sábado, 30 de outubro de 2004

Filmes do dia 29-out
(lembrando que a maior parte dos filmes aqui comentados tem textos na Contracampo – link à direita)

Um Dia Depois do Outro – Amos Gitai *
Não dá pra saber onde Gitai queria chegar com essa obsessão em mostrar casais tentando fazer sexo sem culpa. Os amantes traem, rejeitam, esbravejam, se desculpam, mas o sexo continua sendo uma enorme fonte de tensão entre eles. Poderia ser interessante, se Gitai se entregasse um pouco mais aos personagens, ao invés de se contentar com imagens que parecem existir só pra dizer: “vejam como são bobos esses burgueses, vejam como são tolamente obcecados por sexo”. Filme visto no DirecTV 2, tela com furos enormes, depois de um belo prato de arroz e feijão.

Los Muertos – Lisandro Alonso *
Carlos Reygadas fazendo escola. Mas em Japon havia uma densidade por trás do ritmo que Alonso não consegue imprimir. A proposta é louvável, ao adequar nosso ritmo ao ritmo do personagem, mas Alonso não sabe muito bem onde colocar a câmera, criando um limite de frieza que não parecia ser a intenção. O filme começa muito bem, com a câmera percorrendo a mata e revelando, vez por outra, defuntos. E tem belos momentos, mas tem também uma gratuidade em mostrar as pequenas coisas, como no final pretencioso. Um filme neo-acadêmico visto no Cinesesc. Projeção nota 10.

Bens Confiscados – Carlos Reichenbach * * *
Betty Faria no melhor papel de sua carreira, e Carlão mais uma vez inspirado na mise-en-scène, como no maravilhoso Garotas do ABC. A cena de abertura, com um movimento de câmera que sai do subjetivo para o objetivo (como De Palma faz tão bem), e a cena do primeiro beijo entre a enfermeira e o filho do político corrupto, com fusões dos telhados, são dois exemplos de como se faz CINEMA, com maiúsculas. Visto no Arteplex 2.

O Jogador de Cartas – Dario Argento * *
Argento rindo de seu próprio estilo. Por alguns momentos, o pretendido vira um tiro no pé, mas na maior parte do filme, sobra o talento autocrítico do diretor, e a tradicional habilidade com a câmera e o corte. Duas cenas podem ser consideradas a chave de leitura pretendida por Argento: a comemoração da primeira vitória no viedo pôquer, com polícia envolvendo-se no jogo do criminoso (maravilha de sutil subversão); e quando a policial dá um tiro no cd player do carro, cessando a irritante música que acompanhava o clímax do filme. Visto no Arteplex 1, com platéia que ria quando era pra rir, e quando não era também.

sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Filmes vistos no dia 28/out

Luzes Vermelhas - Cédric Kahn * *
Belo trabalho de atmosfera, com seus deslizes, mas nada muito comprometedor. Darroussin é um dos grandes atores do cinema francês, mas Kahn, que superou um pouco o razoável O Tédio (sorry, Bruno, ouvi dizer que você adora ofilme), ainda tem que mostrar mais. Por enquanto seu cinema mostra um potencial inegável, mas nem sempre bem realizado. Visto no Arteplex 2.

Eden - Amos Gitai *
Claude Berri baixou no diretor israelense. Filme todo falado em inglês (e não é por isso que deixa a desejar) com um andamento típico do cinema de qualidade francês. A primeira meia hora é boa, mas o filme vai perdendo o interesse na medida que Gitai parece ele próprio desinteressado. Coloca a câmera em qualquer lugar, enquadra com desleixo e abandona seu fetiche pelo plano-seqüência. Visto no Cinesesc.

Berlim Jerusalem - Amos Gitai * * *
Filme complicado de se analisar. Foi o primeiro filme de Gitai que vi. Agora na revisão, algumas coisas que me impressionavam muito decepcionaram dessa vez, como o travelling final, meio arbitrário e ingênuo. É um filme forte, ainda, pelo rigor de encenação e pelos enquadramentos fassbinderianos. Engraçado como a cada filme de Gitai que vejo, mais gosto de Esther, seu primeiro longa de ficção. Berlim Jerusalem foi visto no Cinesesc.

Memória del Saqueo - Fernando Solanas * *
Filme cheio de problemas, como a exploração de imagens chocantes para se chegar à oposição política pretendida pelo diretor. Um belo exemplo é a imagem do bebê subnutrido, bem desagradável de se ver. Mas até que ponto não é necessária sua revolta, sua intenção de que a memória da crise seja preservada. O desespero de Solanas, e sua fúria com os governos que abrem as pernas para os interesses dos banqueiros, justificam-se. A maneira como ele ordena os acontecimentos, longe de um didatismo, expõe melhor o porquê de sua revolta. É cinema de oposição, sim, como Michael Moore sonha em um dia fazer. Visto no Esp. Unibanco 1.

quinta-feira, 28 de outubro de 2004

Filmes do dia 27-out

Começando com um Kiarostami e terminando com dois. Todos no Cinesesc. Nem é necessário dizer mais. E A Vida Continua, o primeiro, e os dois últimos Dez Sobre Dez (uma aula sobre cinema em dez lições) e Cinco (uma aula sobre cinema em cinco falsos planos) me fizeram ter um dia mágico, pra ficar na história da Mostra. Nem sei o que dizer de Cinco, só que é imperdível. Vale até viajar só pra ver e voltar depois. Reprogramação necessária para revê-lo em outro dia.

Voltando ao mundo dos mortais, os outros filmes do dia foram esses:

Família Rodante - Pablo Trapero * *
Um simpático e agradável retrato de uma família que viaja ao nordeste da argentina para um casamento. Câmera na mão e o habitual senso de corte de Trapero garantem o interesse. Não me entusiamou tanto quanto a alguns amigos, mas El Bonaerense também não me faz tanto a cabeça, apesar de ser um bom filme. Parece que há uma limitação em Trapero, um medo de ir fundo nas suas propostas. Algo que sobra em Lucrecia Martel. Filme visto no DirecTV 1.

Borboleta - Yan Yan Mak 0
Pieguice tem limites. O filme tem momentos em que ameaça tornar-se alguma coisa, principalmente no final. Mas não consegue. Visto bravamente até o final no DirecTV1.

quarta-feira, 27 de outubro de 2004

Filmes do dia 26/out (todos vistos no Arteplex 2, exceto Diário de Campanha, visto no Arteplex 1):

Esther - Amos Gitai * * *
Primeiro filme de ficção do Gitai. Muito bem filmado, enquadrado e decupado, com travellings geniais (característica de Gitai) como o dos atores no final. Esse último travelling a princípio me pareceu cansativo, depois eu entendi qual era a dele e curti. Poderia ser menos didático nas panorâmicas, como na cena do enformacamento de Haman, quando meninos trajados como nos dias de hoje, portando até relógios, invadem metade do quadro. Ele insiste em dizer que está falando do presente (então 1985) e dá uma panorâmica para os carros passando na rua. Pensando depois, em casa, tendo visto mais um Gitai no dia, acabei reavaliando Esther em luz do que não gostei de Diário de Campanha. Ele faria melhor em Berlin Jerusalem, mas o filme tem força. Três estrelas, mas raspando.

Mate Seus Ídolos - Scott Crary *
Um filme que fala de punk e vanguarda em Nova York só pode ser bom de ver. Mas o tempo ágil e nada democrático das entrevistas, mais a estrutura meio reacionária da coisa deixam uma impressão de que poderia ser bem melhor. Se o diretor não estivesse o tempo todo preocupado em demonstrar sua tese de traição de um movimento, poderia ter feito um filme mais solto e agradável para os ouvidos. Aqueles anos correndo no início foi uma grande bobagem. E Lydia Lunch prova que não regula mesmo muito bem...taí os filmes de Richard Kern pra provar (três deles com trechos exibidos em Mate Seus Ídolos).

O Avental de Lili - Mariano Galperin 0
Bela bobagem que tenta, com humor ralo, dar conta da crise argentina. Que montagem mais titubeante, em dúvida se imprime um rítmo ágil ou explora as desilusões dos presonagens. Total perda de tempo.

Diário de Campanha - Amos Gitai *
Documentário imperdível pela importância histórica, mas que incomoda muito, e de uma maneira meio covarde. Gitai quer fazer um libelo pacifista, mas usa a câmera como arma, principalmente quando expõe soldados israelenses ao ridículo. Lembrou o Michael Moore no episódio Charlton Heston. Quando resolve botar a câmera do lado dos palestinos expulsos, ou dos libaneses, o filme cresce. Mas ele parece mais interessado em perseguir os soldadinhos de chumbo, que nada podem fazer.

20 Dedos - Mania Akbari *
Tudo que Kiarostami e Panahi fizeram pela condição feminina no Irã, faz deste filme um desnecessário, porque mal articulado, panfleto feminista. Tudo estava muito bem até a seqüência do teleférico. Depois a coisa começa a se complicar, pois Akbari parece mais interessada nos berros, ao invés da argumentação incisiva que ela mesma faz, como atriz, em Dez. Alguns bons momentos, num todo irregular demais para ficar a altura de discípula de Kiarostami. Esperemos um segundo filme, já que ela, percebe-se, tem muito a dizer.

terça-feira, 26 de outubro de 2004

Filmes do dia 25/out.

Crepúsculo das Ninfas de Gelo - Guy Maddin *
É o filme mais fraco deles, mas como os demais, tem coisas de interesse o suficiente pra dar uma estrela. O problema é que ele usa a música de uma maneira convencional demais pra quem posa de alternativo. E haja saco pra aguentar tanta música. Visto no Cinesesc.

Contos do Hospital Gimli - Guy Maddin *
É o melhor dele dos que vi, mas ainda assim fica aborrecido pois ele não consegue segurar sua própria bizarrice por muito tempo. Pelo menos neste ele não exagera na música, tendo até grandes momentos de silêncio. Visto no Cinesesc.

Linda Cidade - Asghar Farhadi * *
Filme de interesse, sem dúvida, nem que seja pra conferir uma das mulheres mais lindas do festival: a atriz que faz o papel da irmã do condenado. Há uma discussão interessante sobre o perdão como traição, e um desfecho triste apenas pressentido pelo final classudo. Film,e bem levado pelo diretor, com boa idéia de composição de plano. Visto no Cinearte 1.

A Oitava Cor do Arco-Iris - Amauri Tangará 0
Triste que a primeira bola preta do festival seja pra um filme brasileiro, mas enfim, fugimos das possíveis bombas dos outros países, então nem é motivo de comparações apressadas. Momento clássico: a ajoelhada da cabrita Pretinha, atriz de talento nato. Filme visto no DirecTV 1.

Porão - Eric Werthman 0
Ousadia engarrafada para público de festival. Escrevi a pílula para a Contracampo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2004

28ª Mostra SP - Dia 24/out

Cuidadoso - Guy Maddin *
O homem parece que faz sempre o mesmo filme. O mesmo clima onírico, a mesma emulação de cinema mudo, a mesma trilha hipnotizante. Bom...pelo menos pelos dois filmes que vi (o outro é A Música Mais Triste do Mundo). Mas a julgar pelo que andam dizendo, é isso mesmo. Hoje confiro mais dois, vamos ver se o interesse continua. Visto no DirecTV 1.

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Pausa na Mostra para conferir o ótimo A Fortaleza, filme de 1974 de Satyajit Ray

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La Niña Santa - Lucrecia Martel * * * *
Enquadramentos estranhos, mas que funcionam perfeitamente, privilegiando detalhes e intenções dos personagens. Uma entrega inigualável e uma habilidade no corte que poucos cineastas possuem. Martel, em seu segundo filme, já é uma das mais importantes artistas deste novo século. O equivalente daquela maravilhosa cena de O Pântano, em que as meninas cantam diante do ventilador pode ser a menina imitando a dança da mulher diante do espelho. Impossível não chorar. O final, de novo na piscina, encerra com as possibilidades dramáticas para dizer que o que importa é a absorção da experiência. Visto no Arteplex 2.

Whisky - Juan Pablo Rebello e Pablo Stoll * * *
Whisky é o que dizem os retratados no momento do clique da máquina fotográfica. Ilustra muito bem a intenção dos diretores de examinar o interesse nas aparências. Mais importante que ser feliz, parece ser aparentar uma felicidade. Jacobo não consegue sair de sua redoma de incomunicabilidade (no sentido mais profundo da palavra), e quando sua solidão é ameaçada, parece querer defendê-la com unhas e dentes. O filme não mostra ação alguma no sentido de se abandonar essa letargia, mas a esperança existe, na não aparição de Marta, na não demonstração da leitura do bilhete e consequentemente, na expressão de Jacobo ao final da experiência enganadora. Não há o clima do derrotismo, notem que todos à volta de Jacobo são simpáticos, buscam a vida, a música. Mesmo Marta, com seu jeito calado, tem lá seu jeito de buscar a alegria. Rebello e Stoll foram muito felizes em mostrar a diferença entre querer ser feliz e querer muito ser feliz. Ficam obviamente do lado dos que querem muito. E o filme é um agradável alento. Última sessão do Arteplex 1.

domingo, 24 de outubro de 2004

Só um adendo ao post anterior. Esse negócio de estrelas é mesmo complicado. Tarnation é uma estrela, mas está mais próximo de Subida da Maré, que é duas, do que dos outros uma estrela de ontem. Isso dito, vamos aos filmes de ontem:

6 e 7 - Geno Tsaava * *
Precedido de um curta do mesmo diretor, 6 e 7 tem como proposta formal voltar ao cinema de Meliès e Epstein. Fusões, efeitos ingênuos e que remetem aos primórdios do cinema, elementos que servem para ilustrar a religiosidade do diretor. Cortes inusitados como o de um espelho se abrindo ao som da New Age para um pé agitando como um rabinho de cachorro fazem deste filme uma instigante pedida. Não é para todos os gostos, e parte da platéia viu-se extremamente incomodada com a ingenuidade pretensamente de vanguarda do diretor (que no curta chega a citar Hans Richter, papa da vanguarda alemã dos anos 20). Visto no Cinesesc.

Má Educação - Pedro Almodovar * *
O cinema referencial, neste mais do que nunca, de Almodovar desta vez não me empolgou. A concepção mais onírica dos flashbacks é o aspecto mais forte de um filme que fica muito aquém do que se poderia esperar dele depois de Fale com Ela (sua obra-prima). A contraposição de rostos, que no filme anterior, entre os dois personagens masculinos principais, foi genial, neste é didática e preguiçosa. Não que Almodovar se sentisse na necessidade de explicar que tratavam-se da mesma pessoa. Veremos mais adiante que sua preocupação não era exatamente essa, já que ele confunde propositadamente toda a apreensão dos personagens pelo espectador. Pareceu mais uma tentativa de diálogo formal com Fale com Ela, para capturar o olhar do espectador. Vale como intenção, mas é limitado como linguagem. Ainda assim, um filme a ser visto. Visto no Cinesesc.

sábado, 23 de outubro de 2004

Mostra SP - Primeiro dia (22-out)

A primeira surpresa foi perceber uma mudança na posição dos legendadores. Agora eles sentam onde vários cinéfilos que conheço gostam de sentar. No Arteplex nem tanto, mas nas salas do DirecTV eles ocupam o que muitos consideram o melhor lugar da sala. Na sala 1, o lugar que encobre (desde que a pessoa fique mais abaixada na poltrona) aquele luminoso horrível de saída. Na sala 2, o lugar na frente da grade que é uma delícia de por os pés (claro, se o lugar dos deficientes físicos não estiver sendo ocupado). De resto, é sempre bom o reencontro com vários amigos que de certa forma ditam sua expectativa. Dependendo da turma, dá pra esperar um filme mais ou menos convencional, mais ou menos pra festival. Pedaço da pizza bem decente (aquele perto do DirecTV) e um almoço no Arteplex garantem a maratona. Vamos aos filmes:

A Subida da Maré - Yolande Moreau & Gilles Porte * *
Um simpático e inesperado filme de amor, com cortes redondinhos e um casal charmoso. As imagens captadas dos espetáculos funcionam muito bem e o filme tem um final classudo, apesar de previsível. Pena que é limitado e não propõe nada de novo, não arrisca. Filme visto no Arteplex 1.

Paisagem que Flutua - Carol Lai Miu- suet *
Um filme morno além da medida, com alguns achados nas composições dos planos, mas em geral modorrento. Um belo anime, com bela música garantem a estrela solitária. Filme visto do DirecTV 1.

O Revólver Amado - Kensaku Watanabe *

O diretor daquele hediondo A História de Pupu volta cinco anos depois com um maneirismo estéril e desprovido de talento. No terço final do filme, parece que o diretor é trocado e o filme começa a fluir melhor, tendo até seus momentos. Mas a proposta pré-Griffithiana de deixar o personagem chave de cada cena no centro do quadro raramente dá certo. Kitano veio depois mostrar como se faz em Zatoichi, mas isso é história para dois tópicos abaixo. Visto no DirecTV2 (que teve uma sensível melhoria na projeção).


Tarnation (Tormento) - Jonathan Caouette *
Filme que funciona muito melhor quando o diretor aplica loucura à sua maneira de editar o filme. Quando resolve filmar a mãe, ou alguma outra pessoa fazendo loucuras o filme cai numa exploração desnecessária e oportunista. Mas é um filme de talento, não resta dúvida. Visto no Espaço Unibanco 1.

Zatoichi - Takeshi Kitano * * *
Desde já, o filme mais bizarro que vi neste ano, com uma mistura inusitada de gêneros. Com um invadindo o outro numa sucessão de imagens inesperadas e surrealistas. Kitano opera o nonsense de uma maneira curiosa. Ao invés de deixar claro o procedimento, para causar o riso sem a estranheza duradoura (como nos filmes dos Zuckers com Jim Abrahams), Kitano bota qualquer ordem no chinelo e deixa o espectador verdadeiramente atônito diante de tanto absurdo. Efeitos propositadamente fake e a maestria habitual de Kitano na decupagem fazem de Zatoichi um filme imperdível. Tão bom quanto Dolls e Sonatine. Filme visto no E. Unibanco 1.

Por hoje é só. Amanhã tem minhas impressões sobre 6e 7, um filme Georgiano, e sobre Má Educação, o Almodovar da vez.

quarta-feira, 20 de outubro de 2004

Bom...depois de amanhã começa o mergulho na Mostra SP, com uma parada no segundo dia para o casamento do meu primo-xará Eduardo. Lutarei para manter este blog atualizado. Verei muitos filmes e ainda escreverei para a Contracampo. Mas uma cobertura mais leve será feita aqui. Peço desculpas antecipadas aos blogs amigos aí do lado pois vai diminuir a freqüência das minhas visitas. Espero que compreendam. Pretendo postar algo, mesmo que só as cotações, para que funcione como guia e espaço de discussão. Para os inúmeros amigos de fora de São Paulo, deixo o convite: apareçam, nem que seja por um fim de semana. E avisem pra que a gente marque uma cerveja.

sexta-feira, 15 de outubro de 2004

Tenho que adiantar o trabalho aqui na loja pra entrar de corpo e alma na Mostra SP. Sobra tempo para os famigerados comentários apressados sobre os filmes vistos:

-Amor à Tarde é dos mais belos Rohmers. Mostra a capacidade de mise-en-scène do diretor, que é capaz de mostrar a dúvida, o desejo, a pulga atrás da orelha em planos ora elaborados, ora de uma simplicidade esfuziante. Com enquadramentos geniais e aquela capacidade de captar intenções que ninguém mais, a não ser Cassavettes (de outra forma), consegue.
-A Dona da História não é tão ruim quanto Cama de Gato e Viva Voz. Aliás, perto desses é obra-prima. Mas não escapa da digníssima bola preta, que insiste em lhe perseguir apesar de Débora Falabella ser um belo contraponto ao piloto automático de Marieta Severo e Antonio Fagundes. Da série, cinema imitando, e mal, a TV. Só que agora em scope.
-Quem Bate à Minha Porta? é uma decepção. Bem...eu já não gosto muito de Boxcar Bertha, mas sempre achei que essa opinião mudaria numa necessária revisão. Assistir a este primeiro longa de Scorsese, no entanto, me levou a considerar que ele só aprendeu a filmar em Caminhos Perigosos.
-Paixão à Flor da Pele é surpreendente. Um roteiro bobo, que o diretor filma com frescor e habilidade. Vários truquinhos que normalmente me incomodam aqui caem perfeitamente. Leveza é a palavra.
-Descobrindo Chang Cheh, cortesia China Video. Dois filmes: O Templo de Shaolin é muito bom. A Pancadaria corre solta no quarto final. Antes só o ritual de entrada no templo, com os anseios por aprendizado e a perseverança dos que querem entrar no templo. Muito bonito o uso do scope com o zoom. Confronto em Chinatown é simpático, pra dizer o máximo. Mas talvez sofra na comparação. Vi logo em seguida a O Templo de Shaolin. Confronto fala tam´bém de perseverança, de um sonho de progressão, mesmo em outra cultura. Dá pra ver, mas não se deve esperar muito.
-A grande nova foi descoberta na coletiva de imprensa da abertura da Mostra de SP. Ninguém menos do que Manoel de Oliveira vem com uma retrospectiva de sua obra. Mas só em 2005. Esperar é viver.
-Parem as rotativas. Cat in the Brain entra no pedaço pra não deixar pedra sobre pedra. O blog de Fernando Veríssimo promete muito. É mais um contracampista que entra para o rol dos blogueiros: http://catinthebrain.zip.net

sábado, 9 de outubro de 2004

Deu pra fazer ainda hoje, com pressa. Perdoem uma possível leviandade.

Os filmes que eu vi no Festival do Rio:

Era Uma Vez no Oeste – Sérgio Leone (Odeon) * * * *
O começo do festival em alto estilo. Não importa que era a cópia mutilada. Ver em tela grande o brilhante tratamento de espaço de Leone, e os movimentos de câmera perfeitos.
Somersault – Cate Shortland (Esp. Unibanco 2) 0
Os problemas de uma adolescente filmados por uma diretora sem a menor noção de enquadramento. Poderia até ser simpático, mas é só anódino.
The Woodsman – Nicole Kassell (Est. Botafogo 1) *
Muitos momentos interessantes e uma interpretação especial de Kevin Bacon (provando que Clint Eastwood ensinou-o a se portar diante de uma câmera) fazem ointeresse desse filme irregular.
Quando Explode a Vingança – Sérgio Leone (MAM) * * * *
Duck, you sucker! CABRUMMM. Antológico é pouco.
No Mundo de 2020 – Richard Fleischer (MAM) * *
Meio picareta, mas sempre interessante (principalmente por ser picareta). Não é dos grandes Fleisher, ficando a milhas de Os Novos Centuriões, o filme anterior.
Água Viva – Kyoshi Kurosawa (Esp. Unibanco 2) * *
Uma decepção, mas se trata de um bom filme, mais por planos isolados (e antológicos) do que por uma unidade de atmosfera nunca alcançada.
Casa dos Bebês – John Sayles (Est. Paissandu) * *
As imagens durante os créditos, a conversa de Maggie Gyllenhall com o namorado, e o final antológico já fazem deste um bom filme de Sayles, ainda que inferior ao Brother From Another Planet.
Capitão Sky e o Mundo de Amanhã – Kerry Conran (Est. Botafogo 1) *
Filme simpático que melhora na segunda metade, com a demolição de todas as possibilidades exageradamente românticas sendo bombardeadas.
O Coração é Traiçoeiro Acima de Todas as Coisas – Asia Argento (Esp. Unibanco 2) *
Mais um filme anódino. Não entendi a comoção do Valente e do Gardnier. Tem seus momentos, mas no geral é uma bobagem feita pra impressionar públicos de festivais.
Undertow – David Gordon Green (Est. Botafogo 1) * *
Outro filme irregular, mas que mostra o talento de Gordon Green. Preciso ver o filme anterior (Prova de Amor), muito elogiado por vários amigos.
Alexandria, Nova York – Youssef Chahine (Esp. Unibanco 1) *
Chahine desta vez não trabalhou muito bem a junção de kitch e subversão, magistral em A Outra. O filme se desgasta durante uma duração excessiva, que não se justifica. E a piada que de início parece uma boa sacada (americanos falando árabe) se esgota com meia hora de projeção.
Um Dia Quente de Inverno – Stéphane Vuillet (Esp. Unibanco 1) * *
Um dos melhores finais de filme do festival, o que engrandesce ainda mais este filme bem simpático, ainda que com momentos pouco inspirados, principalmente no início, com uma indecisão no posicionamento da câmera que incomoda bastante. Nesse caso, o desleixo formal parece limitação, antes de tentativa de imprimir estilo.
A Última Vida no Universo – Pen-Ek Ratanaruang (Esp. Unibanco 1) *
É o típico filme de festival, com posições estranhas (e burras) da câmera e um andamento que parece buscar a poesia a cada seqüência, raramente a encontrando.
Anatomia do Inferno – Catherine Breillat (Esp. Unibanco 1) * * *
O filme mais ousado (entre os que vi) de Breillat desde Une Vrai Jeune Fille. Ousadia sempre salutar, com questionamentos intelectuais que não incomodam e a tradicional habilidade dela em filmar olhares e corpos femininos se movimentando. Uma ode à condição feminina de deflagradora e ameaçadora ao mesmo tempo.
Por um Punhado de Dólares – Sergio Leone (E. Unibanco 1) * * * *
Joe...Oh, Joe...Joe.

Não tenho como mandar o balanço final e parcial (15 filmes) do Festival do Rio hoje. Mando na segunda sem falta. Queria só colocar o link de um novo blog, o de Leandro Caraça, que achei bem legal. Outro que vale a pena seguir:

http://buchinsky.zip.net/

quinta-feira, 7 de outubro de 2004

Ainda não vi uma obra-prima neste Festival do Rio, tirando claro os dois Leone vistos em tela grande (meus primeiros Leone vistos como se deve). Um deles, Quando Explode a Vingança, já era o meu preferido dele, e continua sendo um filme maravilhoso em todos os aspectos. Era Uma Vez no Oeste, mesmo picotado (era a versão americana), deixa qualquer cinéfilo com o coração na boca pelo tratamento genial do espaço e pelos movimentos de câmera perfeitos, alternando com os mais belos closes do cinema.
Tirando Leone, vários bons filmes, dos quais os melhores talvez sejam Água Viva, de Kyoshi Kurosawa; e Casa dos Bebês, de John Sayles. Mas amanhã (sexta) tem o dia mais corrido do festival, onde verei cinco filmes no mesmo cinema, e depois pegarei o ônibus pra sampa, onde trabalharei no dia seguinte. Tem Chahine, Breillat e mais um Leone. Promete ser o melhor dia do festival. Pena que será o último. Por outro lado...a mostra de SP já vai começar...

terça-feira, 5 de outubro de 2004

Um acidente na Dutra fez com que o ônibus atrasasse duas horas. Cheguei em cima da hora para ver Era Uma Vez no Oeste, com uma cópia picotada e bem riscada nos finais de rolo. Mas o filme, em tela grande, sobrevive a qualquer coisa. Se transformado num clipe de cinco minutos seria, ainda assim, uma obra-prima. Depois, dois filmes perdíveis. O australiano (Somersault) é bem fraco. The Woodsman tem coisas boas, mas não chega a ser bom. Quando eu achar um cyber-café mais veloz eu mando um outro boletim.

sexta-feira, 1 de outubro de 2004

Setembro vergonhoso, graças ao novo apê. Revisões em itálico:


Os Guardas Chuvas do Amor - Jacques Demy (DVD) * * * *
Garotas do ABC - Carlos Reichenbach (Esp. Unibanco 1) * * *
Fragmentos de um Filme Esmola - João Cesar Monteiro (CCBB) * * * *
Que Farei eu com Esta Espada? - João Cesar Monteiro (CCBB) * *
A Vila - M. Night Shyamalan (Bristol 1) * * *
Colateral - Michael Mann (Arteplex 5) * *
Bubba Ho-Tep - Don Coscarelli (DVD) *
Redentor - Claudio Torres (Arteplex 6) * *
Primavera Verão Outono Inverno...e Primavera - Kim Ki-Duk (Arteplex 9) 0
Antes do Pôr do Sol - Richard Linklater (Arteplex 1) * * * *
Diário de uma Paixão - Nick Cassavettes (Gemini 2) * * *
O Homem do Braço de Ouro - Otto Preminger (DVD) * * * *
Josey Wales, O Fora da Lei - Clint Eastwood (DVD) * * * *
Hard Eight - Paul Thomas Anderson (DVD) * *
Cama de Gato - Alexandre Stockler (Esp. Unibanco 2) 0
Nashville - Robert Altman (DVD) *
Hatari - Howard Hawks (DVD) * * * *
Freddy Got Fingered - Tom Green (DVD) * * *
Kill Bill Vol.2 - Quentin Tarantino (Arteplex 3) * * *
La Cifra Impar - Manuel Antin (Cinesesc) * *
O Terminal - Steven Spielberg (Alto Cafezal 1) *
Masques - Claude Chabrol (DVD) * * *