sexta-feira, 5 de janeiro de 2007


Na Linha de Fogo é um belo thriller de Wolfgang Petersen, diretor sempre bombardeado por ter se rendido ao cinemão e não fazer dele um portal para o contrabando, ainda que idéias que podem ser reconhecidas como as de um contrabandista possam ser encontradas em Inimigo Meu. Em Na Linha de Fogo, que apresenta um curioso paralelo de sinais invertidos com a obra-prima de Eastwood, Poder Absoluto, há uma série de explicações da natureza do vilão. Curioso que muitos críticos bons tenham birra com esse tipo de artifício explicativo, que insiste em justificar o comportamento psicopata. Penso que se a explicação é boa o suficiente para não cair no ridículo, tudo bem. Claro que o ideal é provocar o espectador, fazê-lo pensar. Mas num thriller como esse, em que ficamos tensos com a trama, a ponto de esquecer, mesmo que por poucos minutos, as noções mais formais que tanto nos interessam (a nós, críticos, e a nós, cinéfilos preocupados com a estética), explicações podem servir para que o vilão tenha uma dimensão ainda maior, e provoque certa empatia, certa torcida de que, no duelo inevitável com o mocinho, ele tenha pelo menos uma morte honrada. Entramos definitivamente no terreno da ficção, e a acompanhamos com a lógica de quem se entrega ao conteúdo, sem esquecer que Petersen é um bom artesão, filma direitinho, e é esperto na investigação do caráter do americano médio, bem como de seus aspirantes a herói.