sábado, 30 de abril de 2005

Carlão Reichenbach fala muito bem do cinema de William Lustig. Tenho Uncle Sam gravado, mas nunca pude ver. Vi Relentless, filme que, nos momentos mais intimistas de vida em família, diálogos entre pai, mãe e filho, rende algo interessante. Como policial é corriqueiro, quando não constrangedor. Aqueles flashbacks mostrando o pai torturando o filho serial killer são muito ruins e primários. Robert Loggia totalmente desperdiçado como o parceiro mais velho. Tem um diálogo muito bom, em que o pai/policial pergunta pro filho algo como: "que tipo de garota você quer como esposa?", ao que o filho, menino na fase da misoginia inconsciente, retruca que não gosta de garotas. O pai então pergunta: "tudo bem, que tipo de rapaz você quer ter como marido, então?". Inesperado, e raro momento maluco em um filme comportado demais. Meg Foster, a mãe, e também atriz de Eles Vivem, é assustadora, com aqueles olhos transparentes. Não dá pra escalá-la fora do contexto em que Carpenter a colocou.

sexta-feira, 29 de abril de 2005

Dá pra ver O Vôo da Fênix como uma experiência com cores, puxando para variações entre o vermelho e o amarelo. Transformou o sépia do original numa palheta incandescente, infernal. Nesse ponto ele é bem interessante, nas cenas onde ele explora a imensidão do deserto, as dunas, criando abstrações visuais que são muito mais eficazes do que o trabalho com os atores. Nem é o caso de miscasting, pois John Moore não tem muita noção de como encenar sem fugir do lugar comum das frases feitas. O que a princípio era interessante, ver Giovanni Ribisi no papel do engenheiro de aviões de brinquedo, logo cai no déjà-vu das atitudes inconsequentes, como na histeria exagerada, algo que não cabia naquele personagem que até então estava sendo construído como um exemplo da introversão (um nerd que quer ser cool, ou algo do gênero).

quinta-feira, 28 de abril de 2005

Meia hora andando, a maior parte na subida, pra descobrir que Um Filme Falado, a penúltima obra-prima de Manoel de Oliveira, está em exibição digital, pelo menos no Espaço Unibanco. Desisti. Preferi ficar com a memória de quando foi exibido na Mostra de 2003, em película. Guilherme disse que no Arteplex também, e que a projeção é tosca. É caso de Procon, já que eles cobram o mesmo preço por algo que veio pra baratear. E de protestos em cima dos distribuidores. Vi Quase Dois Irmãos, Machuca e O Sétimo Dia em digital. Queria dar um prêmio a quem me convencesse de que é a melhor maneira de se ver um filme. Será que existe alguém que ache melhor o digital na hora de exibir o filme? Será que estou ficando maluco?

sábado, 23 de abril de 2005

Estou muito longe de ser um expert no cinema da Santíssima Trindade italiana formada por Mario Bava, Lucio Fulci e Dario Argento. De Argento conheço um pouco mais, mesmo assim, nunca revi os filmes que conheço, então não posso dizer que entendo perfeitamente seu cinema. A descoberta de Vozes Profundas, de Lucio Fulci, na última sessão dupla do Comodoro, me fez pensar na similaridade de intenções entre esse filme e o último Argento que vi (O Jogador de Cartas). Ambos me pareceram filmes que brincam com a própria carreira (algo que Fulci já tinha feito em Cat in the Brain), além de levar ao limite do risível os clichês do gênero. Um tipo de afronta à platéia preconceituosa que lhes negava prestígio, ou mesmo legitimidade. Entre os filmes citados, Vozes Profundas me agradou mais, talvez por ter algumas das melhores seqüências que vi no cinema de Fulci (as de sonho, por exemplo). E por conseguir realizar essa intenção paródica com mais ambigüidade.

segunda-feira, 18 de abril de 2005

Um top 5 Landis, já que eu revi um monte desde o ano passado.

1) Um Lobisomem Americano em Londres
2) Clube dos Cafajestes
3) Into the Night
4) Um Príncipe em NY
5) Os Irmãos Cara de Pau

sábado, 16 de abril de 2005

Gostei de Cabra-cega, o novo filme de Toni "Latitude Zero" Venturi. Filme que começa alternando bons e maus momentos, mas que vai deixando os maus momentos serem cada vez mais raros até o final da projeção. Na verdade, não são maus momentos, apenas momentos que destoam do restante. Penso sobretudo na relação de Tiago com Pedro, o anfitrião. Relação de mal entendidos e incoerências, principalmente da parte de Tiago, que devia ser o personagem mais interessante do filme, inclusive por Leonardo Medeiros ser um grande ator. Quem brilha mesmo é Débora Duboc, cuja única cena que não gosto é aquela do trailer (mandar chumbo...mandar chumbo...mandar chumbo), que não é ruim, e talvez tenha cansado pelo exagero da veiculação do trailer (exibido praticamente em todas as sessões no Arteplex). Ah...tem dois clichês que me incomodam: a cena da espiada no banho, batida, que nunca deveria ser levada a sério; e a cena de amor com mãos entrelaçadas (algo digno do cine privée). Todos os momentos em que eles estão juntos, excetuando a cena de amor, conseguem uma empatia imediata. Destaco duas: quando ela chega, e ele escuta o disco de exílio do Caetano ("...I feel a little more blue than that..."); e quando sobem no terraço, e a canção mais famosa do genial Sérgio Sampaio é tocada do início ao primeiro refrão. Belissima utilização para música de beleza inigualável. O final, que pode gerar controvérsia, pelo que tem de lúdico e fantasioso, ou até utópico, me arrebatou também. E a dúvida entre razoável e bom se desfez imediatamente.

sexta-feira, 15 de abril de 2005

Entrando na onda dos blogs amigos - os meus 25 de hoje:

em ordem cronológica:

Aurora (Murnau, 27)
Terra (Dovjenko, 30)
O Testamento do Dr. Mabuse (Lang, 33)
L'Atalante (Vigo, 34)
Paraíso Infernal (Hawks, 39)
A Sombra de uma Dúvida (Hitchcock, 43)
Crepúsculo dos Deuses (Wilder, 50)
O Rio Sagrado (Renoir, 50)
Noites de Circo (Bergman, 53)
O Intendente Sansho (Mizoguchi, 54)
Rastros de Ódio (Ford, 56)
A Marca da Maldade (Welles, 58)
O Ano Passado em Marienbad (Resnais, 61)
Dois Destinos (Zurlini, 62)
O Anjo Exterminador (Buñuel, 62)
O Leopardo (Visconti, 63)
Oito e Meio (Fellini, 63)
Bunny Lake is Missing (Preminger, 65)
Pierrot le Fou (Godard, 65)
Faces (Cassavetes, 68)
Josey Wales (Eastwood, 76)
Roleta Chinesa (Fassbinder, 76)
O Rio dos Vagalumes (Sugawa, 88)
Vale Abraão (Oliveira, 93)
Cassino (Scorsese, 95)

não quero nem pensar nas ausências pra não ficar triste.

quarta-feira, 13 de abril de 2005

Duas buxadas de bode e uma maravilha:

Violação de Privacidade pode ser qualquer coisa, menos a alegoria autoral que o título original fazia crer (The Final Cut). O filme perde-se nas atitudes pueris dos personagens, nos planos óbvios que não conseguem criar o menor suspense (penso nos dois planos de Robin Williams percebendo que tem gente em sua casa), na cara de mãe arrependida de Williams, na trama mongolóide, nos flertes sci-fi equivocados (ah...a velha mania de botar madeira e botões rústicos em máquinas de última geração). Até um plano que poderia ser belo, é tomado pelo ridículo (Robin Williams editando, em pé, enquanto as imagens que ele vê são projetadas por toda a tela). A perseguição no cemitério é um belo exemplo de falta de noção de espaço do diretor, Omar Naïm. Esperava muito de mais essa tentativa de reflexão sobre criação e manipulação de uma memória.

Assalto ao 13° DP é um remake desnecessário do filme do Carpenter. Jean-François Richet até tem certo domínio de quadro e tempo, mas tudo o que acrescentou ao original desandou. As explicações freudianas vinculadas ao personagem de Ethan Hawke são muito pobres, e servem apenas para provar o esquematismo de um filme onde tudo é causa e efeito. A fuga dos dois ladrões é uma das besteiras de um roteiro cheio de situações colocadas sem muito pensamento. Tipo: "ah...vamos criar um conflito e mostrar que isso prejudica o grupo acuado"..."ah...vamos dificultar ainda mais para os nossos heróis...vamos fazer com que sobrevivam a explosões e armas poderosíssimas"..."vamos amplificar a clausura". Bobagem esquecível.

E o que dizer de Faces? O que dizer das pessoas que habitam o mundo de Cassavetes? Como não chorar com Seymour Cassel? Como não se apaixonar por Lynn Carlin? Existe muito mais respeito pela vida e pelo que é humano na seqüência da reanimação de Carlin do que na vida inteira de João Paulo 2°. "Cry, honey...that's life...tears are happiness". Há uma capacidade notável de captar olhares, anseios (como na presença de Cassel entre as quatro amigas, ou na chegada do marido em crise à casa da amante Gena Rowlands). A câmera sempre tateando, às vezes bem próxima dos atores, às vezes chegando, aparentemente sem querer, a um plano de incrível beleza plástica. Mas nota-se o quanto o filme é bem pensado, e o talento maior de Cassavetes é esse: colocar-nos bem no cerne dos mais belos dramas humanos, como se estivéssemos ali, o que exige muita preparação e ensaio, além de precisão e sensibilidade no corte. Há, acima de tudo, uma grande melancolia permeando tudo, como uma compreensão de que é muito difícil viver, mas que vale a pena. E que a tristeza existe como forma de vida, que o choro é essencial. (Cassel, no filme: "As pessoas não têm tempo para serem vulneráveis umas às outras"). Vulnerabilidade é o que se encontra em qualquer pessoa nos filmes de Cassavetes. Por isso são tão interessantes esses amigos, burgueses ou não. Afinal, quem quer ter uma fortaleza como amigo? Bem...cinco dias se passaram, e eu ainda estou pasmo, sem saber o que dizer. Só sei que Faces é um dos 10 filmes que mais gosto atualmente.

quinta-feira, 7 de abril de 2005

A Vida é um Milagre segue fielmente a vontade de Kusturica de reunir a Yugoslávia. Para isso, ele continua mostrando que croatas e sérvios têm aquela loucura desmedida e cigana, o que sempre lhe conferiu o apelido equivocado de Fellini dos balcãs. Sua loucura não é auto-centrada como a do mestre italiano, mas existe como algo intrinseco à alma cigana. O filme flui e absorve toda essa loucura, e não se desenvolve a partir dela, como em Fellini, mas dentro dela. Cansa, é fato, principalmente quando toma parte do filme. A medida em que o romance entre a croata e o sérvio se desenvolve, o filme ganha uma beleza incomum. O incrível é que Kusturica continua sem medo de errar. No meio de uma seqüência devastadora de boa, tem sempre uma ou outra pequena gordura. Um corte demorado, um plano a mais, ou uma situação mal resolvida na comicidade. Bem melhor que Gata Branca, mas ainda distante dos dias de Vida Cigana e Underground.

quarta-feira, 6 de abril de 2005

Se tem uma coisa que incomoda em cinema, não sempre, mas frequentemente, é o excesso de narração. No entanto, vários filmes utilizam muito bem o off, sem querer dar à imagem uma força que originalmente ela não tem. É o caso de Cassino, claro, mas também de Crepúsculo dos Deuses, A Condessa Descalça, vários outros que minha memória insiste em sabotar no momento, e, O Rio Sagrado, de Jean Renoir. Tirando toda a narração, teremos outro filme, sem dúvida. Mas não um filme pior, pois as imagens continuariam ali, encantando nossos olhos. Scorsese diz, nos extras do excelente DVD da Criterion, que O Rio Sagrado, ao lado de Red Shoes (Sapatinhos Vermelhos) são os mais belos filmes no uso das cores. Bem, ele esqueceu de vários Minelli e vários Sirk. Esqueceu muitos outros. Mas que o colorido do filme é de deixar boquiaberto, não resta dúvidas. Bege e verde predominam, com um vermelho aqui e ali pra tumultuar os corações. Mas as imagens são belas também por causa do que está por trás delas. A beleza aparente se torna menor diante do intenso drama humano que elas mostram. De resto, um primeiro amor retratado com tal delicadeza é algo a se rever de tempos em tempos. E a cena do primeiro beijo em outra pessoa é de antologia. Assim como as cartas caindo quando o bebê nasce. Deveria estar em qualquer programa escolar.

terça-feira, 5 de abril de 2005

Continuando com o hábito de defender o esquecido Peter Yates, resolvi ver o DVD de Nossa, Que Loucura (For Pete's Sake, 1974). O filme é até engraçado em alguns momentos, mas, não sei dizer exatamente como, deixa a desejar. E não é culpa da Barbra Streisand. Uma tentativa de prosseguir no caminho de Essa Pequena é uma Parada, do Bogdanovich. Só que é um filme bem menos maluco e bem menos engraçado. Yates vinha de Os Amigos de Eddie Coyle, um baita filme, mas resolver tentar a comédia maluca e se deu mal. O que me incomoda é que eu não consigo escrever sobre o que não me agrada no filme. Essa incapacidade crítica me deixa mais insatisfeito ainda. Como se o filme fosse um enorme bolo sem recheio, ou um enorme saco plástico cheio de ar.

Em compensação, Krull, devidamente revisto após pelo menos 15 anos permanece uma agradável aventura. Filme brega e desavergonhado de sê-lo, com espadas duelando com raios laser. Uma espécie de "aventura de Simbad" atualizada para a época Star Wars. Filme que diz muito sobre o ano em que foi feito, 1983. Foi o ano do visual new-wave, dos neons, dos cabelos com permanente. É o filme mais abertamente arriscado de Yates, em contraponto ao Fiel Camareiro, o mais "de prestígio", feito por ele no mesmo ano. Ano em que O Retorno de Jedi dividia o circuito com Fanny & Alexander. Várias tomadas parecem existir só pra mostrar o dinheiro gasto na produção: gruas desnecessárias, planos gerais para mostrar os extras, efeitos vindo da forma mais inusitada possível. Apesar de tudo, o filme diverte, e muito. Peter Yates enquadra bem, movimenta muito bem a câmera (mesmo com os exageros citados), e tem plena consciência de que está emulando um tipo de cinema que saiu de moda, fazendo-o parecer com algo que estava em moda. Mas começo a achar que este texto está mais confuso que o filme...

sexta-feira, 1 de abril de 2005

Março (em negrito, as revisões):

Mar Adentro - Alejandro Amenabar (Arteplex 9) *
Machuca - Andrès Wood (Arteplex 4) *
O Diabo Provavelmente - Robert Bresson (VHS) * * * *
Menina de Ouro - Clint Eastwood (Arteplex 2) * * * *
Vive-se Uma Só Vez - Fritz Lang (VHS) * * * *
O Amigo Oculto - John Polson (Arteplex 3) 0
Prova de Amor - David Gordon-Green (DVD) * *
Bunny Lake is Missing - Otto Preminger (DVD) * * * *
Elas me Odeiam, Mas me Querem - Spike Lee (DVD) * * *
O Otário - Jerry Lewis (DVD) * * * *
A Adolescente - Luis Buñuel (Cinesesc DVD) * * *
The Grissom Gang - Robert Aldrich (DVD) * * *
Com a Bola Toda - Rawson Marshall Thurber (DVD) * * *
O Mensageiro Trapalhão - Jerry Lewis (DVD) * * * *
Hora de Voltar - Zach Braff (Arteplex 9) *
Constantine - Francis Lawrence (Arteplex 1) *
Trocando as Bolas - John Landis (DVD) * *
Um Principe em NY - John Landis (DVD) * * *
Little Odessa - James Gray (DVD) * * *
India Song - Marguerite Duras (Cinemateca) * * * *
Assassinato por Encomenda - Michael Ritchie (DVD) *
Garganta Profunda - Gerard Damiano (DVD) *
O Otário - Jerry Lewis (DVD) * * * *
O Fator Humano - Otto Preminger (VHS) * * * *
Dias Incríveis - Todd Phillips (DVD) *
Um Romance Muito Perigoso - John Landis (DVD) * * *
A Infância Nua - Maurice Pialat (VHS) * * * *
Desde que Otar Partiu - Julie Bertucceli (E.Unibanco 2) * *
Confidências Muito Íntimas - Patrice Leconte (DVD) *
Shadows - John Cassavetes (DVD) * * * *
Até os Deuses Erram - Sidney Lumet (VHS) * *
Alice Não Mora Mais Aqui - Martin Scorsese (DVD) * * *
Sérpico - Sidney Lumet (VHS) * *
Reencarnação - Jonathan Glazer (Bristol 1) * *
O Príncipe da Cidade - Sidney Lumet (VHS) * * *
O Casamento de Romeu e Julieta - Bruno Barreto (Arteplex 6) * *
Q & A - Sidney Lumet (DVD) * *
Sombras da Lei - Sidney Lumet (DVD) * * *

Herói - Zhang Yimou (E.Unibanco 1) *
Jantar às Oito - George Cukor (DVD) * * * *
Aria - Roeg, Charles Sturridge, Godard, Ken Russell, Derek Jarman, Altman, Beresford, Franc Roddam, Bill Bryden, Julien Temple (DVD) *