terça-feira, 31 de julho de 2007


Meus dois tostões sobre o grande cineasta:

Não lembro quando e com qual filme se iniciou minha relação com Ingmar Bergman, mas lembro bem que amigos do primeiro semestre da faculdade me alertavam para a lentidão de seus filmes; e o mesmo professor que havia me alertado sobre a chatice e a incontornabilidade de Limite adorava a maior parte de seus filmes. Talvez tenha sido algum que existia em VHS na época. Poderia afirmar, quase com certeza, que foi com Da Vida das Marionetes que eu entrei em seu mundo. Entrava pela porta errada, portanto, não porque o filme era ruim, mas porque certamente não era o mais indicado para um iniciante. Por esses dias lembro de ter visto, na Band, e com legendas, o belíssimo Fanny & Alexander, que pode ser uma boa maneira de se iniciar, mas certamente não a mais acachapante. Depois A Hora do Amor, com Eliott Gould, filme que achei mediano, e nunca revi.

Fui conquistado, ou melhor, arrebatado, quando Morangos Silvestres reestreou no circuito paulistano, e eu fiquei atordoado na antiga poltrona do Cinearte - que naquela época era um só, e não era tão ruim quanto em seus últimos anos de vida, antes de seu nome mudar para Bombril. Meu amigo e futuro sócio Alexandre Carvalho dos Santos estava comigo e percebeu que eu mal tinha condições de concatenar duas idéias inteligíveis. Aí era só passar Bergman em cineclubes que eu cabulava aula pra ver. Corri certa vez, literalmente, para ver A Fonte da Donzela, na Cinemateca que na época ficava em Pinheiros, onde hoje funciona a Sala UOL. Depois encarei o pulguento Cineclube Veneza - aquele que insistia em lugares numerados - para ver vários de seus filmes em cópias riscadas e com legendas em espanhol. Foram minhas primeiras visões de O Silêncio, Face a Face, Cenas de um Casamento, Persona, Gritos e Sussurros, Através de um Espelho, O Ovo da Serpente (que ao contrário de quase todo mundo em qualquer época, gostei bastante), Sonata de Outono e O Sétimo Selo e mais alguns que eu estou esquecendo - foi uma mostra bem ampla aquela do Veneza. Alguns desses eu revi em condições melhores, outros continuam só na lembrança.

Lembro que Noites de Circo eu conheci no dia em que completei 20 e poucos anos, num outubro do começo dos anos 90, dentro da Mostra Internacional de São Paulo. Na mesma época conheci Sorrisos de uma Noite de Amor, No Limiar da Vida, e outros mais. Todos vistos no MIS, com legendas em inglês - a mostra não tinha legendagens eletrônicas na época. Nesse momento ele já era um dos meus diretores favoritos.

O que é certo é que eu nunca pensei em gargalhar num filme do Bergman, mas gargalhei à beça em A Prisão - todo o CCSP gargalhou - no pequeno curta de cinema mudo inserido no meio do filme. Foi, sem brincadeira, uma das vezes que eu mais ri numa sala de cinema, tanto quanto na primeira vez que vi Go West, de Buster Keaton, ou A Morte de um Burocrata, do Alea.

Bem, voltando ao sueco, mais tarde descobri O Rosto, A Hora do Lobo, Luz de Inverno. Ele tem um bom número de obras-primas, com meus preferidos de sempre sendo Persona, O Sétimo Selo, Gritos e Sussurros, Morangos Silvestres e Noites de Circo. Mas quase todos os seus filmes eu descobri nos cinco primeiros anos de cinefilia. Revi poucos desde então. Falha minha, eu sei.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

II Festival de cinema latino-americano de São Paulo - encerramento

Merecidamente, e por unanimidade, o filme chileno Arcana, de Cristóbal Vicente, ficou com o prêmio do juri da crítica. Outro que poderia ganhar, e que é tudo que Larry Clark faria se quisesse entender mesmo os adolescentes, é Glue, de Alexis dos Santos. O prêmio do público ficou com Que Tan Lejos, simpático road movie equatoriano de Tania Hermida.

Canal Brasil

Pelo jeito não foi a primeira vez, mas aconteceu de novo. O Canal Brasil exibiu, na semana passada, Oh, Rebuceteio!, de Cláudio Cunha, filme inteligentíssimo que coloca o espectador contra a parede com suas cenas generosas de sexo explícito. É o próprio Cunha, no papel do diretor de teatro que ensaia uma peça, que olha para a câmera, pedindo para o espectador se soltar também, e se livrar das amarras.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Começou nesta terça o II Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo. Não vai dar tempo de postar todos os dias, e por isso eu vou deixar de fazer a cobertura diária no blog de festivais da Paisà. Farei apenas o texto crítico no final do Festival, a entrar na próxima mega atualização do site. Mas coloco aqui as indicações que surgirem nesses próximos dias.

A primeira é o excelente filme de Tomás Gutierrez Alea, As Doze Cadeiras, de 1962. São farpas para todos os lados, com o humor típico que podemos ver também em A Morte de um Burocrata. A segunda é o excelente documentário chileno Arcana, de Cristóbal Vicente, sobre os dois últimos anos de atividade de um presídio em Valparaíso. Construído como uma descida ao inferno, com música expressionista e um trabalho de som que confronta as imagens quase que o tempo todo, o filme é uma das maiores surpresas que tive neste ano.

Os outros dois filmes vistos não posso indicar com tanta força. Sofá-cama, de Ulisses Rosell, é simpático, como um sub-Martel mais comercial. E Al Outro Lado, de Gustavo Loza, é irregular demais, com o epísódio marroquino sendo o melhor dos três. O cubano é o pior, e o mexicano é mediano. Nesta quarta tem um Ripstein de 1973. Imperdível.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Revi Na Época da Inocência, de Martin Scorsese (1993). Já tinha lido, na época, que a influência maior sobre Scorsese havia sido de Daisy Miller, o filmaço de Bogdanovich, e não de Luchino Visconti. Isso me pareceu ainda mais claro agora que revi os dois filmes num curto intervalo de tempo. Scorsese procurou extender mais a duração de cada plano, e trabalhar com poucos e decisivos closes. O filme de Bogdanovich é mais coeso, redondo, com uma melancolia que se fecha muito bem, e uma câmera excepcional em seu virtuosismo moderado. E Na Época da Inocência é todo de implosão, com os personagens sendo arrebatados por emoções que eles mal conseguem conter. Scorsese, por incrível que pareça, é menos virtuosístico aqui do que Bogdanovich havia sido em seu filme, mas se permite deslumbrar com o décor, com os objetos de cena, como um mundano maravilhado pela aristocracia. Sua câmera passeia ansiosa pelos cômodos, mas Daniel Day-Lewis, numa das maiores atuações que eu já vi, controla um pouco o diretor, faz com que os tempos se adequem à sua interpretação. É uma dupla e tanto, que seria repetida apenas em Gangues de Nova York, outro filmão. Gosto de Di Caprio, mas imagino o que poderia sair se o parceiro constante de Scorsese nos últimos filmes fosse Day-Lewis.

domingo, 15 de julho de 2007

As listas que eu mandei para os melhores e piores do semestre segundo a Liga dos Blogues Cinematográficos. (Exilados era elegível)

MELHORES:

1. Maria
2. Exilados
3. Cão sem Dono
4. A Conquista da Honra
5. A Comédia do Poder
6. Cartola
7. Antonia
8. O Hospedeiro
9. Cartas de Iwo Jima
10. 500 Almas

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PIORES:

1. Ódiquê?
2. A Grande Família
3. Inesquecível
4. Caixa Dois
5. Babel

Curioso notar que com a estréia de Still Life e Medos Privados em Lugares Públicos em Julho essa lista terá modificações nos 5 primeiros lugares para a votação geral de 2007. E o ano ainda reserva mais estréias de peso.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Comentários descompromissados, à moda do início deste blog:

- Eu realmente não entendo o fascínio que Napoleon Dynamite (2004) exerce em alguns. O filme de Jared Hess é ainda pior que o posterior Nacho Libre, que é outra bobagem cometida por ele. A concepção visual é das mais imbecis. Kip conversa com o tio na porta de casa. Corta para Kip, no centro do plano médio, com o braço direito do tio aparecendo. Corta para o tio, no centro do plano médio, com o braço esquerdo de Kip aparecendo. Fica clara a tentativa de enquadrá-los sempre no centro, como um esforço que eles devem fazer para serem "enquadrados" na comunidade, no colégio, onde quer que seja. São seres diferentes buscando uma maneira de se anular sendo iguais aos outros, e infelizes por não conseguirem. Hess parece querer brincar também com o tempo do humor, sempre inusitado e impressionando pela imobilidade dos atores em cena. Mas não deu certo. E muito porque Jon Heder é ruim demais nesse filme, pelamordedeus. Em Escola de Idiotas ele nem tá grande coisa, mas tá muito melhor. O que prova que Jared Hess é pior que Todd Philipps. Aí nem com reza brava.

- Finalmente vi Carga Explosiva (The Transporter, 2002), de Cory Yuen. Começa bobo, mas depois esquenta. O que mais me impressionou foi o ritmo, com as seqüências de ação se alternando muito bem com as pausas para descanso. Jason Stathan é muito interessante como ator de ação. O final é um tanto murcho.

- Finalmente, mais uma chance para Walter Hill, o irregular diretor que passou os anos 80 fazendo filmes medianos, voltou a fazer algo de bom nos 90, mas nada que se comparasse aos seus ótimos três primeiros filmes, dos anos 70. Os Saqueadores (Trespass) é de 1992. E é bem fraquinho, convenhamos. Tenho certos entraves para aceitar uma comédia involuntária de erros, que só se justifica porque os personagens são extremamente burros, e fazem de tudo para piorar cada situação. O filme até tem seus momentos, e um final simpático (e previsível), mas é muito frouxo nas soluções dramáticas e no aproveitamento de atores que já renderam muito melhor - notadamente Ice T, Ice Cube e Bill Paxton

- Mais uma revisão de Ligado em Você (Stuck on You, 2003), o melhor filme de Peter e Bobby Farrelly. Momentos mágicos: o clipe informal de "Alone Again", grande hit de Gilbert O'Sullivan; a volta de Walt, com a jukebox o traindo; a primeira aparição do namorado adolescente de Cher; a cena no hospital com os médicos imigrantes dando uma falsa impressão (We lost them); Matt Damon dizendo "I'm alone" para um transeunte; "trinta centímetros" e muitos outros...

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Revisão de Daisy Miller (1974), de Peter Bogdanovich, com direito à faixa de comentários do diretor no DVD. É uma aula de cinema, como já havia sido a faixa de comentários de Lua de Papel, o filme anterior. Mas Bogdanovich não parece tão à vontade comentando o filme. Como ele mesmo diz, os pequenos erros do personagem lembram demais alguns pequenos erros que ele cometera, e que só iria perceber tempos depois. Bogdanovich ficou muito sentido com algumas críticas feitas à época do lançamento do filme, e parece nunca ter se recuperado delas. Daisy Miller e Lua de Papel são justamente os meus preferidos do diretor. O final de Daisy Miller, com aquele travelling para trás, se afastando do ator e do túmulo, aliado ao fade para branco, é um dos mais pungentes que eu já vi. É o grande filme sobre um homem que esnoba inconscientemente o que poderia ser o grande amor de sua vida.

Os amigos do começo da cinefilia, mais velhos que eu, ou da mesma idade, preferiam A Última Sessão de Cinema. Quase todos os amigos mais recentes, dos últimos dez anos, todos mais novos, preferem They All Laughed (os dois títulos em português são ridículos: Olhares Indiscretos - o da TV - é muito genérico e Muito Riso Muita Alegria - o do VHS - parece coisa do Gugu quando muito influenciado por Sílvio Santos). Gosto muito dos dois filmes, principalmente de They All Laughed, e também de Na Mira da Morte, Esta Pequena é uma Parada, Texasville, Cat's Meow. Mas o coração bate mesmo entre Daisy Miller e Lua de Papel. Um é o máximo da tristeza, traduzida brilhantemente pelo ator Barry Brown, que se suicidaria anos depois. Outro é o máximo da leveza, sem deixar de lado uma melancolia inerente ao período da Grande Depressão.

P.S. blog de TV da Paisà finalmente atualizado. Prestigiem
http://www.revistapaisa.com.br/tv/index.html



sexta-feira, 6 de julho de 2007

Revista Paisà em uma edição exclusivamente online.

www.revistapaisa.com.br

O destaque é o Tops Especial com os melhores filmes brasileiros de todos os tempos, de acordo com nossa equipe de redatores.

Espero que gostem.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Homenagem a João Cesar Monteiro, que tem seus filmes exibidos até domingo no CCSP. Tudo em DVD, mas tá valendo. Os filmes que eu vi:

Sophia de Mello Breynen Andresen (1969) * * *
Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço (1970) * * *
Fragmentos de um Filme Esmola (1972) * * * * *
Que Farei Eu Com Esta Espada? (1975) * * *
Veredas (1978) * * * * *
Silvestre (1981) * * * *
A Flor do Mar (1986) * * * *
Recordações da Casa Amarela (1989) * * * * *
O Último Mergulho (1992) * * * *
A Comédia de Deus (1995) * * * *
A Bacia de John Wayne (1997) * * * * *
As Bodas de Deus (1999) * * * * *
Branca de Neve (2000) * * * *
Vai e Vem (2003) * * * * *

obs: nunca sei que cotação dar a Branca de Neve. Seria 5 estrelas pela experiência e pelo enfrentamento, mas está um degrau abaixo dos que eu mais gosto. No meu caderno de notas, permanece uma interrogação. Aqui dou 4, só pra constar. Lembrando que ele é muito melhor apreciado visto em película e num cinema bem escuro (Cinesesc, por exemplo). Se puder ver apenas dois, que sejam Vai e Vem e Recordações da Casa Amarela.

terça-feira, 3 de julho de 2007


O jogo que reaparece em O Ano Passado em Marienbad exige domínio da lógica, memória e capacidade de antever jogadas futuras e suas possibilidades. É como o xadrez, só que muito mais simples. Tem tudo a ver com o filme, de uma simplicidade absurda, com uma fragmentação complicada pra danar - como seria nossa memória confusa, não? Como o marido sempre ganha o jogo, fica óbvio que ele detém um maior controle sobre sua memória, e o rapaz que persegue a Delphine Seyrig, que sempre perde no jogo, faz com que o filme se perca junto dele. Não tem como achar menos que obra-prima.
Aliás, revendo os Resnais para uma matéria na Paisà, fico achando que a grande fase de seu cinema é a que compreende A Vida é um Romance, L'Amour à Mort e Mélo. De 1983 a 1986. Em quatro anos, três filmes sensacionais. O do meio só não é obra-prima como os outros dois porque tem uma estrutura toda dividida em pequeníssimos atos, o que atenua um pouco todo o clima soturno. Imaginem Muriel com seus picotes intercalados por várias vinhetas que estariam no clima do filme. Seria um desastre. A graça é o picotado inusitado. Em L'Amour à Mort, paradoxalmente, não consigo imaginar como seria sem as vinhetas de neve caindo, mas que elas impedem uma fruição mais intensa, impedem. Pena que não vai dar tempo de rever tudo. Meu Tio da América, por exemplo, será sacrificado. Também não reverei Amores Parisienses, mas desse eu lembro muito bem. Talvez Quero ir para Casa dance também. Paciência. Amanhã é dia de Coeurs. Ansiedade a mil.