segunda-feira, 5 de junho de 2006

Atores: manual de uso

Dois belos exemplos de como a escolha do elenco pode ser decisiva para o sucesso de um filme. No fraquinho Atrás das Linhas Inimigas (de John Moore, 2001), tiveram a péssima idéia de escalar Owen Wilson para o papel principal. Entende-se que era pra ser um personagem desiludido, ambíguo em suas crenças militaristas, mas Owen não consegue ser ambíguo, e não convence como herói. Ficamos o tempo todo esperando trapalhadas de sua parte, ou a chance de vermos sua deliciosa canastrice em ação. Gene Hackman também não tem nada a ver. Seu oficial arrependido torna-se constrangedor, porque desse ator magnífico sempre esperamos personagens fortes, não uma marionete. Algumas boas composições de Moore salvam o filme do desastre total.

Já em Miss Simpatia (de Donald Petrie, 2000), tudo está em seu devido lugar. Benjamin Bratt faz muito bem o agente sedutor, Michael Caine está perfeito como a bichona refinada, Sandra Bulock brilha como a agente que sofre a transformação de feia para incrivelmente graciosa - claro que ela nunca esteve feia, mas seus trejeitos masculinizados, mesmo quando exagerados, servem muito bem para os propósitos do filme. Candice Bergen também está muito bem como a perua que organiza o concurso de miss Estados Unidos. Mas é William Shatner o dono do melhor momento, com sua sublime reação ao discurso ameaçador de Sandra Bulock perto do final do filme. Sua expressão provoca gargalhadas, e me fez colocar o dvd em função looping. Um gênio total, se me permitem o momento Chiko. Petrie se serve muito bem desse precioso elenco, e faz um filme bem agradável de se assistir, a despeito de algumas bobeiras no desenrolar da trama, que por si só é uma afronta ao bom gosto (ou ao gosto médio, esse vilão).