domingo, 30 de março de 2008


Em homenagem a Billy Wilder, tema do interessante, mas decepcionante, filme de Volker Schlondorff exibido no É Tudo Verdade (e que se chama Conversas com Billy Wilder), vai mais um capítulo da série diretores, com cotações para todos os seus filmes (com a exceção de Mauvaise Graine, que eu ainda não vi).
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A Incrível Susana (The Major and the Minor, 1942) * * * *
Cinco Covas no Egito (Five Graves to Cairo, 1943) * * * *
Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944) * * * * *
Farrapo Humano (The Lost Weekend, 1945) * * * * *
A Valsa do Imperador (The Emperor Waltz, 1948) * * *
A Mundana (A Foreign Affair, 1948) * * *
Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950) * * * * *
A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the Hole, 1951) * * * *
Inferno 17 (Stalag 17, 1953) * * * * *
Sabrina (1954) * * * * *
O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955) * * * * *
Águia Solitária (The Spirit of St. Louis, 1957) * * *
Amor na Tarde (Love in the Afternoon, 1957) * * * *
Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution, 1958) * * * * *
Quanto Mais Quente Melhor (Some Like it Hot, 1959) * * * * *
Se Meu Apartamento Falasse (The Apartment, 1960) * * * *
Cupido Não Tem Bandeira (One Two Three, 1961) * * * * *
Irma la Douce (1963) * * * *
Beija-me, Idiota (Kiss Me Stupid, 1964) * * * *
Uma Loira por Um Milhão (The Fortune Cookie, 1966) * * *
A Vida Íntima de Sherlock Holmes (The Private Life of Sherlock Holmes, 1970)
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Avanti, Amantes à Italiana (Avanti!, 1972) * * * *
A Primeira Página (The Front Page, 1974) * * * *
Fedora (1978) * * * * *
Amigos, Amigos, Negócios à Parte (Buddy, Buddy, 1982) * * *

sábado, 29 de março de 2008



A obra-prima de Sergio Leone passa amanhã, às 15:35 no Telecine Cult: Quando Explode a Vingança (Duck You Sucker/Giù la Testa/A Fistful of Dynamite, 1971). Espero que o canal respeite o formato certo.

Quando eu crescer, quero ser como Serge Gainsbourg.


Vez em quando dou uma dessas. Vou conferir um filme sem saber quem é o diretor, atraído mais pelo trio de atores - Mark Ruffalo, Joaquin Phoenix, Jennifer Connelly e, de quebra, Elle Fanning, a irmã da Dakota, e Mira Sorvino. Enquanto entro na sala, uma virada trágica para a esquerda me faz bater o olho no enunciado do cartaz (antes até de ler o nome do diretor): do mesmo diretor de Hotel Ruanda.
Ah, tá. Esse foi um dos poucos filmes que eu fiz questão de não ver. Podem chamar de preconceito, pois foi isso mesmo. Por tudo que tinha ouvido falar dele e pelo trailer, decidi que não ia perder duas horas da minha vida vendo aquilo. E olha que eu vejo muita bobeira. Bem, resolvi entrar na sala mesmo assim.
E não é que Terry George me surpreendeu com Traídos pelo Destino (Reservation Road)? Pelo menos até a cena da foto que colo aí em cima, um momento chave em que os pais se encontram pela primeira vez depois da descoberta de Phoenix. Dali em diante o filme começa a cair. Não muito, mas entra num território já mais explorado dos choramingos, e George não parece muito à vontade para abraçar o melodrama. Fosse um Luigi Comencini da vida, ou mesmo um Gabriele Muccino, eu ia sair do cinema com os olhos inchados. Ainda assim, fez com que eu pensasse em conferir, ém alguma tarde de ócio, o tal Hotel Ruanda.
Os atores estão bem, como eu esperava. Aprendi a gostar do Joaquin Phoenix na marra, e dos outros dois sempre gostei. Mira Sorvino tem uma voz meio chata, e era ainda mais na época de Poderosa Afrodite. Mas cresceu como atriz, e está ainda mais bonita.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Os problemas acabam me tirando da marcação sob pressão que eu pretendia fazer com a programação do É Tudo Verdade. Eu fico pensando para que serve a Anatel (mas isso não vem ao caso).

Hoje vi três curtas, dos quais dois são bem legais. Um deles é esse aí da foto, Dossiê Rê Bordosa, de Cesar Cabral, que revive o assassinato da porralouca por seu criador, Angeli. A idéia é misturar entrevistados a pesonagens, igualando todos com a técnica da animação em massinha. Muito feliz, especialmente nos trechos escolhidos e no cuidado com as cores. Algumas colagens das tirinhas em jornais, ou de páginas da Chiclete com Banana (revista de quadrinhos e humor muito popular nos anos 80) ajudam a enfeitar o curta, que é delicioso e engraçado, mas me deixou um pouco deprimido no começo. Tudo porque a morte da Rê Bordosa parecia muito recente, e o filme ter me lembrado que isso se deu em 1987 fez com que eu pensasse que estou realmente ficando velho. Ainda bem que esse tipo de depressão passa rápido quando eu lembro do monte de espinhas doloridas que eu tinha na época.

Outro curta muito bom é Solitário Anônimo, de Débora Diniz, sobre um senhor que quer desistir de viver, mas enfrenta as diversidades dos médicos e enfermeiras de um hospital, que não querem deixar que ele perca a vida. Muito tocante, um mergulho na alma do personagem como poucas vezes se vê.

Ontem vi o longa Stranded, de Gonzalo Arijón, que é um documentário bem quadrado sobre os sobreviventes dos Andes (para citar o filme que Renê Cardona fez em 1975 - não vi Vivos, que é mais recente). Stranded tem seus méritos. Consegue, apesar de seu academicismo, montar um grande melodrama com pessoas reais, e faz com que o canibalismo seja relativizado. Um dos sobreviventes declara, senti que comendo a carne do meu pai iria carregá-lo comigo para o resto da vida (é mais ou menos isso, dando um desconto porque eu estava com muito sono).

em tempo:

Eu não era cinéfilo em 1987, apesar de ir ao cinema de vez em quando com os amigos, e de não perder um filme de terror nas madrugadas da TV (e a Sala Especial também, claro). Por isso, mando aqui os discos que eu ouvia muito em 1987 (e por incrível que pareça, lembro muito mais desse ano do que de qualquer outro ano da década de 90):

The Cure - The Head on the Door (1985)
The Smiths - The Queen is Dead (1986)
A-ha - Scoundrel Days (1986)
Marillion - Misplaced Childhood (1985)
Genesis - Selling England by the Pound (1973)
Depeche Mode - Black Celebration (1986)
Queen - Queen II (1974)
Milton Nascimento - Minas (1975)
14 Bis - O Espelho das Águas (1983)
New Order - Brotherhood (1986)

Sim, eu já tinha passado da fase heavy-metal.

Sim, na época era muito difícil ter um LP importado. Custava cinco ou seis vezes mais que o nacional, e era difícil de ser encontrado. (anos pré-Collor, vejam só).



terça-feira, 25 de março de 2008



As Crônicas de Spiderwick é mais um acerto de Mark Waters. De toda a leva de filmes de fábula, este é o melhor. Nada de efeitos se sobrepondo à dramaturgia. Tudo está no tom certo, na mais justa combinação de ingredientes. Nos melhores momentos, lembra The Railway Children, de Lionel Jeffries. Um dos roteiristas, supresa!, é John Sayles.

Em compensação, 2 Dias em Paris, de Julie Delpy, é uma baboseira de marca maior. Adam Goldberg até que está engraçado durante algum tempo, e a interação dele com a família da namorada, na França, rende momentos divertidos. Mas aquele lenga-lenga do que fazer para manter uma relação amorosa é insuportavelmente besta. Se uma relação se mantivesse com o simplismo boboca que Delpy prega estaríamos muito mais felizes. Para nosso azar, tudo é mais complicado. Ainda assim, poderia dar certo, se Delpy soubesse decupar minimamente. Alguns planos são grotescos, com angulações que deixam Delpy monstruosa (não, não foi proposital, podem ter certeza), em especial os mais próximos do final do filme.

segunda-feira, 24 de março de 2008


Katherine Heigl

Ela estava em King of the Hill, um dos bons filmes de Steven Soderbergh, e ainda era adolescente. Depois esteve em A Noiva de Chucky, de Ronny Yu. Claro que eu não lembro dela em nenhum dos filmes. Em Ligeiramente Grávidos, de Judd Apatow, quem arrebenta é Seth Hogen, e o papel dela permite apenas o suficiente para que ela seja o contraponto sensato à grosseria juvenil dele, e ela faz bem. Mas é em Vestida para Casar, de Anne Fletcher, que ela finalmente aparece como grande atriz. Uma atriz que engrandece uma personagem meio bobinha, perdida na mania de colocar demonstrações de afeto para platéias, em discursos que eu nunca entendo como chegam até o fim sem que se veja um papel voando, ou uma careta de enfado qualquer. Deu até vontade de correr atrás de uns filminhos que ela fez antes do filme de Apatow.

Vestida para Casar (27 Dresses) chega a ser bem interessante por causa dela e apesar de um começo bem desanimador, com a correria entre casamentos e um taxi. Ela está deslumbrante no filme, muito mais que em Ligeiramente Grávidos. Sua beleza fica até mais evidente, pois os sentimentos da personagem são passados com uma perfeição de tom que emociona, como na cena em que o pai dá o vestido de noiva da mãe para a irmã dela, e sua reação é testemunhada pelo olhar de Edward Burns - um olhar, aliás, de quem sacou muita coisa. Nos sentimos muito próximos das angústias dela, e isso me pareceu muito mais um mérito da atriz, que conseguiu sair de uma prisão que a personagem tinha tudo para não evitar (basta ver as outras inúmeras comédias românticas dos últimos quatro ou cinco anos), do que de Anne Fletcher. Afinal, o que parecia estar em jogo era o velho sonho conservador de se casar antes da irmã mais nova, e com o vestido da mãe, muito mais do que com quem ela iria casar. A velha bobagem de casar bem e com pompa. A atuação de Katherine Heigl torna até a percepção de que ela já havia se apaixonado por outro um frescor de novidade, sendo que era o que sabíamos que iria acontecer desde os primeiros minutos.

sábado, 22 de março de 2008


Gosto de Federico Fellini. E daí?

Mulheres e Luzes (Luci del Varietá, 1950) - co-dir: Alberto Lattuada
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Abismo de um Sonho (Lo Sceicco Bianco, 1952) * * *
Os Boas Vidas (I Vitelloni, 1953) * * * * *
A Estrada da Vida (La Strada, 1954) * * *
A Trapaça (Il Bidone, 1955) * * * *
As Noites de Cabíria (Le Notti di Cabiria, 1957) * * * * *
A Doce Vida (La Dolce Vita, 1960) * * * *
Boccaccio 70 (episódio As Tentações do Sr. Antonio, 1962) * * *
Oito e Meio (Otto e Mezzo, 1963) * * * * *
Julieta dos Espíritos (Giulietta degli Spiriti, 1965) * * *
Histórias Extraordinárias (episódio Toby Dammit, 1968) * * *
Satyricon (1969) * * * * *
Os Palhaços (I Clown, 1970) * * * *
Roma (1972) * * * * *
Amarcord (1973) * * * *
Casanova (1976) * * * *
Ensaio de Orquestra (Prova d'Orchestra, 1979) * * * *
Cidade das Mulheres (La Citta delle Donne, 1980) * *
E La Nave Va (1983) * * * * *
Ginger & Fred (1985) * * *
Entrevista (Intervista, 1987) * * * *
A Voz da Lua (La Voce della Luna, 1990) *

observações:

Já achei Casanova um porre, hoje adoro. Já achei Amarcord uma obra-prima, hoje mal se sustenta nas 4 estrelas (deixei mais por creditar meu enfado na última revisão a um dia atribulado).

Posso estar sendo injusto com Julieta dos Espíritos, Cidade das Mulheres e A Voz da Lua. No caso do último, que só vi na época, lembro que fiquei bastante irritado com o Roberto Benigni.

Sim, gosto muito de Fellini, e acho que muitos cinéfilos inteligentes são impacientes ou têm má vontade, por ele ser um cineasta muito conhecido e elogiado por neófitos.

Sim, de todos os filmes que ele realizou entre Satyricon e Ensaio de Orquestra (incluindo os dois) o mais fraco é provavelmente Amarcord.

Terei oportunidade de rever A Voz da Lua no cinema, pois está passando no cineclube do Belas Artes, todos os dias às 19h.

A foto é de E La Nave Va, o meu preferido empatado com Oito e Meio.

Tava vendo a bobagem Como Perder um Homem em 10 Dias e três coisas meio estranhas passaram pela minha cabeça:

1) Matthew McConaughey recebe a revista com o artigo, lê só as chamadas para a matéria e sai depressa. Claro que ele pode ter deixado para ler o artigo inteiro depois, mas essa mania de só ler os olhos do texto talvez tenha muito mais a ver com o post anterior do que eu queira pensar.

2) e se a brincadeira de Kate Hudson no final seja um sinal de que ela pode vir a ser aquela mulher insuportável de quando ela queria perder o homem? Uma mulher pode saber exatamente o que desagrada o homem - e no filme fica claro que ela sabe, e pode usar esse conhecimento como teste ou por puro sadismo. A continuação, no caso, seria um filme de terror.

3) a cena do dueto é exemplar: seria exibicionismo da pior espécie, não fossem simples bonecos a serviço de uma maneira pobre e tosca de tentar capturar a emoção do espectador.

Passou no Telecine Light. Só que as conclusões a que cheguei vendo o filme não são nada light. São desesperadoras. E Kate Hudson é muito sem graça. Melhora um pouco no final, quando deixa de ser a barbie e apresenta o cabelo mais rebelde. Mas ainda assim é sem graça.

O lançamento de Não Estou Lá nos cinemas de São Paulo:

Espaço Unibanco 3 (projeção digital) - 189 lugares

HSBC Belas Artes/Oscar Niemeyer (projeção digital) - 163 lugares

Market Place Playarte 2 - 146 lugares

Pela mesma distribuidora que já tinha lançado mal A Espiã. Desnecessário dizer mais. É um círculo vicioso que estão alimentando: de um lado, as distribuidoras estão cada vez mais medrosas, de outro, o público de cinema vai ficando cada vez mais ignorante e intolerante.

sexta-feira, 21 de março de 2008


O Orfanato

gosto:

- do marido, perturbado, que não consegue tocar o piano e é observado, sem saber, pela esposa.

- do menino Tomás nos vidros da porta do banheiro (foto)

- de todas as cenas na caverna

- de Geraldine Chaplin, num personagem caricatural que ela interpreta com um senso de economia e classe que raras vezes eu vi em sua carreira após Elisa Minha Vida.

não gosto:

- da música excessiva e meio brega

- da resolução piegas

- do ator que faz o marido cético

- das cenas de susto sem imaginação

- das viradinhas da câmera no porão, perto do final do filme

- do auto-envenenamento
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balanço geral: muito barulho por quase nada


Duas vezes o bê-á-bá
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Ricardo Darin e Martin Hodara fazem o bê-á-bá de maneira bem competente em O Sinal, noir estrelado por Darin, Diego Peretti (foto) e Julieta Díaz. Mesmo o clichê da pessoa atirando por trás de outra é bem utilizado. Talvez o maior trunfo de Darin e Hodara é desenvolver uma atmosfera sinistra, tendo como pano de fundo a crise de saúde fatal de Eva Perón. A cena da abertura do cofre é exemplar nesse sentido. Cada barulhinho da combinação soa como um tiro, e cada momento silencioso do filme parece uma ameaça ao protagonista. Boa surpresa. O diretor original seria Eduardo Mignogna, que escreveu o roteiro, baseado em seu próprio livro. Com a morte de Mignogna, Darin assumiu o projeto, e chamou o assistente de direção de Nove Rainhas para co-dirigir.
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Do outro lado, Denys Arcand, de quem não sou fã (mas também não estou na onda dos que acham As Invasões Bárbaras o pior filme do mundo), fez feio. Basta uma seqüência de A Era da Inocência, que era para ter graça: nosso herói começa a sair com uma mulher que acredita ser uma condessa medieval. Ela o convida para uma espécie de gincana só com fãs de O Senhor dos Anéis. Num determinado momento ele deve lutar para que ela não se case com um tal de príncipe negro, e deve aprender a montar num cavalo. Ele tenta subir, com a ajuda de dois cabeludos, mas cai do outro lado. Nova tentativa, e ele monta no cavalo de costas. Batido, não? Mas poderia até ter graça nas mãos de um John Landis, ou de um Peter Segal (aposto minhas fichas no Agente 86). A direção de Arcand é o feijão com arroz mais pobre e requentado que eu vi ultimamente, com uma decupagem que seria reprovada numa avaliação inicial para calouros de qualquer curso vagabundo de cinema. Podem acreditar, quando o filme cai no trivial do cinema de arte, fica pior ainda. Se fosse o último do dia, certamente eu iria pegar o bonde mais cedo.
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em tempo: daria um Chokito (pensando bem, dois) para jogar esse bilhar que aparece na foto. Peretti é craque no filme. Sempre consegue tocar na outra branca e na vermelha. Queria ver se eu era capaz de conseguir uma única vez.

quinta-feira, 20 de março de 2008



É um espertalhão esse Michael Moore. Se faz de bobo na frente das câmeras - sempre uma boa estratégia para se conseguir o que quer, e leva os entrevistados de seu filme, que se deram mal com o sistema de saúde nos EUA, para receberem tratamento gratuito em Havana.

Sicko (S.O.S. Saúde) retoma alguns dos procedimentos de Tiros em Columbine, como a curiosidade para testemunhar in loco o que ele havia ouvido dizer; e também a mania de se promover com a humilhação alheia. Talvez seja seu melhor filme, ainda que o alcance de sua denúncia tenha prazo curto, como a maior parte das denúncias espalhafatosas (alguém aí pensou no Datena?). Sicko é muito contundente enquanto estamos vendo, cada vez mais frágil depois que acaba.

Pelo que ele mostra, o estado da saúde nos EUA é pior que no Brasil. Os norte-americanos são reféns da máfia dos planos de saúde. Uma máfia das mais cruéis e nocivas. O sistema de saúde da Inglaterra, ao contrário, é a maior maravilha do mundo. Fiquei impressionado com a limpeza do Hospital público que ele mostra. Deve ser mesmo essa maravilha, e eu até já ouvi de fontes fidedígnas que é. Mas o dos EUA seria tão ruim assim? Ou o exagero era necessário para o filme acontecer?

A cota de humilhação fica por conta do dono de um site anti-Michael Moore. Claro, se eu acreditasse que o cara ficou sabendo pelo filme do cheque anônimo, e que essa publicidade negativa não era bem-vinda pelo Moore. Mas se algo do que foi narrado pelo filme for verdade, é quase do nível da humilhação com Charlton Heston em Tiros em Columbine. Parece um malandrão se vangloriando de ter passado o outro para trás, e ainda posando de generoso. Prefiro crer que seja tudo estratégia de marketing.

Ao menos ele não mostra um personagem em momentos humanos, com reações plausíveis, não de super-heróis, para colocar uma narração em cima chamando esse mesmo personagem de banana, que não está nem aí para seu país. Foi o que ele fez em Fahrenheit 9/11, e muita gente comprou.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Ponto de Vista (Vantage Point, 2007), de Pete Travis
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Este filme até prometia, apesar do truque manjado de mostrar a mesma seqüência - um ato de terrorismo camuflado por um falso atentado contra o presidente dos EUA - de diferentes perspectivas, de acordo com quem teve presença marcante na ocasião. Depois de pouco tempo esse efeito começa a cansar. Pior ainda, certos personagens são ridículos, como por exemplo o do turista interpretado por Forest Whitaker, uma caricatura da sensibilidade personificada. Há outros, quase tão patéticos quanto, como a menina espanhola que se perde da mãe, ou o amigo do segurança que ajuda os terroristas. Travis não tem a menor noção de como tornar o espaço crível, principalmente quando se mete a filmar perseguições pela cidade de Salamanca, na Espanha. Whitaker correndo com sua câmera, e reagindo exageradamente a qualquer coisa que se passasse à sua frente, é constrangedor para quem já teve papéis marcantes em filmes de Neil Jordan e Clint Eastwood. E os diálogos explicativos parecem coisa de quem acha que espectador de cinema é burro o suficiente para se perder numa trama banal como essa. Exemplo: "ele vai perseguir por um bom tempo um atirador que não existe... hahaha". Se há alguma coisa interessante no filme é a total falta de respeito com o tempo de cada perspectiva, com uma desrespeitando o tempo da outra, e com alguns pequenos detalhes que são desmentidos de acordo com quem estiver como centro da ação. Seria proposital para tornar o quebra-cabeça um pouco menos simplório, ou incompetência pura?

terça-feira, 18 de março de 2008

Segue abaixo o release do curso que darei em maio no Santa Augusta. Faz parte de uma iniciativa do Cinequanon, que promete muito mais no mês de maio. Além da Cachaça Filosófica, que dividirá os sábados comigo, as quartas terão sempre algo bem interessante. Prestigiem.

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CINEMA E MÚSICA – Vol 1.

Iniciando os cursos de sábado do Cinequanon no Santa Augusta, o crítico Sérgio Alpendre vai abordar a maneira como essas duas artes se encontraram nas telas. Desde o cinema mudo, passando pela era de ouro dos musicais da Metro, e pela recente revitalização do gênero, vamos analisar como se deu essa simbiose, e como a música foi representada no cinema em suas diferentes épocas.

(05/5) Do mudo ao sonoro. Os acompanhamentos musicais durante o cinema mudo. O Cantor de Jazz. Busby Berkeley, o grande coreógrafo. As operetas de Lubitsch e Mamoulian.

(12/5) A era de ouro dos musicais. Arthur Freed e a Metro. De Fred Astaire a Gene Kelly. Cinema escapista. No Brasil, o reinado da Atlântida.

(19/5) A música jovem em Hollywood nos anos 60. Frank Tashlin, George Sidney e o rock nas telas. Elvis Presley. Richard Lester e os Beatles. Os musicais de Jacques Demy.

(26/5) Do final da era de ouro aos dias de hoje. Woodstock e os festivais filmados. As biografias de grandes músicos. O rock brasileiro dos anos 80 retratado em filmes. Os breves retornos dos musicais às pautas cinematográficas. De Cabaret e O Show Deve Continuar a Dreamgirls e Hairspray.


SERVIÇO

► Local:

Santa Augusta – Rua Augusta, 976, 3255-9905.

► Horário:

sábado das 17h às 18h45.

► Preços:

Aulas avulsas = R$ 50,00.
Curso completo = R$ 150,00 (a vista) ou 2x R$ 80,00.

► Inscrições:

No local ou pelo e-mail contato@cinequanon.art.br.

* Os cursos terão um mínimo de 10 alunos e uma turma máxima de 30 alunos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

I'm Not There, ou Não Estou Lá, como a Europa o chamou, estréia no próximo dia 21. A obra-prima de Todd Haynes é páreo duríssimo para Serras da Desordem, Paranoid Park e A Espiã na disputa de melhor filme do ano. Outras estréias interessantes estão programadas para as próximas semanas. Aqui vão algumas delas:

28/03
Serras da Desordem, de Andrea Tonacci
Partículas Elementares, de Oskar Roeller

04/04
Rolling Stones - Shine a Light, de Martin Scorsese
Violência Gratuita, de Michael Haneke

11/04
Evidências de um Crime, de Renny Harlin
A Retirada, de Amos Gitai

18/04
Falsa Loura, de Carlos Reichenbach
Juízo Final, de Neil Marshall
Savage Grace, de Tom Kalin

25/04
O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha
Fados, de Carlos Saura
In the Electric Mist, de Bertrand Tavernier

01/05
Homem de Ferro, de Jon Favreau
O Sonho de Cassandra, de Woody Allen

02/05
Cleópatra, de Julio Bressane
Os Desafinados, de Walter Lima Jr.
Desejo e Perigo, de Ang Lee
Pride and Glory, de Gavin O'Connor

09/05
Leatherheads, de George Clooney
Speed Racer, dos irmãos Wachowsky

Fora The Mist, de Frank Darabont; Do Outro Lado, de Fatih Akim; Um Lobisomem na Amazônia, de Ivan Cardoso e Ainda Orangotangos, de Gustavo Spolidoro, filmes que ainda não têm data definida.

domingo, 16 de março de 2008

Mike Nichols sempre foi muito hábil em conjugar política e teatro, mostrar relações de poder e influência com uma ironia e um senso de dramaturgia muito bem afiado. Mas nem tanto quanto Segredos do Poder, em que as relações entre os personagens passam muito mais por uma necessidade da trama, Jogos do Poder é um filme muito falado, e isso pode ser um empecilho à primeira vista. Somos submetidos a um blá-blá-blá sobre os meandros políticos dos EUA, e fica claro, desde o início, que a intenção maior é fazer desembocar a crise do Afeganistão nos atentados do 11 de setembro, e na consequente invasão americana no Iraque. Como fica clara essa intenção desde o início, o que o filme pode nos reservar de mais interessante é a atenção dada aos detalhes, aos meandros do funcionamento de um império numa época de gravidade na Guerra Fria com a eleição de Ronald Reagan, sempre um forte em Nichols, que tinha experiência com teatro e adaptações teatrais - caso de Quem Tem Medo de Virgínia Wolf?, adaptação de uma peça de Edward Albee, e até hoje o melhor filme do diretor. Essa atenção aos detalhes é muito mais efetiva durante um tempo, antes do filme ser obrigado a avançar muito rapidamente no tempo. No final, sentimos que o tapa na cara não nos toca, pois já sabíamos de todas as conseqüências da ajuda dos EUA ao Afeganistão, e, principalmente, da retirada rápida e leviana após a ajuda - basta ler jornais. É um pouco o caso de Sem Fim à Vista, de Charles Ferguson, o documentário que muitos elogiam efusivamente, mas que me pareceu um Michael Moore empobrecido, um protesto que só vai atingir uma minoria, já esclarecida pelo noticiário. É mais do mesmo, para inglês ver. Só que o filme de Nichols ao menos tem grandes atores dando o máximo, e um Tom Hanks inspirado como há muito não se via.

sábado, 15 de março de 2008

Atualização do Melomania. Peter Gabriel, o genial compositor que era do Genesis e construiu uma brilhante carreira solo (pelo menos até 1986). Confiram em:

http://melomania.blogspot.com/

Hoje teve a Coletiva de Imprensa do 13º É Tudo Verdade. Desta vez pretendo acompanhar de perto o festival, e vocês ler a cobertura no blog de festivais da Paisà a partir do miolo da semana que vem (www.revistapaisa.com.br/paisablog).

Terminando com as dicas de leitura, recomendo a matéria feita por Gabriel Carneiro e Stefanie Gaspar sobre o prêmio Jairo Ferreira, no site da Cásper Líbero:

http://www.facasper.com.br/cultura/site/noticia.php?tabela=noticias&id=665

sexta-feira, 14 de março de 2008



Inverno é o primeiro longa-metragem de Carlos Gerbase, e foi rodado em super 8 no inverno de 1982. Não é bom como Deu Pra Ti Anos 70, nem como Verdes Anos, mas tem um ritmo e uma maneira de ser fiel à solidão do personagem que me lembraram Rapado, a estréia de Martin Rejtman, quase uma década depois. Werner Schünemann cai como uma luva nesse personagem meio perdido, que suporta uma namorada meio besta e uma turma de idiotas por pura falta de coisa melhor. Mudar para o interior? Não, muito saudável, muito verde, prefere a fumaça da cidade grande. Há um momento que eu ainda não decidi se é patético de uma forma que queima o filme, ou se é forte e impactante, a cena chave do filme. Trata-se do casal anormal que passa por eles, e fica indiferente à zombaria de toda a turma com a exceção de Schünemann. Ali ele percebe que é infeliz, pois está ao lado de quem desdenha a felicidade dos outros. É claramente a cena chave do filme, mas talvez tenha passado um pouco do tom e caído na escrotização pura e simples. Destoa de todo o resto, mas talvez por isso mesmo pareça tão exagerada. O aleijado do casal que passa imune a eles é o futuro diretor de Anjos do Sol, Rudi Lagemann



quinta-feira, 13 de março de 2008

Propaganda básica. Mais uma bela tacada do Cineclube Equipe.

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O Cineclube Equipe convida a todos para o curso Uma introdução à linguagem cinematográfica, que terá início na segunda-feira dia 17 de março de 2008. O curso será ministrado pelo professor Paulo Yasha, ex-aluno do Colégio Equipe formado em Cinema pela FAAP e Filosofia pela USP, realizador de vídeos institucionais e pessoais e arte-educador em exposições e museus.

As aulas serão às segundas feiras, das 19h às 21h, no Colégio Equipe (R. Bento Frias, 223 - Pinheiros - tel: [11] 3814-2188), até 30 de junho e contarão com uma metodologia inovadora: aulas expositivas, exibição e análise de filmes, debates e atividades em grupo com a utilização de músicas, histórias em quadrinhos, fotografias etc. O curso está dividido em quatro módulos (Formação do olhar crítico - A linguagem cinematográfica; O Cinema Clássico - De Griffith a Hitchcock; O Cinema Moderno - Das vanguardas aos cinemas novos; Cinema e Contemporaneidade) e se destina a jovens a partir dos 14 anos. A mensalidade é de R$50,00 e a taxa de matrícula (referente ao preço de custo da apostila de textos) é de R$10,00.

A primeira aula, no dia 17 de março, tem caráter experimental: o aluno pode assisti-la gratuitamente sem o compromisso de permanecer durante todo o curso.
Para demonstrar interesse ou tirar dúvidas, enviar e-mail para cineclube@colegioequipe.g12.br com nome e idade.

Mais informações e programação completa do curso em http://www.cineclubeequipe.blogger.com.br/

Núcleo de Cultura do Instituto Equipe Cultura e Cidadania

terça-feira, 11 de março de 2008


1) Este post segue a onda iniciada em blogs amigos de enumerar diretores preferidos e colocar cotações para os filmes vistos (como no blog do Carlão Reichenbach). Só que eu pretendo colocar também diretores que não estão entre os meus preferidos, mas que eu sempre faço questão de seguir. Exemplo: Oliver Stone, de quem só gosto de dois filmes (Talk Radio e Alexandre), mas faço questão de ver tudo que ele dirige (com a exceção de Torres Gêmeas - qualquer dia eu crio coragem).

2) Esse tipo de post não terá uma periodicidade definida. Mesmo porque colocar só cotações por aqui acaba cansando. Vai ocorrer quando me der vontade, quando houver um pedido especial (motivado por alguma mostra, ou revisão de algum filme), ou quando eu sentir que o blog precisa de atualização (como é o caso agora).

3) Não poderia começar com outro diretor que não o que me fez ficar passado mais vezes numa sala de cinema:

Don Luis Buñuel

O Cão Andaluz (Un Chien Andalou, 1929) * * * * *
A Idade do Ouro (L'Âge D'Or, 1930) * * * * *
Las Hurdes (1933) * * * * *
Gran Casino (1947) * * *
El Gran Calavera (1949) * *
Os Esquecidos (Los Olvidados, 1950) * * * * *
Susana, Mulher Diabólica (Susana, Demonio y Carne, 1951) * * * *
La Hija del Engano (1951) * * *
Subida al Cielo (1952) * * *
Uma Mulher Sem Amor (Una Mujer Sin Amor, 1952) * * *
El Bruto (1953) * * *
O Alucinado (El, 1953) * * * * *
Escravos do Rancor (Abismos de Pasión, 1954) * * * *
A Ilusão Viaja de Bonde (La Ilusioón Viaja en Tranvía, 1954) * * * *
Robinson Crusoe (1954) * * * *
El Rio y la Muerte (1955) * * *
Ensaio de um Crime (La Vida Criminal de Archibaldo de la Cruz, 1955)
* * * * *
Cela S'Appelle L'Aurore (1956) * * * *
La Mort en ce Jardin (1956) * * *
Nazarin (1959) * * * * *
Os Ambiciosos (La Fièvre Monte à El Pao, 1959) * * *
A Adolescente (The Young One, 1960) * * * *
Viridiana (1961) * * * * *
O Anjo Exterminador (El Ángel Exterminador, 1962) * * * * *
Diário de uma Camareira (Journal d'un Femme de Chambre, 1964)
* * * *
Simão do Deserto (Simon del Desierto, 1965) * * * * *
A Bela da Tarde (Belle de Jour, 1967) * * * * *
A Via Láctea (La Voie Lactée, 1969) * * * * *
Tristana (1970) * * * *
O Discreto Charme da Burguesia (Le Charme Discret de la Bourgeoisie, 1972)
* * * * *
O Fantasma da Liberdade (Le Fantôme de la Liberté, 1974)
* * * * *
Esse Obscuro Objeto do Desejo (Cet Obscur Objet du Désir, 1977)
* * * * *

segunda-feira, 10 de março de 2008

Finalmente atualizamos o site da Paisà. Até o final do mês as coisas devem entrar nos eixos.

www.revistapaisa.com.br

domingo, 9 de março de 2008

Pesadelo Mortal (Cigarette Burns, 2005), de John Carpenter
* * * *

Aos poucos estou tirando o atraso com a série Masters of Horror. Primeiro vi Pelts, episódio de Dario Argento para a segunda etapa. Agora vi Pesadelo Mortal, o impactante episódio de John Carpenter para a primeira etapa da série. Um colecionador contrata um exibidor para procurar um filme raríssimo e maldito. Cigarette burns são as marcas feitas na película para avisar que o rolo está acabando. O título nacional pode até ser mais fiel ao que a trama propõe, mas perde todo o efeito lúdico que Carpenter pensou. O filme é pontuado com as marcas, que aparecem quando há um distúrbio mental violento com o exibidor/pesquisador. Como que tomado pelo espírito do filme, ele se torna violento e capaz de qualquer coisa. Como o episódio deve ter menos de uma hora, algumas coisas acontecem rápido demais. Muito rapidamente vemos ele encontrar a cópia, quando sabemos que deu o maior trabalho localizá-la. Como alguns personagens aparecem e desaparecem sem serem desenvolvidos, temos uma maior concentração de cenas de gore, e Carpenter não poupa momentos grotescos e ultra-violentos, reforçados por um eficiente trabalho com o som. Não me incomodei com as imagens de O Fim Absoluto do Mundo, o tal filme maldito (ao contrário de Ana Paul, que comentou o filme em seu blog no multiply - link ao lado). Achava até que podia ter mais cenas do filme, porque Carpenter havia conseguido incutir uma atmosfera de medo próximo, de desgraça iminente, que faria com que cada plano mostrado do fim absoluto fosse assombroso ao extremo. A tônica acabou sendo o que acontece na mente de quem se aproxima do filme, e o resultado dessa aproximação é forte o suficiente para nos deixar impressionados.

sábado, 8 de março de 2008

Uma foto melhor de Mari Töröcsik em Elektra. Agradecimentos a Maurício Kern.


De vez em quando dou uma folheada em revistas antigas - coisa de viciado em publicações impressas - e desta vez a escolhida foi uma Films and Filming de junho de 1982. Trata-se de uma revista inglesa que sempre fazia matérias imensas com atores, nem sempre conhecidos, de todas as partes do mundo. Nessa edição me chamou a atenção uma entrevista com Mari Töröcsik, a Elektra de Miklós Jancsó, filme que eu vi com legendas em francês, numa época em que eu não sabia nem o que significava voilá. Era uma época de muito apetite cinefílico, e eu lembro de ter ficado apaixonado por Mari, apesar de ter entendido muito pouco do filme. Um trecho da entrevista me chamou a atenção, quando ela fala da admiração pelo cinema russo, e especialmente por Elem Klimov, cineasta de cujos filmes eu nunca me aproximei - mais por esquecimento do que por qualquer outra coisa. Ela diz que os filmes de Klimov, assim como os de Tarkovsky, seguem a tradição dos grandes escritores russos Chekhov e Dostoievsky... uau... e encerra esse trecho da entrevista com: "I respect people like Paul Newman and Joanne Woodward, who act in commercial successes, then use their money to make real films". Curioso. Pesquisando sua filmografia no imdb, descobri que ela está um belíssimo filme de Márta Mészáros, Diário para Meu Pai e Minha Mãe (1990), terceira e melhor parte de uma trilogia iniciada em 1982 com Diário Para Minhas Crianças. Vontade de rever, e desta vez entender, o Elektra de Jancsó, e de retornar ao cinema de Mészáros, que me encantou bastante quando a TV Cultura exibiu alguns de seus filmes.

Curiosidade: uma página com capas da Films and Filming de 1971 até 1977:

http://www.flickr.com/photos/nicdafis/sets/1543342/

quinta-feira, 6 de março de 2008



É, por mais que eu goste de Os Indomáveis, a versão do James Mangold, ela não chega aos pés da versão original, de Delmer Daves, que foi chamado no Brasil de Galante e Sanguinário. Não gosto muito de comparar remake com original, ou duas adaptações diferentes de um mesmo livro. Mas isto aqui é simplesmente um blog, espaço livre para associações que me derem na telha. O ponto forte do filme atual, que é a contaminação do faroeste clássico americano pelo western spaghetti (as terminações foram propositais) - a frase "moral não tem nada a ver com isto" não está no filme à toa -, se revela pouco quando vemos a precisão com que Daves constrói a ligação entre o herói e o bandido, em noções bem grosseiras que o filme faz questão de desmistificar. Basta um plano (resumido na terceira foto de cima para baixo), próximo do final de Galante e Sanguinário, para nos ratificar da arte da sugestão e da economia de informação. Como dois elementos fortes não podem brigar em cena, Daves faz com que a mulher recém-chegada entre em cena bem na frente do amigo frágil que aparecia enforcado no saguão do hotel. Um plano magistral, como outros que Daves, diretor sempre subestimado, criou para o filme. Muitos podem argumentar que os planos vieram da cabeça do diretor de fotografia, Charles Lawton Jr., e é bem possível que isso tenha acontecido. Mas lembro de planos semelhantes nos anteriores A Casa Vermelha e Flechas de Fogo, e no posterior A Árvore dos Enforcados, todos filmes que tiveram diferentes diretores de fotografia - ao contrário do excelente Jubal, que teve o mesmo Lawton Jr. Para ficar só nos que eu lembro de terem me impressionado pela plasticidade funcional de alguns planos. Talvez esteja mais do que na hora de algum tipo de retrospectiva desse diretor.
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em tempo: Russel Crowe talvez seja melhor que Glenn Ford, tecnicamente (e eu preciso rever vários filmes com Ford para me certificar disso); mas Christian Bale, que melhorou bastante de Velvet Goldmine até hoje, empalidece feio diante de Van Heflin.



As Safadas (1982)

1) Rainha do Flipper - Carlos Reichenbach * * *
2) Uma Aula de Sanfona - Inácio Araujo * *
3) Belinha a Virgem - Antonio Meliande * *

Três episódios que apresentam um crescendo de malandragem. O melhor e mais triste é o de Reichenbach, que mostra o desenlace com um tempo que não volta mais, e serve de metáfora para a situação vivida pela Boca do Lixo no início dos anos 80, prestes a se dinamitar com o cinema de sexo explícito. Zilda Mayo é a exímia jogadora de flipperama (o pornô), que ensaia um retorno a seu namorado de outrora (a pornochanchada), mas termina vendendo sua dignidade para angariar alguns trocados jogando flipper com gazeteiros. O de Inácio (foto) é o mais ousado, pois envolve pedofilia. Poderia ser melhor se todo o elenco estivesse à altura de Claudio Mamberti. Mas o plano inicial, com as janelas do prédio se definindo pela luz que as ilumina de dentro, é um primor, o melhor entre todos os episódios. O de Meliande é o mais safado, com Vanessa Alves no auge da beleza e conseguindo seduzir até mesmo o padre que devia constatar sua virgindade. O rosto do padre com o suor do gozo no final alia ousadia herética à mais perfeita elegia ao corpo feminino.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Post BBB

Um duelo interessante começa a se intensificar nesta edição do BBB, até agora a mais fraca de todas que eu vi (eu não vi a 3 e a 4). É o duelo entre Marcelo e Rafinha. Já gostei dos dois, já odiei os dois. Ambos já fizeram boas jogadas, mas também muitas besteiras. Marcelo é melhor jogador, mas seu ego é um grande inimigo. Rafinha é meio bobo, e fica indeciso entre adotar uma estratégia de conflito ou uma mais cautelosa. Creio que para os dois seja melhor o que eles estão fazendo: estudar o adversário, sem atacar um ao outro. Gyselle deve ter se arrependido do afastamento de Marcelo, mas se voltar atrás (e talvez esteja voltando atrás neste momento, não sei) pode se queimar no jogo. Se não voltar, pode ficar isolada, e perder parte de sua popularidade. Ter se afastado do doutor foi sua pior jogada até agora. Se Marcelo saísse, o jogo ficaria mais entediante do que está. Como ele ficou, podemos finalmente desfrutar boas jogadas daqui pra frente, tanto dele quanto do Rafinha, pois ambos parecem ter sacado como está configurado o jogo. Marcos e Tathiana são um saco só, mas talvez sejam necessários para servir de sparring para os dois melhores jogadores, mais a Gyselle que corre por fora. Torço para que todos joguem o melhor que puderem. Mas já começo a desconfiar que a chata da Natália ganhe a parada. Ah, não aguento ver nem dois minutos das festas. E tem gente que compra o pay per view só por causa delas... vai entender.

Do Hotel em BH até o Aeroporto de Congonhas = 2 horas e 45 minutos. De Congonhas até minha casa, na Mooca, bairro quase central de São Paulo, e a menos de uma hora a pé da Praça da Sé = 2 horas e 30 minutos. Assim percebo que há algo de muito errado no transporte público desta cidade.

terça-feira, 4 de março de 2008



Cotações dos filmes vistos ou revistos na 1ª Mostra Filmes Polvo de cinema e crítica - entre a reflexão e a realização.


Almas Passantes - Cléber Eduardo e Ilana Feldman (2007) * * *
Crítico - Kleber Mendonça Filho (2007) * * *
Um Sol Alaranjado - Eduardo Valente (2001) * * *
Menina de Algodão - Kleber M. Filho e Daniel Bandeira (2002) * * * *
Vinil Verde - Kleber Mendonça Filho (2004) * * * *
Eletrodoméstica - Kleber Mendonça Filho (2005) * * * *
Noite de Sexta Manhã de Sábado - Kleber M. Filho (2007) * * * *
Curra Urbana - Tiago Mata Machado (1998) * *
Perdidos e Malditos - Geraldo Veloso (1970) * * * * *
Filme Demência - Carlos Reichenbach (1985) * * * *
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1) a foto é do melhor filme exibido no evento: Perdidos e Malditos (com Noite de Sexta Manhã de Sábado muito perto).
2) procurando fotos do filme no google, achei essa, justamente da crítica que eu escrevi em 2001, quando conheci o filme (e é uma das poucas daquela época que não me dão vergonha, apesar de algumas gorduras):

segunda-feira, 3 de março de 2008

De volta a São Paulo. Foi uma delícia o evento do Filmes Polvo. Um primor de organização e paixão por cinema. Nos tempos de internet e facilidade de acesso a muitos filmes essenciais, a cinefilia ficou muito mais fácil, mas o que aconteceu comigo - acumular mais de uma década de cinefilia antes de me tornar crítico (e nem sei se isso me ajudou ou prejudicou) - hoje é praticamente um fenômeno inexistente. O cinéfilo já nasce crítico, porque quer expressar o que pensa sobre os filmes em um blog, site pessoal, ou em listas de discussões e comunidades no orkut. Conforme disse um mediador polêmico de Belo Horizonte, isso gera muita, mas muita mediocridade. Mas é assim em todos os ramos, não? Devemos, cada vez mais, tomar cuidado para saber separar o que é bom. E os jovens do Filmes Polvo, capitaneados pelo experiente papai polvo Rafael Ciccarini e sua companheira Ursula Rösele, estão entre os que merecem maior atenção.

sábado, 1 de março de 2008

Estou em Belo Horizonte, participando da comemoração de 1 ano do Filmes Polvo (www.filmespolvo.com.br). Quando voltar a Sampa comento o evento. Para não deixar o blog desatualizado, e aproveitando que Senhores do Crime está em cartaz, repriso aqui a filmografia comentada de David Cronenberg que fiz na número zero da Paisà.

Stereo (1969)
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Futurismo com narração como forma de driblar a ausência de som direto. Experiências visando a estimulação do sexo por telepatia em jovens casais privados do poder de falar. Obra fria e racional, como a de um cirurgião em ação.

Crimes of the Future (1970)
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Na mesma onda futurista, só que mais confuso e disperso. A estranheza está no fato de que, ao contrário de seu irmão Stereo, a história é muito mais elaborada que a forma.

Calafrios (Shivers, 1975)
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O primeiro de uma trilogia B, que homenageia os filmes que encantaram Cronenberg na infância. Uma autêntica obra-prima de ironia e desespero, com o herói impotente cronenberguiano, que seria retomado em vários filmes posteriores, finalmente dando as caras.

Enraivecida, na Fúria do Sexo (Rabid, 1977)
* * * *
Segunda parte da trilogia B. Marilyn Chambers, uma conhecida atriz pornô, faz a mulher que tem uma vagina na axila. Dessa vagina brota um falo que suga o sangue das pessoas. Um dos finais mais secos e cruéis da carreira do diretor.

Fast Company (1979)
* *
Os automobilistas e seus carros. Mexem nos motores como cirurgiões. Mas Cronenberg não parece muito a vontade nesse terreno de corridas e mulheres.

Os Filhos do Medo (The Brood, 1979)
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Derradeiro ato da trilogia, e um de seus melhores e mais perturbadores filmes. Poucos resistem à cena em que Samantha Eggar lambe um filho monstrengo que acabara de parir, frente ao olhar incrédulo de seu marido. O mundo está prestes a ser dominado por personificações da raiva humana.

Scanners – Sua Mente Pode Destruir (Scanners, 1981)
* * * *
Uma cabeça explodindo logo no começo do filme faz com que todos achem que a cada ação dos Scanners uma nova cabeça irá explodir. Toque de gênio. A cena de uma scanner sendo “escaneada” por um bebê ainda na barriga da mãe já é um clássico do horror psicológico.

Videodrome – A Síndrome do Video (Videodrome, 1983)
* * * * *
A transmutação do corpo humano em uma nova forma de comunicação. O apocalipse segundo Cronenberg, via domínio das ondas televisivas. James Woods e Deborah Harry atuam neste que é considerado um dos grandes filmes do diretor.

Na Hora da Zona Morta (Dead Zone, 1983)
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Um acidente, um poder paranormal, o mundo a salvar. Tipicamente Cronenberguiano, mas baseado em romance de Stephen King, com Christopher Walken no papel principal. A seqüência final é digna de antologia.

A Mosca (The Fly, 1986)
* * * *
Jeff Goldblum pode causar estranheza a muita gente, mas ele está muito bem como o cientista que falha em um experimento e vai, gradativamente, se transformando em uma mosca. A solução final é tocante e muito triste.

Gêmeos - Mórbida Semelhança (Dead Ringers, 1988)
* * * * *
Basta um plano, já no final, com os instrumentos que os doutores gêmeos haviam criado, para fazer gelar o corpo de qualquer um que esteja assistindo ao filme. O rosto pétreo de Jeremy Irons ajuda a conferir aos doutores uma aura de anjos caídos brincando de alterar a anatomia humana.

Mistérios e Paixões (Naked Lunch, 1991)
* * *
Almoço Nu por Cronenberg, em um trabalho doido, mas frio. Há muito cálculo no filme, talvez porque se temia o risco de filmar o infilmável. Pois era necessário correr mais riscos.

M. Butterfly (1993)
* * * *
Um homem se apaixona perdidamente por outro, pensando se tratar de uma mulher. Faz sexo com ele, e acredita depois que o engravidou. O que seria isso senão a verdadeira reconfiguração do corpo humano? Poucos perceberam que o personagem interpretado por Jeremy Irons é um romântico incurável, e que seus desejos podem, sim, se materializar.

Crash – Estranhos Prazeres (1996)
* * * * *
Após um forte acidente de carro, o marido (James Spader), pergunta à esposa (Deborah Kara Unger): “Você se machucou?”, ao que ela responde negativamente. Ele, então, acrescenta: “Na próxima você consegue, amor”. Precisa dizer mais? Prazer associado à dor. A mente humana sendo dissecada pelo mais implacável dos cirurgiões: David Cronenberg.

eXistenZ (1999)
* * * *
Um orifício similar ao anal serve de entrada para o jogo que dá nome ao filme. Um Videodrome atualizado, com os agentes do apocalipse agem dentro de um jogo, que termina por se confundir com a realidade.

Spider – Desafie sua Mente (2002)
* * *
A mente perturbada de um homem, que se acha responsável pela morte da mãe. Cronenberg embaralha as cartas para o espectador, e o que ficamos sabendo é o tanto que o protagonista sabe.

CURTAS: Não vi Transfer, mas o igualmente raríssimo From the Drain, feito um ano depois (1967) é um exercício bobo de estilo, com dois caras sentados em uma banheira e discutindo a respeito de ataques de coisas sinistras que viriam do ralo. Bem mais adiante, em 2000, Les Carlson é o ator que enfrenta a morte sonhada em Camera, filme de 6 minutos que mostra crianças preparando-se para filmar o ator com uma câmera antiga que acharam sabe-se-lá-onde, Um belo e pequeno filme, com a câmera se aproximando do rosto do ator enquanto ele discorre sobre um sonho sinistro que havia tido há muito tempo. Na verdade, foi Cronenberg que teve esse sonho e quis explorá-lo em um curta-metragem.

ATUALIZAÇÃO:

Marcas da Violência (A History of Violence, 2005)
* * * * *
Uma obra-prima da economia. Tudo direto, sem firulas. Lembrei de Joseph H. Lewis ao ver o filme pela primeira vez. Depois, revi mais quatro vezes, chorando nos mesmos momentos.

Senhores do Crime (Eastern Promise, 2007)
* * *
Vi em um mal dia no final da Mostra SP. Revisão urgente.

obs: o episódio dele para Chacun Son Cinema é muito bom e perturbador.

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e antes tarde do que nunca, nosso querido Cid Nader agora tem um blog:

http://www.cinequanon.art.br/cidblog

Não deixem de visitar.