terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

Charisma, de Kiyoshi Kurosawa, é Godard fazendo um filme à lá Tarkovski e com influência de Wong Kar-Wai ou estou enganado? Weekend parece ser a conexão principal, pela forma libertária, que flerta com gêneros. E O Espelho, ou Nostalgia, pela maneira como a natureza reflete (ou mais, influencia) o comportamento humano. Um belo e incrivelmente estranho filme. Tão mais belo quanto mais estranho fica.

Sideways poderia até ser bom, pelo trio de atores (com destaque para o mini-Schwartzeneger Thomas Haden Church), e pelo roteiro que, até certo ponto, consegue evitar o sadismo fracassomaníaco. Se Giamatti não tomasse a iniciativa de bater na porta de Virginia Madsen no final seria muito escroto. Mas também se mostrasse o reencontro com o final escancaradamente feliz cairia no rame-rame que estava tentando evitar desde o começo. O grande problema é a mise-en-scène deficitária de Alexander Payne, incapaz de fugir do feijão com arroz, e em alguns momentos fazer besteira mesmo com o trivial. Mal decupado à beça, com uma fotografia bem estranha, a cãmera quase sempre no lugar errado. Escapa por muito pouco da bola preta. Por enquanto.

sábado, 19 de fevereiro de 2005

Já achava O Despertar da Besta (visto com esse nome no CCSP anos atrás) o melhor Mojica. Com a revisão, em DVD, veio a confirmação. Bem...preciso rever alguns, já que Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver costumava me encantar, e não vi alguns outros, mas por enquanto seu filme súmula é mesmo O Despertar da Besta (ou Ritual dos Sádicos). Uma inteligente brincadeira com a persona de Mojica, e com seu famoso personagem, com um plano final bem libertário e desafiador. Algo de ultrajante existe naquela fala para a câmera, com aquele sorriso maroto, e que não diz respeito somente ao que acontece no filme, mas à todo um ideal cinematográfico da época. Algo como uma pungente carta de intenções, acima de qualquer posicionamento político. Um grito contido de liberação, mas que a censura insistiu em sufocar até 1983.

domingo, 13 de fevereiro de 2005

Parte da pílula da lastimável revista francesa Studio para o filme Mal dos Trópicos:

"...pretensioso, incompreensível e, segundo um jurado em Cannes, prova final de que a Tailândia possui armas de destruição em massa"

Enquanto isso, Ruy Gardnier prova que é, ao lado de Inácio Araújo, o melhor crítico do Brasil com sua crítica para Menina de Ouro.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

Dois filmes vistos em Floripa:

Em Busca da Terra do Nunca é mais uma prova da incompetência de Marc Foster, diretor incapaz de conseguir alguma química entre Kate Winslet e Johnny Depp. Deveria ter uma sintonia espiritual, mas isso nunca chega a acontecer de modo convincente. Algumas boas possibilidades são abandonadas equivocadamente, como assumir que se quer levar o espectador às lágrimas. Ele quer, mas parece envergonhado disso. E o final, convenhamos, é de doer. Uma história dessas na mão de um joão ninguém como Jon Turteltaub renderia muito mais. Calcule se tivéssemos um diretor menos lim itado...

O Filho de Chucky, por outro lado, é filme que não se envergonha de sua condição de terror pra fazer adolescentes rirem, e é dirigido por Don Mancini, o criador de Chucky. Tem muita bobagem, e um desfecho boboca toda vida, mas os momentos engraçados são muitos, e não provocam gargalhadas, mas um sorriso de cumplicidade muito bem-vindo.

sábado, 5 de fevereiro de 2005

O filme de Marcus Nispel foi o único que consegui ver depois de Menina de Ouro. Talvez por não esperar nada dele. Qualquer convite pra qualquer coisa está me tirando do cinema nos últimos dias. Florianópolis vai ter que purgar essa fixação pelo filme do Eastwood.

O Massacre da Serra Elétrica, refilmagem do original de Tobe Hooper, por Marcus Nispel. Tão ruim quanto o original. Não se pode acusar Nispel de infidelidade ao original. Pior é que daria pra fazer um remake decente, desde que o diretor não goste do primeiro filme. Não saber trabalhar com clichês é uma sentença duríssima pra qualquer cineasta de gênero. Se não quiser trabalhar com um gênero específico, pior. Pergunta: Será que Zack Snider gosta do Massacre antigo?

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2005

Janeiro (revisões em negrito)

O Pianista - Roman Polanski (DVD) * * *
Não se Mova - Sergio Castellito (Arteplex 5) *
Meu Tio Matou um Cara - Jorge Furtado (Arteplex 3) *
Neste Mundo - Michael Winterbottom (Cinesesc) *
Viagem ao Mundo dos Sonhos - Joe Dante (DVD) * * *
O Grito - Takashi Shimizu (Bristol 4) *
What Price Glory - John Ford (DVD) * * *
Vampyros Lesbos - Jesus Franco (Franco Manera) (DVD) *
O Vôo do Fênix - Robert Aldrich (DVD) * * *
Folhas Mortas - Robert Aldrich (VHS) * *
Crimes em Wonderland - James Cox (DVD) * *
Antes do Pôr do Sol - Richard Linklater (Bristol 3) * * * *
O Selvagem da Motocicleta - Francis Ford Coppola (DVD) *
Les Yeux Sans Visage - George Franju (DVD) * * * *
Le Sang des Bêtes - Georges Franju (DVD) * * * *
Outside Providence - Michael Corrente (DVD) *
Force of Evil - Abraham Polonski (DVD) * * * *
Envy - Barry Levinson (DVD) *
Mistery Men - Kinka Usher (DVD) *
O Cão Branco - Samuel Fuller (VHS) * * * *
A Lenda do Tesouro Perdido - Jon Turteltaub (Arteplex 6) *
Bullit - Peter Yates (DVD) * * *
Caramuru, A Invenção do Brasil - Guel Arraes (DVD) 0
15 Minutos - John Herzfeld (DVD) 0
Rikyu - Hiroshi Teshigahara (DVD) * * *
O Aviador - Martin Scorsese (Arteplex 2) * * * *
Perto Demais - Mike Nichols (Arteplex 1) 0
A Queda - Ruy Guerra e Nelson Xavier (Cinesesc) * * *
Alexandre - Oliver Stone (Bristol 1) *
Desventuras em Série - Brad Silberling (Belas Artes-M.de Andrade) *
Erêndira - Ruy Guerra (Cinesesc) * *
A Volta ao Mundo em 80 Dias - Frank Coraci (Arteplex 4) * *
Il Mio Viaggio in Italia - Martin Scorsese (VHS) * * *
My Fair Lady - George Cukor (DVD) * * * *
Agora Seremos Felizes - Vincente Minnelli (DVD) * * * *
Cockfighter - Monte Hellman (VHS) * * *
Warriors, Os Selvagens da Noite - Walter Hill (DVD) * * *
Baionetas Caladas - Samuel Fuller (VHS) * * * *
Entrando Numa Fria Maior Ainda - Jay Roach (Bristol 1) *

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

Em 12 horas, vi três obras-primas. Como é muito raro de acontecer, a não ser que se programe pra rever três filmes já adorados, quis deixar registrado.

Primeiro, pouco depois da meia-noite, A Dama de Preto (Park Row, 1952), de Samuel Fuller. Que depois do impressionante Baionetas Caladas me deixou com uma expectativa ainda mais alta (o que acho chato) em relação aos dois marcos dos anos 60 (Naked Kiss e Shock Corridor). Preciso refrescar a cabeça antes de vê-los.
Depois, logo em seguida (eu não me emendo mesmo), vi Ódio Contra Ódio, mais um inacreditável exemplo do talento de Joseph H. Lewis. Impressionante como ele leva os limites do trágico até o fim, e sai de lá com uma dignidade absurda.
Hoje de manhã (tive de acordar cedo, mas valeu), na cabine de imprensa, Million Dollar Baby...e sobre ele não tenho mais palavras. Clint nunca foi tão fundo, e quem conhece seu cinema sabe que isso significa que é, definitivamente, um filme que deixa qualquer um baqueado. Saí, trôpego e sem rumo, salvo por uma cervejinha durante o almoço com o amigo Francis.