sábado, 31 de julho de 2004

Eu sabia que Passion (Godard) iria crescer numa revisão, ainda mais no cinema. Afinal, todos os filmes dele melhoram, exceto aqueles que já se revelam geniais de primeira (Elogio ao Amor, O Desprezo, Pierrot le Fou, Weekend, Prenom: Carmen, Alemanha Nove Zero) O que eu não esperava, era que um filme menor até então (eu só havia visto em vídeo) se revelasse uma obra-prima absoluta. Deixo o ensaio para o Bruno, o maior fã vivo do filme e que sempre me cobrou uma revisão. Eu, como neófito em Passion, só digo, antes de nova e necessária revisão, que esbocei algumas lágrimas na primeira explicação sobre o processo criativo, utilizando a luz de um quadro de Rembrandt como exemplo, chegando ao choro não dissimulado na cena da mulher na estrada, relutando em entrar no carro. Daí pra frente foi um rio. Algumas risadas, com um Picoli genial, flor entre os dentes.


Spartan (2004) - David Mamet * *

O que prejudica consideravelmente este bom filme de Mamet (quase de volta à forma de House of Games e Spanish Prisoner) é seu excesso de explicação. Tome como exemplo o climax com William H. Macy, excelente ator, mas um tanto prejudicado aqui. Dá-lhe falas e mais falas explicativas, fazendo com que o que se sugeria, uma provocação política levemente subversiva (afinal, o ano eleitoral é conturbado nos EUA), se tornasse pouco sutil, portanto mais sucetível a defesas e réplicas. Também o drama da verdadeira mãe, o que convenceu o personagem de Val Kilmer a prosseguir com a busca pela garota sequestrada, enfraquece o suspense, porque enche de sentimentalismo um personagem que primava pela frieza cirúrgica. No entanto, não deve ser desprezada a habilidade de Mamet em construir um clima estranho e claustrofóbico, onde as poucas informações surgem para confundir, mais do que elucidar.

terça-feira, 27 de julho de 2004

Post só para acrescentar links legais que eu devia há tempos. Não tenho visto filmes por causa da bagunça do trabalho e da ausência do DVD Player em casa. A situação deve melhorar amanhã.

www.eraumaveznaparaiba.blogspot.com

www.filmesdochico.blogspot.com

Ah...não gostei do Brilho Eterno... Apesar de achar que o casal principal está muito bem.

Devo ver amanhã Spartan, de david Mamet e O Pagamento, de John Woo (revisão).

sexta-feira, 23 de julho de 2004

Ontem vi Zombie, filmaço de Lucio Fulci. Um filme com um tempo peculiar, algo meio zumbi, como se a vida prosseguisse em câmera lenta. Li alguém reclamando dos atores, o que é uma bobeira. Direção de atores é um aspecto menor na mise-en-scène de Fulci, mais preocupada em procurar o tempo ideal, em planos estranhos e gélidos. Todo o filme parece acontecer num tempo suspenso, isolado, uma outra dimensão que não pode ser compreendida senão à distância, com o passar do tempo. Melhor criação de atmosfera é impossível. A sequência da briga de um zumbi com o tubarão é um primor, e aquele final, com a marcha de zumbis é um dos melhores finais que vi nos últimos tempos. A marcha da dominação, selvagem, crua, lenta e alienada.  Visto em VHS tirado de DVD da Anchor Bay, formato scope.

quinta-feira, 22 de julho de 2004

Encerrando por aqui o assunto Paul Verhoeven (mais, só na Contracampo):
 
Business is Business (1971) *
Louca Paixão (1973) * * *
Os Amantes de Katie Tippel (1975) * * *
Soldado de Laranja (1977) * *
Spetters (1980) - não vi e aceito doações
O Quarto Homem (1983) * * * *
Conquista Sangrenta (1985) *
Robocop (1987) * * * *
O Vingador do Futuro (1990) * * *
Instinto Selvagem (1993) * * *
Showgirls (1995) * *
Tropas Estelares (1997) * * * *
Homem sem Sombra (2000) 0

A revisão de Verhoeven se encerrou ontem, com Showgirls. OK, o filme não é ruim como eu, por birra, acreditava. Mas todos os problemas ainda estão lá, só que não me incomodam mais. Pelo menos não a ponto de me fazer desgostar do filme. Acho que sua única postura ao tratar o tema deveria ter sido essa mesma, um mergulho no mau gosto. Mas esse mergulho é tímido, o filme é comportado demais pelo que se pretendia. É bom, principalmente por fazer de Gina Gherson uma personagem mais interessante que a protagonista. Apesar de que aquele final é muito bom, com a placa de Los Angeles aparecendo por trás do cartaz de Nomi. Gostaria de ver um mergulho mais profundo, mais mau gosto, menos filtros porno-softs. O texto do Ruy Gardnier (na nova edição da contracampo) faz crer que é um acinte ao cinema comportado dos Espaços Unibancos da vida, mas não chega nem perto. E a cadeia que se cria, com aquela loira que vai, aos poucos, se transformando em Nomi, que por sua vez se transforma em Crystal é óbvia e simplória. Como subversão, ele come muita poeira do filme seguinte dele, Tropas Estelares. Apesar disso, o escárnio com que o filme foi tratado na época do lançamento foi realmente injusto.

quarta-feira, 21 de julho de 2004

Eclipse Mortal (2000) David Twohy *
A Batalha de Riddick (2004) David Twohy *

Dois filmes que comprovam que o que vale é o conceito do personagem Riddick, valorizado pelo estilo de canastrice de Vin Diesel. Uma pena que o diretor Twohy seja tão quadrado, sem noção de decupagem, e com enquadramentos pretensamente originais, mas que não funcionam. Não tenho nada contra a quebra de eixo, mas Twohy a realiza de uma forma bem tosca, sem critério, bem ao contrário de John Woo. Eclipse Mortal é um pouquinho melhor, cai menos nos defeitos descritos acima, mas não se sustenta. Vin Diesel chorando, antes de um corte sinistro, em A Batalha...é um primor do não saber utilizar um ator.

A revisão Paul Verhoeven continua. Ontem revi Soldado de Laranja, que melhorou muito, com uma visão comportada mas cheia de humor da participação política da Holanda na Segunda Guerra Mundial. Foi o filme dele que eu mais ri, por incrível que pareça. E Jeroen Krabbé está bem engraçado. Já Homem sem Sombra continua meia-boca. Tudo bem, Kevin Bacon pensa que é Deus, e por isso é justificável a quantidade enorme de ressurreições dele no filme. O problema maior é que Verhoeven parece preguiçoso (ele diz que não em entrevistas). Não há uma cena sequer que fuja da burocracia dos filmes sci-fi, e isso, vindo de quem fez Robocop, é muito desanimador.

segunda-feira, 19 de julho de 2004

Confidence (2003) - James Foley *
 
O filme é esperto. Está muito bem inserido na atual onda de filmes com roteiros elaborados para enganar o espectador, na linha da refilmagem de Italian Job (que é superior) e influenciado por Golpe de Mestre e Os Quatro Picaretas (ambos muito melhores). O que atrapalha o filme de Foley, é sua estrutura de flashback, que faz com que sua previsibilidade seja ainda maior. Aos poucos vamos notando que o que acontece não é bem o que pensamos, e isso estraga a virada final do roteiro, ainda mais porque Foley insiste em explicar demais, repetindo cenas (flasbacks que não são de personagem algum, mas puramente explicativos). O elenco acaba por ser o único trunfo do filme. Edward Burns está muito bem, assim como Paul Giamatti e Rachel Weisz. Pena que James Foley parece preocupar-se mais com modernices esteticamente pobres e truquinhos de roteiro.

O Analista do Presidente (1967) - Theodore J. Flicker * *
 
Filme um tanto datado, no mau sentido, fazendo com que assistí-lo não seja sempre agradável. Tem muitas coisas do cinema da época, com um distanciamento do movimento hippie, visto como algo muito outsider e beirando a caricatura. O filme ainda deixa críticas pouco sutis aos impérios da comunicação, críticas que foram ultrapassadas pelo trem yuppie nos anos 80. Mas Flicker, com a ajuda do diretor de fotografia William Fraker, pensa muito o quadro com planos gerais, o que faz com que sua exibição em DVD sofra muito, mesmo no formato correto em Scope. Como no recente Kill Bill 1, O Analista do Presidente sofre da distância que o espectador tem do rosto expressivo de James Coburn. Com poucos planos fechados, o que cai bem ao filme, ficamos à mercê de suas expressões faciais, o que foi claramente pensado pelo diretor, mesmo com planos abertos. Claro, não é a mesma coisa ver filmes em DVD e ver no cinema. Obviamente haverá perda. Mas nesse caso, e no último de Tarantino, e em vários outros, a diferença é mais sensível. Uma pena, pois sua crítica, mesmo que ingênua, tem seus momentos de graça, especialmente quando entra em cena o espião russo e acontece uma impagável sátira à psicanálise.

Sadomania (1980) - Jesus Franco *
 
Minha segunda tentativa com Jesus Franco. Bem melhor que Faceless, porque assume-se como uma pornochanchada, e assume-se também como produto exploit mal feito. Algumas partes são de chorar de rir, outras são de lamentar o desleixo, mas o interesse persiste até o final. Carlão disse que da enorme quantidade de filmes dele, poucos prestam, mas os que prestam são muito bons. Vou tentando...

terça-feira, 13 de julho de 2004

O Quarto Homem é uma pequena obra-prima. O Vingador do Futuro (revisto finalmente) é muito, muito bom. Mas a obra máxima de Verhoeven é Robocop. Ponto.

Enorme satisfação em reconhecer o ator Kurtwood Smith, o genial Red Forman (That 70's Show) no papel de Clarence Boddicker, o vilão de Robocop.

segunda-feira, 12 de julho de 2004

Graças a uma semana cheia de encrencas e a dois textos que eu devia pra Contracampo, este blog foi pouco atualizado. Muitas coisas vistas, então vou dar só uma passada rápida pelos filmes:

- começando pela sessão dupla do Comodoro, com dois filmaços: Santa Sangre e Cannibal Holocaust. O filme do Jodorowski é uma pérola do realismo fantástico, que lembra sim Kusturica, no que o diretor Iugoslavo se apropria de Fellini. Mas vai além. O mítico filme de Ruggero Deodato expõe animais a crueldade física e carrega nas cenas sensacionalistas, mas o filme é envolto numa auto-crítica tão picareta quanto genial. A desculpa usada para exibir mais de meia hora de cenas chocantes é inteligente e o único senão vai para a frase final, desnecessária. É um filme necessário.
- revisão de Operação França, com a explosão do cinema físico de Friedkin e duas seqüências antológicas no metrô. Um belo exemplo de realismo de rua. Um filme que sua e sangra.
- Dois Bressons revistos: Pickpocket e As Damas do Bosque de Bologna. Do primeiro continuo com a mesma opinião. É um filmaço com um dos mais belos finais do cinema. Rostos colados. O segundo melhorou bastante. É um Bresson atípico, mas concentra grnade parte da inadequação espiritual dos personagens, algo que ele exploraria melhor em filmes futuros.
revisão Verhoeven continua. Revi Os Amantes de Katie Tippel e O Quarto Homem para escrever textos e aluguei hoje Total Recall, Instinto Selvagem e Robocop, para rever e me saborear com os textos que vêm por aí.
- por último queria dizer que também entrei no coro dos que acham Homem Aranha 2 melhor do que o primeiro. Ainda que sinta que essa superioridade não seja tão grande. Acho que o filme é mais irregular que o primeiro, mas os grandes momentos fazem a diferença.

terça-feira, 6 de julho de 2004

Monster - Patty Jenkins (2003) 0

Tirado da crítica de Inácio Araújo, na Folha:

"Contudo a louvável preocupação em tornar compreensível o caminho que leva Aileen a se tornar um monstro não impede o filme de ser aborrecido, de se entregar às convenções do filme independente, de se deleitar com a performance de Theron, premiada com o Oscar e dotada desse tipo de exagero que consiste em não só representar bem um papel, como em deixar claro que o faz. Um estilo bem diferente, no mais, do da precisa Christina Ricci."

Tem mais este trecho, da crítica de Cleber Eduardo para a Contracampo:

"Visualmente, impera a pobreza. O único refresco é uma outra fusão de imagens, algo típico de quem arma o plano de forma burocrática e, na hora de montar, lança mão de expedientes para distrair os olhos. Teríamos para enchê-los, ou perturbá-los, o caso de Charlize Theron, premiada com o Oscar. Atriz de evidentes encantos, foi enfeiada para o filme: ganhou uns quilos e perdeu a sobrancelha. Cabe um comentário que, nos levando a sair parcialmente do filme, questiona citérios de avaliações, mas apenas para voltar ao filme. Parece nítido que a transformação física, e nada além dela, foi suficiente para garantir o Oscar. Os eleitores da Academia de Hollywood, afinal, são devotos dessa mutação visual. Bom ator para eles é aquele que, em nome da arte e do profissionalismo (mais do profissionalismo que propriamente da arte), coloca a vaidade no estômago. Basta engordar ou emagrecer, carregar o rosto de maquiagem (ou dispensá-la) para enfeiá-lo, para perder o glamour. Esqueçamos quem é Charlize, sua beleza fora do papel, sua mudança de aparência. Não sobra nada. Na verdade, sobra: gestos caricatos, pose postiça de mulher máscula, falta de verdade. Vemos o esforço da interpretação sem que esse processo seja auto-referencial. É limite mesmo."

Assino embaixo.


Momento peixe fora d'água do blog:

Roda Viva com Paulo Maluf * * * *
Um verdadeiro duelo entre Reinaldo Azevedo (Primeira Leitura) e o eterno candidato. Reinaldo fez perguntas inteligentes, que obrigaram o político a suar para defender com sua habitual inteligência. Todos os outros jornalistas decepcionaram, mas aí entrava a arte de maluf, que não deixava pedra sobre pedra, saindo-se muito bem, com eloqüência e pertinência. Nas respostas a Reinaldo, sobravam esquivas. Maluf tem talento para garantir o interesse de vários programas de entrevistas e debates. Em tempo: não voto nele nem sob tortura.

segunda-feira, 5 de julho de 2004

Brève Traversée (2001) Catherine Breillat * * *
É o melhor filme de Breillat. Melhor ainda que 36 Fillette. Brève Traversée não precisa de afetações, nem de choques inconsequentes. A iniciação sexual de um garoto de 16 anos é filmada pela diretora com ênfase nos olhares. Quem achou que o grande trunfo de Mel Gibson em sua paixão era a atenção e o valor dados aos olhares deveria ver este filme. Uma seqüência exemplifica muito bem o cinema da diretora, quando em seu melhor: no bar, o casal flerta durante uma apresentação de um mágico. Um busca o olhar do outro, e as primeiras carícias acontecem. Mais tarde, um outro grande momento, a primeira noite de amor. Breillat diz na entrevista que acompanha o filme no DVD que queria captar a primeira vez que o rapaz tira a roupa, o momento anterior à sua perda de virgindade, com o corpo trêmulo e a hesitação. Muito bonito. Devo mencionar, com destaque, a brilhante atuação da pouco vista (pelo menos é o que informa o IMDB) Sarah Pratt, que com seu olhar gélido e hipnotizante contribui para muito do sucesso do filme em captar tudo que se propõe. Breillat é uma mulher inteligente. Seria fácil catalogá-la como feminista, mas seria equivocado. Breillat é uma astuta observadora dos costumes masculinos, e sabe o quanto a mulher representa nesse universo.

sexta-feira, 2 de julho de 2004

Os filmes de Junho. Em itálico, as revisões:

Do Outro Lado da Rua - Marcos Bernstein (Bristol 4) *
Operação Condor - Jackie Chan (DVD) * *
The Singing Detective - Keith Gordon (DVD) * * *
Looney Tunes Back in Action - Joe Dante (DVD) * * *
Pequenos Guerreiros - Joe Dante (DVD) * * * *
Sylvia - Christine Jeffs (DVD) 0
O Galante Rei da Boca - Alessandro Gamo & Luis Rocha Melo (CCBB)* * *
Gremlins - Joe Dante (DVD) * * *
Histórias Mínimas - Carlos Sorin (Belas Artes Niemeyer) *
O Dia Depois de Amanhã - Roland Emmerich (Bristol 6) * *
Gremlins 2 - Joe Dante (DVD) * * * *
Breakdown - Jonathan Mostow (DVD) * *
Gosto de Cereja - Abbas Kiarostami (DVD) * * * *
Um Mundo Perfeito - Clint Eastwood (DVD) * * *
Cazuza - Susana Werneck e Walter Carvalho (Belas Artes Villa Lobos) *
Doze é Demais - Shawn Levy (DVD) *
Rota Suicida - Clint Eastwood (DVD) * * *
Impacto Fulminante - Clint Eastwood (DVD) * *
A Nova Viagem de Simbad - Gordon Hessler (DVD) * *
Ride in the Whirlwind - Monte Hellman (DVD) * * * *
Samba Riachão - Jorge Alfredo (Cinesesc) *
Os 1000 Olhos do Dr. Mabuse - Fritz Lang (DVD) * * *
Winter Light - Ingmar Bergman (DVD) * * *
Blackout - Abel Ferrara (DVD) * *
Louca Paixão - Paul Verhoeven (DVD) * * *
Keetje Tippel - Paul Verhoeven (DVD) * * *
Violent City - Sergio Sollima (DVD) * * *
Shrek - Andrew Adamson/Vicky Jenson (DVD) *
The Shooting - Monte Hellman (DVD) * * *
Respiro - Emanuele Crialese (E.Unibanco4) * *
Timeline - Richard Donner (DVD) *
Sobre Meninos e Lobos - Clint Eastwood (DVD) * * * *
Josey Wales, O Fora da Lei - Clint Eastwood (DVD) * * * *
Bajo California, O Limite do Tempo-Carlos Bolado (Cinesesc) * * *
Fúria em Duas Rodas - Joseph Khan (DVD) *
Matadores de Velhinha - Coen Bros (Arteplex 8) *
Harry Potter e o Prisioneiro de Azbakan (Arteplex 4) * *
Homem Aranha - Sam Raimi (DVD) * * *
River's Edge - Tim Hunter (DVD) * *
Distante - André Téchiné (Cinesesc) * *
The Great Silence - Sergio Corbucci (DVD) * * *