sexta-feira, 30 de abril de 2004

Ciclo Fassbinder em maio no CCSP. Raríssimos que pretendo não perder: Cuidado com a Puta Sagrada, O Soldado Americano e Satansbraten. Fora a oportunidade de rever Roleta Chinesa, Veronika Voss e mais alguns.

quinta-feira, 29 de abril de 2004

Bom...revi Christine. Nada mal, mas mostra um Carpenter tateando no escuro, sem saber exatamente se quer ilustrar uma relação de causa e efeito ou apenas realizar um exercício de gênero. No começo ele engana, parece que vai ser bem pior, depois, pela força das imagens, acaba se impondo, apesar de ser menor em sua filmografia.
Conheci um Bresson essencial, Journal d'un Curé de Campagne, triste como o Filipe havia falado. Vi meio sonado, lamento, mas deu pra perceber a força das imagens e das fusões com o diário sendo escrito.
Não costumo me incomodar com previsibilidade, mas a de Em Carne Viva incomoda. Se era pra brincar com o foco daquele jeito (e ficou bonito, não tenho dúvidas) podia deixar o espectador literalmente sem chão, ao contrário do direcionamento pseudo chocante que buscou. O final redime o filme de sua insossa mediocridade.

The Weight of Water (2000) - Kathryn Bigelow * *
Bigelow sempre indecisa entre o psicologismo e o físico. Aqui não é diferente. Dois casais reunidos em um veleiro. Uma mulher faz uma reportagem fotográfica sobre um crime ocorrido numa ilha no final do século 19. As imagens do presente, com uma sensualidade gritante, personagens se comendo com os olhos, vão dando espaço às imagens do crime de fato e o páralelismo começa a ficar bem óbvio, a ponto de o passado tornar o presente menops interessante. Era uma armadilha que Bigelow não conseguiu evitar. Mas seu filme possui momentos de intrigante beleza, não suficientes para torná-lo obrigatório, mas na medida para garantir o interesse. A mão da diretora para construir belas imagens, com significados que vão além das aparências, compensam sua queda pela psicologia de almanaque

terça-feira, 27 de abril de 2004

comentários sobre filmes vistos:

- Revi Kill Bill no tal do Kinoplex, aquele com som THX, supervisionado pelo George Lucas. A projeção é realmente muito boa, a melhor de São Paulo, provavelmente. E o filme só melhora. O que bateu desta vez foi o uso espetacular das músicas, sempre entrando na hora certa, uma experiência sensorial inigualável. O final é especialmente sublime, com a voz de Bill dando um grande gancho pra segunda parte e encerrando-se para a entrada da música. Kill Bill é uma genial brincadeira com os sentidos do espectador. O assobio de Daryl Hannah é de arrepiar.

- Fim de Caso revisto parece mais um oportunismo da alinearidade tão em voga nestes tempos, mas tudo ali tem sua razão de ser. Ora se obedece à memória do narrador, ora a sua leitura do diário da amada. Julianne Moore arrasa, mas Stephen Rea e Ralph Fiennes também. Comentários, pelo pouco que vi, bem interessantes de Neil Jordan.

- Annie Hall cai na revisão. Não me incomodo com auto-indulgência. Acho um sintoma menor na questão da autoria. Seus truques narrativos é que cansam um pouco. São usados durante todo o filme, deixando-o com o ritmo desigual. Falta paixão, também. Como se Allen não estivesse apaixonado por Keaton, fazendo com que todo seu encanto ficasse disfarçado de intelectualismo. Ainda assim, um filme que permanece forte.

- Tinha gravado do Telecine, mas só agora vi Eu, Eu Mesmo e Irene, dos irmãos Farrelly. É bem irregular, com um casal que nem sempre funciona. em alguns momentos, carrey carrega o filme sozinho. Mas tem seus momentos, principalmente no sempre delicado tema da deficiência física. Só os irmãos conseguem trabalhar no limite do desrespeito sendo muito respeitosos.

- Meu primeiro contato com a carreira de Jesus Franco, Faceless (assinando Jess Franco) foi catastrófico. O filme não se sustenta nem mesmo como influência (confessa ou não?) de A Outra Face. Bom, o que poderia ser interessante, a troca de rosto, torna-se mero fetiche sádico. Como ele tem uma enormidade de filmes, claro que devo dar novas chances, apesar de tamanha frustração.

Devo rever Christine por esses dias. E conhecer mais um Bresson.

segunda-feira, 26 de abril de 2004

O HaloScan está completamente maluco. Nos posts mais antigos, mesmo que tenham comentários, aparece indicado que não tem. Reparei que isso só acontece nos antigos, mas não tenho idéia do que fazer. Será que preciso de um upgrade? Alguem tem uma idéia de como resolver o problema?

sexta-feira, 23 de abril de 2004

Picaretagem da grossa: top 10 Rohmer (em homenagem ao belíssimo Conto de Outono que fechou ontem a mostra dos melhores do ano no CineSesc.

1) Minha Noite Com Ela
2) O Raio Verde
3) Conto de Outono
4) Marquise D'O
5) O Joelho de Claire
6) Pauline na Praia
7) Conto de Verão
8) A Mulher do Aviador
9) A Colecionadora
10) A Árvore, o Prefeito e a Mediateca

Revi trechos de Encontros e Desencontros em DVD. Fenomenal. Extras muito interessantes na versão americana, espero que aqui também saia assim, com conversas entre Bill Murray e Sofia e um diário das filmagens. Sofia é tímida, dá instruções à equipe e elenco com um sorriso meio amarelado, como se estivesse claramente em desconforto com a situação. Tem uma beleza misteriosa e cativante. Vendo o diário, cada vez mais me parece equivocada a acusaçao de preconceito contra os orientais. Revi os vinte minutos finais, de chorar. Talvez eu encare a péssima sala do Bristol para revê-lo mais uma vez em cinema.

quinta-feira, 22 de abril de 2004

O Quarto Homem (1983) - Paul Verhoeven * * * *
Verhoeven sempre buscou o limite das situações, seus filmes revelam um cineasta afrontador, sem medo de desagradar seu público. Às vezes erra feio, como em Homem Sem Sombra e Showgirls. Quando acerta, faz pérolas como Tropas Estelares (com o mesmo princípio de Showgirls, só que muito melhor realizado) e O Vingador do Futuro. O Quarto Homem é seu melhor filme. Onirismo perturbador e transgressivo. Uma seqüência provocativa e muito bem filmada: o escritor entra na igreja mas vê, no lugar da estátua de Jesus, pregado na cruz, seu objeto de desejo, Herman. Interessante como Verhoeven faz muito pouco para fugir do que o público quer. Na Holanda, fazia filmes bem ao gosto do público de lá, a julgar pelo que chega em festivais internacionais. Nos EUA, faz filmes mais arriscados, com polêmica calculada, ao mesmo tempo em que tira o maior barato de sua própria platéia. O Quarto Homem parece estar dentro desse formato de filme para festivais, o que pode decepcionar numa visão desatenta. Mas seu poder de mexer com o espectador coloca-o numa seara muito menos deglutível, pois é assustadora e enigmática. Verhoeven só explica o necessario para a trama, como na cena dos maridos cremados, mas o que pode parecer didático é na verdade muito mais desnorteador, assim como as feições das mulheres que rodeiam o escritor.

terça-feira, 20 de abril de 2004

Vi o Psicose do Gus Van Sant somente ontem. Impressionante ler as críticas dos outrora jovens Eduardo Valente e Ruy Gardnier na época do lançamento do filme. Tendo a concordar com os dois, apesar de serem antagônicos e de saber que os textos seriam muito melhores se escritos hoje. Eu não revi o filme original, mas a impressão que deu é que Van Sant não respeitou tanto assim a intenção de se recriar o filme plano a plano. Mas é curioso como a fidelidade ao clássico pode colocar o espectador na parede.
- Não gostei do novo. É igual ao antigo...
- Então você também não gosta do antigo?
- Não é bem assim...bom...por outro lado...

Diálogo com liberdades intencionais e de fundo muito mais provocativo do que reflexivo. Mas pertinente. Desde aquela época, provavelmente antes com o mal sucedido Até as Vaqueiras..., Van Sant procurava colocar a platéia contra a parede de seus próprios preconceitos. Provocá-la de uma forma eloqüente e perigosa, pois pode ser confundida com oportunismo, o que não deixa de ser, num certo sentido.
Mas não um oportunismo à lá Oliver Stone, e sim o desejo de se tornar parte de uma reflexão ainda atualíssima (principalmente por causa da onda de remakes que assolou o cinema americano à partir dos anos 90). Elefante parece o mais bem acabado exercício em confrontar o público, mas cada vez fica mais claro que Van Sant já procurava isso há muito tempo. E as nuvens, inseridas nos assassinatos, estabelece uma ligação interessante com sua filmografia, quase toda voltada para os céus nebulosos. A transcendência dos significados como busca, não como explicação.

Golpe Fulminante (1998) - Tsui Hark *
Guilherme e Chiko que me perdoem, mas este é bem inferior ao A Colônia. Percebe-se que hark leva as cenas de ação ao limite. A câmera ousa como nunca, passando por canos de armas, entrando no tênis, voando com as balas. O que poderia ser irônico, torna-se auto-indulgente. Tsui Hark maneirista entregando exatamente o que seus admiradores queriam. Não há riscos, nem ambiguidade. Tentativa errada assim como a de John Woo em O Alvo, filme que tem uma enormidade de admiradores, mas é o mais fraco de Woo, que ainda não tinha encontrado a dose certa de ironia e crítica. É só ver A Outra Face e comparar. Voltando a Tsui Hark, impressionante como as cenas de ação são esvaziadas pela falta de interesse do diretor. Parece mais uma tentativa burocrática de repetir a parceria com Van Damme.

A Janela Secreta (2004) - David Koepp *
Filme demasiadamente óbvio e previsível, o que não é sua ruína. O problema é construí-lo buscando surpreender o espectador e deixar tudo tão mastigado que é praticamente impossível não se esperar desfecho semelhante. Depp está bem, mas seu personagem inspira piedade, propositadamente. Só que Koepp não é feliz na busca por um suspense cheio de humor, o que é diferente do suspense cômico que tanto foi feito - aqui, não são os clichês do gênero que são trabalhados numa chave cômica, e sim os momentos de alívio de tensão. Poderia ter dado certo, mas Koepp deveria ter escolhido entre o escracho total e a atmosfera lúgubre. No meio do caminho o filme simplesmente não funciona.

sábado, 17 de abril de 2004

Vampyres (1974) - Joseph Larraz * * *
Cortesia involuntária de Filipe Furtado. Vi em VHS, tirado do DVD da Anchor Bay. Um brilhante estudo de atmosfera do diretor espanhol José Ramón Larraz. É um filme bastardo, afilhado de vários outros (Vampiros Lesbos parece ser o mais óbvio), mas muito talentoso. Repare que pouco é explicado, mas entende-se perfeitamente o amor da vampira lésbica pelo amante que lhe deu carona. Outros generosos são sugados durante o filme, mas dele elas só tiram sangue o suficiente para deixá-lo sem forças. Larraz usa muito bem a fotografia e a trilha com toques de Argento. É um filme cheio de tesão, com duas belas vampiras, e cenas bem quentes de sexo. Nunca a associação de vampirismo com sexo foi tão óbvia, mas Larraz conduz tudo com muita paixão. Difícil ficar indiferente. Ainda mais com um final que tem um casal de idosos vibrando com a possibilidade de encontrar fantasmas na mansão que estão prestes a adquirir.

Os Intocáveis (1987) - Brian DePalma * * * *
Visto em 1987, Os Intocáveis me pareceu um filme redondinho sobre gangsters e Chicago durante a Lei Seca. Eliott Ness me pareceu um herói americano, fiel ao do seriado, incorruptível e inteligente. Revisto nesses dias, percebe-se que o filme resume-se a uma palavra: Ironia. DePalma faz dele um otário, mas durante o filme ele vai aprendendo a ser esperto, malandro o suficiente para prender Al Capone. À seu bom mocismo ingênuo (e De Palma usa muito bem o Kostner nesse papel) ele incorporaria a astúcia e inteligência de Malone (Sean Connery), a energia de Stone (Andy Garcia) e a meticulosidade de Wallace (Charles Martin Smith). Mas a ironia maior vem com o tratamento dado ao fil,me, sempre beirando o cômico, com um tratamento curioso dado à imprensa e aos capangas de Al Capone. Até um assassino vestido de terno branco existe no filme. Mesmo a trilha de Morricone é usada para ironizar o "fazer um filme de época". Com 20 minutos de filme, entra o tema dos Intocáveis, com uma bateria bem anos 80 marcando a linha melódica. É como se o filme lembrasse o tempo todo que é produto dos 80s. Sem contar que De Palma usa seu talento para ludibriar, desta vez, os personagens, como na cena em que Connery dispara na boca de um morto para fazer outro falar. Tudo é caricato, propositadamente. É Chicago, diz Ness. O sentimentalismo do final, não chega a atrapalhar, pois prepara o terreno para a piada final de Ness, transformado em malandro: "eu tomaria um trago", responde ao reporter/espectador. Um filme muito mais safado do que parece.

sexta-feira, 16 de abril de 2004

post só pra mudar os links, porque o RD avisou que todos os blogspots estão com problemas se colocar o www.
bom...vi Onde Anda Você. Não é o filme mais nocivo do mundo, mas é conformista e covarde. Tem algumas boas cenas, mas não sai da bola preta pela incompetência de Sérgio Rezende, que não tem idéia de quanto deve durar uma cena.

quinta-feira, 15 de abril de 2004

algumas coisas:

- Elefante melhora ainda mais com a revisão. Sala Arteplex 9 cheia, pessoas barulhentas no início do filme calam-se com menos de dez minutos de projeção. No final, várias delas perplexas, tentando entender o filme, a vida, a pipoca...sei lá.

- Edição nova da Contracampo no ar. Todos os textos sobre Elefante estão muito bons. Ainda não li tudo, dia meio infernal, com ida ao médico e complicações menores na loja, mas pretendo devorar a edição que promete ser das melhores da história da revista.

- Entrevista com John Landis no DVD de Um Lobisomem Americano em Londres: nada demais, a não ser que Landis está muito parecido com Leonard Maltin. Perigo. Perigo. Ele jura que não queria fazer comédia, que queria algo muito assustador. Conseguiu fazer as duas coisas. O "behind the scenes" é muito bom, com Landis dublê sendo reprovado pela equipe.

- Dois amigos mezzo-cinéfilos/mezzo picaretas gostaram de Onde Anda Você, filme que anda causando náuseas na Contracampo. Um deles ainda disse que é um filmaço, mesmo com suas falhas. Bom...a disparidade grande que existe entre minhas preferências e as deles me fazem ir com o pé atrás. por outro lado, sempre tenho boa vontade com filmes brasileiros, desde que não sejam realizados por boçais. Rezende, de quem só gosto, e moderadamente, de O Homem da Capa Preta, ainda não entrou nessa categoria. Devo ver hoje.

- Blog novo no ar. Os Cinéfilos conta com Bruno Moura e Thiago Sardenberg. Um grande mérito parece ser a constante divergência entre os cinéfilos escritores. Proposta interessante que deve ser frequentada.

- Medo de ver Benjamin, um dos poucos livros que não consegui ler inteiro, de um dos maiores artistas populares de todos os mundos e tempos, Chico Buarque. De Monique Gardenberg não espera muito, pra quem viu Jenipapo. Mas devo ver...

- Sinuca vai, sinuca vem, e o Beto continua sendo um pato. Quero um adversário de respeito. Coisa mais sem graça. E nem jogo muito bem. Mas a atual onda de jogatinas no pano verde me faz lembrar A Cor do Dinheiro (que acho um pouco superior a Desafio à Corrupção, que pretendo rever para reparar possíveis injustiças). Lembro de Forest Whitaker, fantástico, se fingindo de bobo para ganhar grana de Eddie Felson/Paul Newman. Lembro do balé da câmera em cima da mesa. E de Eddie encerrando o filme com "I'm back".

quarta-feira, 14 de abril de 2004

O Sentido da Vida (1983) - Terry Jones *
Eu adorava esse filme, apesar de já considerá-lo o menos bom do Monty Python. Revendo em duas etapas, por causa do sono, ele caiu bastante. Tem bons momentos como o do hospital, com a maquininha que faz "ping", e o do balofão do restaurante, momento escatológico como nunca visto nos filmes da trupe. Mas tem um certo ideologismo de calouro de faculdade, meio óbvio e calcado em expressões de cartilha comunista. Deve ser reflexo do conservadorismo de Margaret Thatcher. Pena, pois prejudica o humor outrora anarquista do grupo. Os planos estão mais elaborados. Nota-se um progresso na colocação da câmera, o que não adianta nada pois o timming deles diminuiu consideravelmente. Fiquemos com A Vida de Brian.

terça-feira, 13 de abril de 2004

Corta-se o excesso, fica a essência do cinema. Mas essa essência é dilatada ao exagero. O paroxismo levado à condição de arte reverente. Paroxismo e paradoxo, pois ao mesmo tempo em que evita-se o excesso, pega-se a essência e transforma em excesso. Complicado? Kill Bill Vol.1 é isso e muito mais. O filme de Tarantino mais ligado às suas referências. Como se quisesse romper os estágios que o levavam aos seus filmes anteriores. Em Jackie Brown, sua melhor obra antes da revolução, o movimento foi inverso. Autor inquieto e diabólico, sabe que seu cinema é feito de paixão e liquidificador. Tenta entender os filmes que vê, através de seus próprios filmes. Ou eu fiquei chapado pela torrente de amarelo-vermelho. Na saída, Guilherme Martins parecia tão chapado quanto eu. Com pressa trabalhista, não pude verificar as impressões de Paulo Santos Lima e Cleber Eduardo. Tarantino virou grande cinema. E cinema de moleque. Frases não subordinadas.

segunda-feira, 12 de abril de 2004

Bom...não tenho visto filmes. O último foi Duplex (com crítica na Contracampo), belo exercício no humor negro de Danny DeVito. Mas queria registrar a espinafrada, trucidada, esmigalhada que Robert Altman levou do Bruno Andrade.
Acho que Altman é geralmente incompreendido, tido como arrogante, observador de cima, etc.etc. Mas seus filmes não pretendem zombar dos personagens, mas sim observá-los. E ainda que ele use alguns deles para desforrar traumas pessoais, notadamente em Short Cuts (mas nem acho isso o demérito do filme), mas também em Cerimônia de Casamento, há sempre algo de rico em sua observação, que faz com que seu cinema não perca em interesse. Uma observação aguda da vida burguesa, muito influenciada por Luis Buñuel. Não o admiro como cineasta, mas acompanho sua carreira com boa vontade, pois gosto da sátira, e de como ela não tem compromisso com os personagens, se são humanos ou não. Altman deve ser sempre visto sob o ângulo satírico. Isso dito, gosto de:
Brewster McCloud
Mash (ainda que com muitas reservas)
Jogos e Trapaças (um dos poucos que fogem da veia satírica, e que por isso mesmo exibem personagens mais humanos)
Renegados Até a Última Rajada (seu melhor filme)
Cerimônia de Casamento
O Jogador
Dr. T e as Mulheres

Ficam no incômodo patamar luscofusquiano (ou meiaboquiano):

Três Mulheres
Quinteto
Um Casal Perfeito
Popeye
Vincent and Theo
Short Cuts
A Fortuna de Cookie
Gosford park

E na fogueira do lixo cinematográfico:

No Assombroso mundo da Lua
O.C. and Stiggs
Prét-à-Porter

Os outros eu não vi, lamento.

quinta-feira, 8 de abril de 2004

Novos links adicionados. É meio como o RD falou, pra ficar mais fácil a navegação de quem entrar aqui, eu incluso. São blogs que costumo visitar, todos recomendados. Menos o do Filipe que anda falando mal de Truffaut. OK...brincadeira, viu?

Killer's Kiss (1955) - Stanley Kubrick * * *
Esqueça a trama e deleite-se com as texturas buscadas por Kubrick neste filme tão esquisito quanto obrigatório. Difícil comprar o drama do boxeador, apaixonado por uma dançarina (a péssima Laura Kane) que sofre nas mãos do patrão (o pior ainda Frank Silvera). Bom...se atores são ruins e a história é um fiapo grotesco de filme noir, sobra a constante procura de Kubrick pela perfeição nos enquadramentos e movimentos de câmera. A notar as descidas das escadas do prédio, e as cenas voyeurísticas do boxeador espiando a dançarina que mora no prédio do lado. De janela pra janela, Kubrick consegue uma textura sem igual, provando seu talento de metteur-en-scène (expressão francesa que valoriza encenação e colocação e movimentação de câmera, com ou sem prejuízo da direção de atores, habilidade que visivelmente Kubrick ainda não possuía). Por esses momentos, e por conseguir um estranhamento incomum no cinema americano da época (lembrei-me de Dementia, de John Parker), este filme deve ser visto e revisto.

quarta-feira, 7 de abril de 2004

do Festival É Tudo Verdade, só consegui ver dois filmes do Jean Rouch. Jaguar é sensacional, mas dormi uns bons quinze minutos. A Pirâmide Humana está entre o que de melhor o cinema já fez. Uma situação forjada é documentada, virando ficção, mas que depois se assume como documentário. Classificar? Besteira.

segunda-feira, 5 de abril de 2004

http://www.contracampo.he.com.br/criticas/hulk.htm

Na revisão, Hulk continua um filmaço. Algo que pouco se falou (se é que se falou): a necessidade de se lidar com sua raiva, algo intrínseco, mas que é sempre tratado como nocivo. Ang Lee ainda aproveita para homenagear Cabo do Medo, com Nolte desta vez sendo visto pela perciana, desaparecendo segundos depois.

Duas vertentes do cinema em A Luz é para Todos. Visão Kazan de cinema: a mulher diz que está satisfeita com sua condição de não-judia, mas que isso não a tornava anti-semita. Visão Zanuck: a mesma mulher, depois de ouvir uma piada preconceituosa contra os judeus, resolve se tornar militante contra o anti-semitismo. Ele não podia deixar sua estrela posar de antipática, mesmo que Kazan tivesse todo o cuidado para torná-la muito mais interessante do que se supunha. Gregory Peck aqui, sim, é um problema. Mas Kazan é um diretor muito mais interessante que Mulligan.

sábado, 3 de abril de 2004

Pensando bem, densidade dramática Vestida para Matar tem de sobra. A contraposição entre a quarentona insatisfeita com o casamento e a prostituta que testemunha o crime é muito interessante, assim como a caracterização do psicanalista. O problema pode estar em uma insegurança na hora de filmar os tempos mortos. Mas aí posso estar viajando. O ideal seria fazer o que tinha me prometido no final do ano passado, rever todos os seus filmes em um curtíssimo espaço de tempo, coisa que nunca pude fazer, obviamente.

Todos sabem que DePalma é um prolífico criador de planos geniais. A câmera subjetiva que vira objetiva e vice-versa, a mudança de ângulo com um elegantíssimo travelling, reflexos e angulações inacreditáveis, câmera lenta como maneira de manipular o tempo (só Hitchcock era tão bom nessa manipulação do tempo)...tudo usado com função muito específica, ora para enredar o espectador, capturá-lo pelo pescoço e não mais largá-lo, ora para sublinhar uma visão de mundo que passa pela percepção de que o olhar nos engana o tempo todo. DePalma parecia desconfiar de seu próprio olhar, mas o que mais queria era jogar com a capacidade de apreensão imagética de quem quer que visse seus filmes. Revendo Vestida para Matar, dá pra ver tudo isso de maneira muito clara, e talvez seja seu filme mais emblemático. Mas são tantos planos geniais, que acabam por soterrar em tédio alguns dos momentos mais calmos (no sentido estilístico) do filme. DePalma percebeu isso, e em vários filmes posteriores cuidou para que os momentos "mortos" não fossem soterrados por sua própria genialidade. Femme Fatale é o mais recente exemplo disso. Como ele conseguiu? Sinceramente, não sei. Mas arrisco: densidade dramática, simples assim. Afinal, seus entraves narrativos (inexistentes na obra-prima Trágica Obsessão) seriam expurgados com Dublê de Corpo.

quinta-feira, 1 de abril de 2004

Os filmes vistos em março. # indica revisão.

I Vampiri (aka The Devil's Commandment)
(Riccardo Freda 1957) (VHS) * *
#Um Lobisomem Americano em Londres
(John Landis 1981) (DVD) * * * *
À ma soeur (Catherine Breillat 2001) (Sala Uol) * *
#Chinatown (Roman Polanski 1974) (DVD) * * * *
#The Wall (Alan Parker 1982) (DVD) 0
Na Companhia do Medo (Mathieu Kassovitz 2003)
(Av.Center 3 - Maringá) 0
Pânico na Floresta (Rob Schmidt 2003)
(Av.Center 4 - Maringá) *
Por Um Triz (Carl Franklin 2003) (Catuaí 7- Londrina) *
#Os Bons Companheiros (Martin Scorsese 1990)
(DVD) * * * *
Ligado em Você (Peter & Bobby Farrelly 2003)
(Central Plaza 2) * * *
O Pagamento (John Woo 2003) (Bristol 6) * * *
33 (Kiko Goifman 2003) (Esp. Unibanco 3) 0
#Os Imperdoáveis (Clint Eastwood 1992) (DVD) * * * *
Cinzas da Guerra (Tim Blake Nelson 2002) (DVD) *
#Os Amantes (Vicente Aranda 1991) (VHS) *
Noites de Lua Cheia (Eric Rohmer 1984) (Top Cine 1) * *
A Vingança de Ulzana (Robert Aldrich 1972) (DVD) * * *
Gangues do Gueto (Abel Ferrara 2001) (DVD) * * *
Hitler 3º Mundo (José Agripino de Paula 1968) (CCSP) * * *
Jardim de Guerra (Neville D'Almeida 1968) (CCSP) 0
A Colônia (Tsui Hark 1997) (DVD) * *
#Alcatraz, Fuga Impossível (Don Siegel 1979) (DVD) * * *
#O Inquilino (Roman Polanski 1976) (Cinesesc) * * * *
#Tess (Roman Polanski 1979) (Cinesesc) * *
#Fuga de Nova York (John Carpenter 1981) (DVD) * * *
#O Último Portal (Roman Polanski 1999) (Cinesesc) * * *
#Armadilha do Destino (Roman Polanski 1966)
(Cinesesc) * * *
Na Captura dos Friedmans (Andrew Jarecki 2003)
(Arteplex 7) *
#A Outra Face (John Woo 1997) (DVD) * * * *
A Filha do Chefe (David Zucker 2003) (DVD) 0
Sob a Névoa da Guerra (Errol Morris 2003)
(Arteplex 9) * * *
1,99 - Um Supermercado que Vende Palavras
(Marcelo Masagão 2003) (Arteplex 6) 0
O Sol é Para Todos (Robert Mulligan 1962)
(DVD) * *

O Sol é para Todos (1962) - Robert Mulligan * *
Um Mulligan digno, mas limitado como sempre. Espera-se muito das premissas que o filme desenvolve modestamente. Esse tom adocicado e suave, embora por vezes seco (como na seqüência do julgamento) é explicado pelo ponto de vista adotado, o de uma menina de seis anos. O que explica também o tom austero do tribunal. Com a adoção desse ponto de vista, Mulligan tinha um grande trunfo nas mãos, que não soube explorar plenamente. Falta fantasia ao filme, algo presente no imaginário de qualquer criança. O personagem Boo Radley, o jovem com deficiência mental, contribui para um clima de mistério juvenil, mas Mulligan pouco aproveita dele além da batida dicotomia aparência feia/coração mole. Seria o toque mágico que faltava, mas o filme limita-se a descrevê-lo como um jovem raivoso de dois metros de altura. Mesmo a caixinha de presentes dados por ele às crianças é mal aproveitada (apesar de abrir o filme). Os bons momentos do filme acontecem por conta do elenco infantil, primoroso, e da visão do pai como um grande herói em todos os assuntos. Além da brilhante performance de Gregory peck, claro.

Programa do Jô Soares, Coca-cola sem gelo e sem gas, filas na Pinacoteca, bolas numeradas em vez de bola sete, uma noite na cadeia, filmes do Larry Clark...depois de 1,99 - Um Supermercado que Vende Palavras, deve ser revisto o significado da palavra ruindade.