só pra mostrar que picaretagem não tem limite, vai aí meu top 10 de Martin Scorsese (versão de hoje que pode mudar com as constantes revisões de sua obra)
1) Touro Indomável
2) Cassino
3) A Época da Inocência
4) Vivendo no Limite
5) Os Bons Companheiros
6) Cabo do Medo
7) Taxi Driver
8) Depois de Horas
9) A Última Tentação de Cristo
10) O Rei da Comédia
sendo que todos são ****
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004
Postado por Sérgio Alpendre às 16:42 |
Monge à Prova de Balas (Bulletproof Monk, 2003) - Paul Hunter **
Um monge budista acharia tudo uma bobagem, mas o fato é que o filme de Paul Hunter é bem divertido. Azar do monge. Não há nada mais deplorável do que um especialista em qualquer assunto desautorizar um filme pela falta de veracidade na caracterização, como se um filme devesse obedecer a uma outra verdade que não fosse a cinematográfica. E o filme tem implausibilidades deliciosas, não só as que já nos acostumamos, com lutadores que voam, mas coisas como rejuvenescimento e capacidade de ter poder total sobre o mundo inteiro. Tem uma atriz deslumbrante e fraquinha, Jaime King, cenas de ação bem coreografadas e um Chow Yun-Fat inspirado. A intenção é clara: ilustrar o rito de passagem de discípulo a mestre, como a borboleta que sai do casulo no início do filme.
Postado por Sérgio Alpendre às 16:37 |
Kwaidan (1964) - Masaki Kobayashi ****
Mais uma obra-prima de Masaki Kobayashi, um dos grandes diretores japoneses que raramente são considerados mestres. Pura injustiça. Os três filmes dele que pude ver (Aqui Termina o Inferno, Harakiri e Kwaidan) mostram que Kobayashi nada deve aos maiores. Gosto muito de Kurosawa (de quem conheço 16 filmes), mas na proporção filmes vistos - filmes adorados Kobayashi leva imensa vantagem. Em Kwaidan, o diretor faz um excelente uso do scope, assim como os outros dois, explorando bem a capacidade de trabalhar com o clima, com enquadramentos muito bem trabalhados acentuando a atmosfera onírica do filme. São quatro episódios de fantasmas, sendo o primeiro, Black Hair, o melhor e mais assustador. O terceiro, Hoichi the earless, é o mais curioso, com uso inusitado de cenário e moldura de cântico. Um primor, mas é o que menos se encaixa no gênero terror (dentro do qual diversos admiradores aprisionam o filme). Tem várias passagens cômicas, fogo-fátuos (o que não deixa de ser engraçado), além de ser o de maior duração (1h03min). Em todos os episódios predomina um excelente uso do som, algo que o aproxima de Desafio ao Além, de Robert Wise, filme feito pouco antes e que explora a pista sonora de maneira exemplar e muito imitada depois. Só que ao contrário do filme de Wise, onde procura-se defrontar o espectador com seus medos, Kobayashi está mais interessado em contar as histórias de seus fantasmas, sejam eles assustadores ou não. Pode ser considerado um filme de amor (principalmente se pensarmos nos dois primeiros episódios). Ou da busca por um ideal de amor, o que pode terminar em aprisionamento (vide quarto episódio).
Postado por Sérgio Alpendre às 16:16 |
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004
Desde que me encantei com Femme Fatale, resolvi reavaliar a obra de Brian de Palma. Revi Síndrome de Caim, com o qual nutria franca antipatia, e gostei bastante. Revi também Olhos de Serpente, e gostei mais ainda. Ontem foi a vez de A Fúria, filme de 1978 com Kirk Douglas e Amy Irving. Fantástico. Impressionante como de Palma brinca com gêneros, do filme de espionagem à comédia, desembocando num terror exasperante sobre mediunidade e poder. A câmera do diretor, sempre inquieta, convida-nos a esse redemoinho (reparem a quantidade de travellings circulares que existem no filme) que envolve os personagens e acaba por nos deixar sem chão. A passagem de Kirk por aquela casa dos idosos é inteiramente cômica. Já o encontro do pai com o filho e a seqüência final com Irving e John Cassavettes (com atuação excelente) são de um terror muito bem construído. A cena final faz com que nos perguntemos aonde ele vai chegar...e ele vai até o fim. Ainda prefiro Scanners (filme irmão realizado por Cronenberg), mas A Fúria está bem perto da genialidade.
Postado por Sérgio Alpendre às 16:25 |