (20, 30, 40, 50 mil vozes, diz, respectivamente, cada um dos entrevistados).
Sempre achei que as acusações de delação eram falaciosas, e o documentário me fez ter quase certeza de sua inocência. Uma coisa é certa: souberam usá-lo como e quando queriam, para descartá-lo quando ele pretendeu criar uma outra persona, mais séria e crítica. Não convinha ter um sucesso de público tão questionador assim. Sobre a declaração de Miéle, de que Simonal foi o grande cantor do País - pensei na hora: não, não foi. Esse foi Tim Maia. Simonal era muito bom, principalmente nos anos 70, depois de ter sido acusado (e o documentário falha ao não mostrar que ele continuou gravando discos, os melhores de sua carreira), mas não entraria numa lista dos dez melhores.
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